A mulher de um marinheiro trucidado conta ao pai de uma
menina presa, aguardando julgamento, a depressão nervosa de um amigo comum,
deputado federal, que agora vive no Chile. Será que o Allende vai dar certo...
As chicrinhas vão pela sala, de mão em mão, há uma bandeja de bolo e outra de
doce de leite. Lá fora, imensa e silenciosa, a dança fantástica do outono
incendeia a tarde fria. O garoto brincando no tapete já nasceu em Paris. Aqui e
ali o murmúrio é interrompido por uma expressão mais nortista. Um menino loiro,
que participou no rapto dalgum embaixador, pede açúcar para pôr no chá. Na
vitrola, Caetano canta a sua versão da Asa Branca. Todos ficam quietos.
roberto schwarz, em 26 poetas hoje (org. de Heloísa Buarque
de Hollanda)
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