terça-feira, 1 de abril de 2014

"O que se pretendia era uma reforma estrutural de caráter capitalista. elas foram, porém, vistas como revolucionárias em razão do caráter retrógrado do capitalismo dependente que se implantou no Brasil sob a regência de descendentes de senhores de escravos e testas-de-ferro de interesses estrangeiros. o apoio popular a este programa não podia ser mais entusiástico. nem mais fanática a oposição a ele por parte dos latifundiários e agentes dos interesses estrangeiros. unidos eles montaram a maior campanha publicitária que se viu no país, para convencer as classes médias que o governo marchava para o comunismo"


Darcy Ribeiro
"A poesia é o instrumento mais generoso para eliminar a solidão, a indiferença, o desencanto, o cinismo e a discriminação.
A solidão vale como espaço para refletir em profundidade sobre nosso destino comum e a ausência de solidariedade que deseqüilibra o sistema social, acentua privilégios e exclusões. Se o poema, muitas vezes, amadurece sem terras, em solidão, sua existência (resistência) se justifica para lembrar que o ser humano mais uma vez não é ilha, mas partilha."

- Lindolf Bell de Timbó, Santa Catarina

Emigração 71


A mulher de um marinheiro trucidado conta ao pai de uma menina presa, aguardando julgamento, a depressão nervosa de um amigo comum, deputado federal, que agora vive no Chile. Será que o Allende vai dar certo... As chicrinhas vão pela sala, de mão em mão, há uma bandeja de bolo e outra de doce de leite. Lá fora, imensa e silenciosa, a dança fantástica do outono incendeia a tarde fria. O garoto brincando no tapete já nasceu em Paris. Aqui e ali o murmúrio é interrompido por uma expressão mais nortista. Um menino loiro, que participou no rapto dalgum embaixador, pede açúcar para pôr no chá. Na vitrola, Caetano canta a sua versão da Asa Branca. Todos ficam quietos.

roberto schwarz, em 26 poetas hoje (org. de Heloísa Buarque de Hollanda)