domingo, 21 de junho de 2015
Nostalgia
Na casa não é ainda madrugada
E deitada a meu lado a nostalgia
Dorme e recupera suas forças.
Fatiga muito a companhia
De um negro rebelde e romântico.
Tem ela quinze anos ou mil anos
Ou apenas acaba de nascer
E é o seu primeiro sono
Sob o mesmo teto que meu coração.
Há quinze anos ou há muitos séculos
Levanto-me sem poder falar
O idioma do meu povo,
Sem o bom-dia de seus deuses pagãos
Sem o sabor de seu pão de mandioca
Sem o cheiro do seu café da manhã.
Acordo distante de minhas raízes,
Longe da infância,
Longe da minha própria vida.
Há quinze anos ou desde que meu sangue
Atravessou, chorando, o mar
A primeira vida que saúdo ao despertar
É esta desconhecida de fronte tão pura
Que um dia será cega
À força de usar seus olhos verdes
A contar os tesouros que perdi.
Nostalgia
Alegoria dos Cegos – Brueghel
Na casa não é ainda madrugada
E deitada a meu lado a nostalgia
Dorme e recupera suas forças.
Fatiga muito a companhia
De um negro rebelde e romântico.
Tem ela quinze anos ou mil anos
Ou apenas acaba de nascer
E é o seu primeiro sono
Sob o mesmo teto que meu coração.
Há quinze anos ou há muitos séculos
Levanto-me sem poder falar
O idioma do meu povo,
Sem o bom-dia de seus deuses pagãos
Sem o sabor de seu pão de mandioca
Sem o cheiro do seu café da manhã.
Acordo distante de minhas raízes,
Longe da infância,
Longe da minha própria vida.
Há quinze anos ou desde que meu sangue
Atravessou, chorando, o mar
A primeira vida que saúdo ao despertar
É esta desconhecida de fronte tão pura
Que um dia será cega
À força de usar seus olhos verdes
A contar os tesouros que perdi.
René Depestre - Poeta haitiano - Do livro “Jornal de um
animal marinho”, 1964 - Poeta haitiano - Do livro “Jornal de um
animal marinho”, 1964
Tradução de Idelma Ribeiro de Faria (Editora Hucitec)
En MONCADA
Publicado el 14 Enero 2012
Yo tenía doce años
cuando el asalto al Moncada, dieciséis cuando el desembarco del Granma,
dieciocho cuando los guerrilleros entraron, victoriosos, en La Habana. Los
hombres de mi generación hemos tenido la suerte de coincidir, en el tiempo, con
la Revolución Cubana. Desde temprano se nos mezcló en la vida y se nos metió en
el alma. Junto a muchos millones de hombres, celebro esta revolución como si
fuera mía.
Ella me ha transmitido fuerzas cuando me he sentido caer. Me
ha contagiado energía, día tras día, año tras año, a lo largo del proceso que
la puso a salvo de la derrota o la traición. Cuba rompió en pedazos la estructura
de la injusticia y confirmó que la explotación de unas clases sociales por
otras y de unos países por otros no es el resultado de una tendencia “natural”
de la condición humana ni está implícita en la armonía del universo. Muchas
murallas se ha llevado por delante este viento de buena furia popular.
La colonia se hizo patria y los trabajadores, dueños de su
destino. La mujer dejó de ser una pasiva ciudadana de segunda clase. Se acabó
el desarrollo desigual que en toda América Latina castiga al campo a la par que
hincha a unas pocas ciudades babilónicas y parasitarias. Se borró la frontera
que separa el trabajo intelectual del trabajo manual, resultado de las
tradicionales mutilaciones que nos reducen a una sola dimensión y nos fracturan
la conciencia.
No ha resultado ningún paseo esta hazaña, ni ha sido lineal
el camino. Cuando son verdaderas, las revoluciones se hacen en las condiciones
posibles. En un mundo que no admite arcas de Noé, Cuba ha creado una sociedad
solidaria a un paso del centro del sistema enemigo. En todo este tiempo, yo he
amado mucho a esta revolución. Y no solo en sus aciertos, lo que resultaría
fácil, sino también en sus tropezones y en sus contradicciones.
También en sus errores me reconozco: este proceso ha sido
realizado por sencillas gentes de carne y hueso, y no por héroes de bronce ni
máquinas infalibles.La Revolución Cubana me ha proporcionado una incesante
fuente de esperanza. Ahí están, más poderosas que toda duda o reparo, esas
nuevas generaciones educadas para la participación y no para el egoísmo, para
la creación y no para el consumo, para la solidaridad y no para la competencia.
Y ahí está, más fuerte que cualquier desaliento, la prueba viva de que la lucha
por la dignidad del hombre no es una pasión inútil, y la demostración, palpable
y cotidiana, de que el mundo nuevo puede ser construido en la realidad y no
solo en la imaginación de los profetas.
Eduardo Galeano
Revista Casa de las Américas (No. 111, nov.-dic. de 1978,
pp. 104-105)
Песня на стихи Владимира Раменского
Далеко-далеко журавли полетели,
Оставляя поля, где бушуют метели.
