domingo, 25 de novembro de 2012


palavras de José Saramago, in 'Canarias7 (1994):

"Se o homem não for capaz de organizar a economia mundial de forma a satisfazer as necessidades de uma humanidade que está a morrer de fome e de tudo, que humanidade é esta? Nós, que enchemos a boca com a palavra humanidade, acho que ainda não chegámos a isso, não somos seres humanos. Talvez cheguemos um dia a sê-lo, mas não somos, falta-nos mesmo muito. Temos aí o espectáculo do mundo e é uma coisa arrepiante. Vivemos ao lado de tudo o que é negativo como se não tivesse qualquer importância, a banalização do horror, a banalização da violência, da morte, sobretudo se for a morte dos outros, claro. Tanto nos faz que esteja a morrer gente em Sarajevo, e também não devemos falar desta cidade, porque o mundo é um imenso Sarajevo. E enquanto a consciência das pessoas não despertar isto continuará igual. Porque muito do que se faz, faz-se para nos manter a todos na abulia, na carência de vontade, para diminuir a nossa capacidade de intervenção cívica. "

e assim vamos, em nossos mínimos dias, produzindo consumo sem o sumo da vida para o sustento de uma 'vida capital', vida sem sujeito!

Dia contra a violência doméstica



Na selva do Alto Paraná, as borboletas mais lindas se salvam se exibindo. Abrem suas asas negras, alegradas por pinceladas vermelhas ou amarelas, e de flor em flor borboleteiam sem a menor preocupação. Depois de milhares e milhares de anos de experiências, seus inimigos aprenderam que essas borboletas tem veneno. As aranhas, as vespas, as lagartixas, as moscas e os morcegos olham de longe, mantendo prudente distância.
No dia 25 de novembro de 1960, três militantes contra a ditadura do generalíssimo Trujillo foram espancadas e atiradas num abismo da República Dominicana. Eram as irmãs Mirabal. Eram as mais lindas, eram chamadas de borboletas.
Em sua memória, em memória de sua beleza indevorável, hoje é o Dia Mundial contra a Violência Doméstica. Ou seja: contra a violência dos trujilinhos que exercer a ditadura dentro de cada casa.

 Galeano - 25 de novembro