domingo, 16 de abril de 2017

"numa sociedade capitalista, somos todos capitalistas, porém, há aqueles que compreendem que o capitalismo não necessariamente conduza ao lucro exorbitante a partir da exploração do trabalho alheio e que, portanto, a humanidade é mais valiosa do que o lucro financeiro"

( Ricardo Pozzo )
Não costumo falar de religião aqui no Facebook, mas nessa semana presenciei um diálogo inusitado na mesa ao lado à minha no almoço. Dizia um dos rapazes: "as pessoas interpretam mal o Diabo, ele é um cara bom". Fiquei atento aos argumentos. "Os bandidos não merecem morrer?", indagava aos colegas, que balançavam suas cabeças positivamente. "Então, o que precisa ser feito com o bandido depois da morte?". Pausou por alguns instantes para que os demais refletissem, e concluiu: "o Diabo apenas tortura essas pessoas ruins, enquanto Deus recebe as pessoas boas. Cada um faz seu papel". Bom, claro que política e religião se confundem: a ideia do justiçamento ou a tortura se tornaram desejáveis para as pessoas como forma de "punir os maus", na vida e, nesse caso, até mesmo na eternidade. Claro que não há nada mais contraditório à trajetória atribuída ao Jesus Cristo do que essa sociedade da intolerância e violência. Por isso, em tempos sombrios como o que vivemos, quem começa a se tornar referência é, de fato, o Diabo.

ACBM

A Odebrecht doou dinheiro à campanha da Dilma, mas também doou ao Aécio

A Odebrecht doou dinheiro à campanha da Dilma, mas também doou ao Aécio e, até mesmo, ao Everaldo (R$ 6 milhões, conforme a delação do executivo Fernando Reis, para que o pastor ajudasse o candidato tucano nos debates). O que faz, no entanto, somente as doações ao PT serem corrupção e as demais caixa 2? O próprio Marcelo Odebrecht disse em sua delação que os dirigentes do PT nunca lhe pediram propina para campanhas diretamente. Ou seja, em nenhum momento condicionaram a adoção de uma política de governo ou a realização de um negócio do poder público com sua empresa ao pagamento de um determinado valor. Segundo o empresário, havia apenas uma "expectativa" de alguns dirigentes do partido em receber doações eleitorais quando a empresa se beneficiava com algumas medidas do governo, o que, convenhamos, é algo bem vago. Por exemplo, o Marcelo Odebrecht diz que disponibilizou R$ 50 milhões para as campanhas do PT, a pedido do Palocci, logo após o governo aprovar as desonerações fiscais a dezenas de ramos da indústria, incluindo o petroquímico, beneficiando a Braskem. A desoneração, no entanto, não foi à Braskem, como denuncia a Veja, Isto É e os demais panfletos da direita, mas à milhares de empresas de vários ramos. Independente se a Odebrecht doasse dinheiro às campanhas do PT ou não, a política seria adotada pelo governo Dilma da mesma forma (concordemos ou não com o seu conteúdo). Assim, se me incomoda muito ver que alguns dirigentes do PT se relacionaram com os Odebrecht e outros empresários como parceiros de confiança - até porque estavam integrados ao seu sistema de financiamento eleitoral -, me revolta assistir ao espetáculo que a Lava Jato tem feito para transformar a relação promiscua entre o público e o privado em um defeito exclusivo do PT. Permitiu-se que a Odebrecht doasse centenas de milhões para as campanhas eleitorais, durante anos e anos, dentro da lei e sob a aprovação dos tribunais eleitorais e de contas, e agora vão condenar o PT por fazer parte do jogo? Permitiu-se que fossem gastos R$ 5,1 bilhões na campanha de 2014, agora querem condenar o PT e seus dirigentes por ousar disputar as eleições com os mesmos métodos de arrecadação utilizados fartamente pelos demais partidos? Vejam, não se trata de tolerar enriquecimento ilícito, através de propina, de um dirigente ou outro, mas de recusar a tese seletiva de que os recursos empresariais arrecadados pelo PT são sujos, quando a prática era legal. Farei uma batalha enorme dentro do PT para que o partido supere essa ilusão na conciliação de classe, que tanto cegou nossos dirigentes, e se torne ilegal, de uma vez por todas, o financiamento empresarial nas eleições. Mas, não há como aceitar a punição criminal seletiva do PT e de seus dirigentes por uma degeneração inerente ao sistema eleitoral e que vigorou como prática legal até 2014. Se essa for a decisão do judiciário, será uma evidente ação política.

ACBM
O filósofo Alain Badiou, 80, disse em entrevista à Folha que a atual situação geopolítica é semelhante a que antecedeu a Primeira Guerra Mundial. "Para ele, a eleição de Donald Trump, nos EUA, é um caso patológico, enquanto o presidente Vladimir Putin, da Rússia, busca vingança pelo desmonte da União Soviética e leva seu país ao mesmo papel da Alemanha em 1914."