Далеко-далеко журавлям полететь нет уж мочи,
И спустились они на поляну в лесу среди ночи.
А наутро снялись и на юг полетели далекий,
Лишь остался один на поляне бродить одинокий.
Он кричал им вослед: "Помогите, пожалуйста, братцы,
Больше сил моих нет, нет уж мочи на воздух подняться!".
Опустились они, помогая усталому братцу,
Хоть и знали о том, что до цели труднее добраться.
И опять поднялась журавлей быстрокрылая стая...
Они братца того прихватили с собой, улетая.
Вот и в жизни порой, отставая от стаи крылатой,
Хоть и знаем о том, что законы о дружбе все святы.
Но, бывает, судьба начинает шутить, насмехаться,
И друзья обойдут, и никто не поможет подняться.
Далеко-далеко журавли полетели,
Оставляя поля, где бушуют метели.
Далеко-далеко журавлям полететь нет уж мочи,
И спустились они на поляну в лесу среди ночи!
Аркадий Северный – Журавли
Аркадий Северный концерт с анс. "Чайка" п/у Бориса
Циммера, Ленинград, 8 декабря 1977 года
O salão e a selva
Oswald de Andrade
"(...)O advogado é um bicho útil às cavilações das
portentades e à vontade dos fortes.Admito que, no Brasil, a função proba do
advogado tenha surgido talvez com o movimento de libertação dos escravos negros
ou com a propaganda republicana . Mas até hoje conservo a ideia exata de que o
advogado, ou melhor, o bacharel é sempre um monstro de pequena e especializada
erudição que deixou de servir os interesses do latifundiário porque este deixou
de existir, com imoralíssimas excessões .Mas continua a ser a sentinela do
negócio, pronto a esmagar a vítima que lhe caí nas unhas , sem nenhuma
preocupação de justiça ou de ética.
(...) Guardo ainda hoje a impressão de que o bacharel não
passa de um verme. É uma tênia asquerosa do sistema patriarcal.Vivendo com
todas as bençãos e enrolamentos do deus dos negócios. "
A ESTA TERRA QUE SOFRE
A esta terra que sofre,
Diminuída, mutilada,
À procura de si própria,
Perdida, abandonada.
Mas ouvi, ó portugueses,
Corruptos ou estrangeiros,
Tontos, traidores, burocratas,
Ingénuos, fanatizados,
E vós também, os fiéis
Da verdade da raiz,
Ouvi o que diz o povo,
Ouvi a voz do país.
Portugal somos ainda,
Porque a semente que outrora
Germinou em terra ingrata,
Há-de reviver agora!
Em cada volta do tempo,
De novo começa o mundo.
Juventude, redescobre
O Portugal mais profundo!
(....)
Transviados, cabisbaixos,
Levantai o vosso olhar!
Pátria antiga, que sofreste
Há mais mar, p'ra além do mar!
(...)
António Quadros
POÉTICA CONTRADITÓRIA
Não digas o que sabes nos teus versos,
Deixa para trás a ciência e a consciência;
Tudo aquilo que em ti não for ausência
São ideais perdidos, ou submersos.
Abandona-te às vozes que não ouves,
E liberta os teus deuses nos teus dedos;
Não busques os sorrisos, mas os medos,
E o que não for ignoto e só, não louves.
Ser misterioso e triste, é ser poeta:
Mesmo a luz que palpita nos teus cantos.
É uma imagem heroica dos teus prantos.
Percorre o teu caminho até ao fundo,
E com os versos que achaste, aumenta o mundo.
Não sejas um escritor, mas um profeta.
António Gabriel de Quadros Ferro, conhecido como António
Quadros (Lisboa, 14 de Julho de 1923 — Lisboa, 21 de Março de 1993), filósofo,
escritor, professor universitário e tradutor português.
Escritores russos
Lev Tolstói:
“Quando ouço dizer que em qualquer uma das guerras
rebentadas a culpa é exclusivamente de uma das partes, nunca posso aceitá-lo. É
possível reconhecermos que uma parte aja pior do que outra, mas uma discussão
sobre qual delas age pior nunca será capaz de esclarecer nem a razão mais
superficial de estar acontecendo algo tão horroroso, cruel e desumano como a
guerra. As respectivas causas, três no total, são evidentes para qualquer
pessoa que mantenha os olhos bem abertos: a 1ª
é a distribuição desigual de bens, quando alguns indivíduos roubam os
outros; a 2ª é a existência de militares
que são educados e predestinados para matar; a 3ª é a doutrina religiosa, falsa e, na maior parte
das vezes, conscientemente enganosa, que está sendo impingida às novas gerações.”
(De uma carta para G. Volkonski, datada de 4 de dezembro de
1899)
Tolstói foi um dos maiores pacifistas na história russa. Foi
a participação na guerra que o mudou. Ele esteve na defesa de Sebastopol,
durante a guerra da Crimeia de 1853 e 1856, bem como na campanha militar de
subjugação dos povos do Cáucaso. Graças a sua experiência pessoal, chegou à
negação absoluta de qualquer assassinato e, como consequência, até da Igreja e
do Estado, além de muitos dos institutos sociais existentes naquela altura.
