A Odebrecht doou dinheiro à campanha da Dilma, mas também
doou ao Aécio e, até mesmo, ao Everaldo (R$ 6 milhões, conforme a delação do
executivo Fernando Reis, para que o pastor ajudasse o candidato tucano nos
debates). O que faz, no entanto, somente as doações ao PT serem corrupção e as
demais caixa 2? O próprio Marcelo Odebrecht disse em sua delação que os
dirigentes do PT nunca lhe pediram propina para campanhas diretamente. Ou seja,
em nenhum momento condicionaram a adoção de uma política de governo ou a
realização de um negócio do poder público com sua empresa ao pagamento de um
determinado valor. Segundo o empresário, havia apenas uma
"expectativa" de alguns dirigentes do partido em receber doações
eleitorais quando a empresa se beneficiava com algumas medidas do governo, o
que, convenhamos, é algo bem vago. Por exemplo, o Marcelo Odebrecht diz que
disponibilizou R$ 50 milhões para as campanhas do PT, a pedido do Palocci, logo
após o governo aprovar as desonerações fiscais a dezenas de ramos da indústria,
incluindo o petroquímico, beneficiando a Braskem. A desoneração, no entanto,
não foi à Braskem, como denuncia a Veja, Isto É e os demais panfletos da
direita, mas à milhares de empresas de vários ramos. Independente se a
Odebrecht doasse dinheiro às campanhas do PT ou não, a política seria adotada
pelo governo Dilma da mesma forma (concordemos ou não com o seu conteúdo).
Assim, se me incomoda muito ver que alguns dirigentes do PT se relacionaram com
os Odebrecht e outros empresários como parceiros de confiança - até porque
estavam integrados ao seu sistema de financiamento eleitoral -, me revolta assistir
ao espetáculo que a Lava Jato tem feito para transformar a relação promiscua
entre o público e o privado em um defeito exclusivo do PT. Permitiu-se que a
Odebrecht doasse centenas de milhões para as campanhas eleitorais, durante anos
e anos, dentro da lei e sob a aprovação dos tribunais eleitorais e de contas, e
agora vão condenar o PT por fazer parte do jogo? Permitiu-se que fossem gastos
R$ 5,1 bilhões na campanha de 2014, agora querem condenar o PT e seus
dirigentes por ousar disputar as eleições com os mesmos métodos de arrecadação
utilizados fartamente pelos demais partidos? Vejam, não se trata de tolerar
enriquecimento ilícito, através de propina, de um dirigente ou outro, mas de
recusar a tese seletiva de que os recursos empresariais arrecadados pelo PT são
sujos, quando a prática era legal. Farei uma batalha enorme dentro do PT para
que o partido supere essa ilusão na conciliação de classe, que tanto cegou
nossos dirigentes, e se torne ilegal, de uma vez por todas, o financiamento
empresarial nas eleições. Mas, não há como aceitar a punição criminal seletiva
do PT e de seus dirigentes por uma degeneração inerente ao sistema eleitoral e
que vigorou como prática legal até 2014. Se essa for a decisão do judiciário,
será uma evidente ação política.
ACBM