Fiódor Dostoiévski:
“Em certos casos, se não em quase todos, excluindo, talvez,
apenas as guerras civis, qualquer guerra é um processo através do qual
(precisamente com o mínimo derramamento de sangue, a mínima mágoa e os mínimos
esforços) se consegue a paz internacional e são elaborados relacionamentos mais
ou menos normais entre as nações. (…) O que mais está enfurecendo e exasperando
o homem é a paz, sobretudo quando é prolongada, e não a guerra. (…) Uma guerra
provocada por uma causa benévola, pela libertação dos oprimidos, por uma ideia
desinteressada ou santa – uma guerra destas apenas está limpando o ar social,
poluído pelos miasmas acumulados, e cura as almas, acabando com as vergonhosas
covardias e preguiças, dá e esclarece uma ideia, à realização da qual é
destinada uma ou outra nação. Uma guerra destas está fortalecendo todas as
almas com o espírito de autossacrifício, além de o ânimo de toda a nação ser
fortificado através da consciência solidária e a união de todos os cidadãos
integrados numa nação.”
(“Diário de um Escritor”, 1876 – Abril, capítulo 1.º, p.
III: O Sangue Derramado Salva?)
Em 1877, a Rússia declarou guerra à Turquia. Além das razões
políticas, essa guerra tinha uma ideia profunda: na Rússia, foi e é vista como
uma ajuda fraternal aos povos búlgaro e sérvio, subjugados pelos turcos. No ano
anterior à guerra e no primeiro ano da mesma, Dostoiévski publicou artigos de
uma coletânea intitulada “Diário de um Escritor”, em que refletiu muito sobre a
guerra, bem como sobre a política europeia em geral.
Estas obras de Dostoiévski como publicista, de um século e
meio atrás, têm semelhanças impressionantes com as análises políticas que hoje
em dia se encontram na internet: o mesmo ardor, rispidez na apreciação,
inclinação para previsões e prognósticos. Ainda antes do início das ações
bélicas, Dostoiévski falou sobre a possibilidade de uma guerra surgir sem
declaração oficial, com participação de formações voluntárias, o que nos lembra
a situação atual no sudeste da Ucrânia.
Aleksandr Blok:
“Não tenho medo de balas. No entanto, a guerra e tudo
relacionado com ela é uma brutalidade. Foi o que me tentava apanhar desde o
liceu, se manifestando de formas variadas, e, enfim, me apertou a garganta.
Ninguém devia sentir o cheiro de um capote de soldado.”
(O diário, 28 de junho de 1916)
Na fase inicial da Primeira Guerra Mundial, os russos a
encaravam com o entusiasmo, os literatos requintados se alistavam no Exército
ou estavam escrevendo poemas cheios de patriotismo mais sincero. Aleksandr
Blok, representante mais notável do “Século de Prata” da poesia russa, tinha
uma posição à parte, sentindo uma repugnância à guerra, por perceber que ela
sempre levava a uma explosão social. Após a revolução de 1917, o poeta faz
tentativas amarguradas de se adaptar à nova realidade “brutal”, procurando nela
uma fonte saudável e purificante. Os tais esforços o levaram ao extremo
desespero e à morte prematura.
Boris Paternak:
“Deveríamos enaltecer e espiritualizar nossa atualidade,
para darmos mais valor a todos dias que vivemos, para evitarmos desperdiçá-los
ou perdê-los em vão, para a vida se tornar tão atraente, espiritual e cheia de
inspirada beleza que não reste nenhuma vontade devastadora de assassínio ou
suicídio. Não sei nem posso imaginar outro meio de resistirmos à guerra.”
(Cartas, 10º volume)
Durante a época do poder soviético, a propaganda usava o
slogan oficioso de “luta pela paz”. Os escritores destacados participavam
frequentemente das iniciativas organizadas sob este lema. Um escritor podia
exprimir seus pensamentos sobre a guerra, sem ênfase demonstrativa ou floreados
ideológicos obrigatórios, apenas mediante o diário ou a correspondência
particular.
Na citação acima ouvimos entonações tolstoianas, e não é por
acaso. Seu romance “Doutor Jivago”, que contribuiu para Boris Pasternak ganhar
Prêmio Nobel de Literatura, às vezes faz eco a “Guerra e Paz” de Tolstói. Numa
outra carta, encontramos a opinião oposta de Pasternak:
“A guerra exerceu uma ação infinitamente libertadora sobre
meu estado geral, saúde, capacidade de trabalho e percepção de destino”. Em
prol da verdade se diga que Pasternak não participou nem da Primeira, nem da
Segunda Guerra. A sua maneira de encarar a luta armada foi inspirada pelas
emoções e pelo temperamento poético, em vez da experiência própria.
Aleksandr Soljenítsin:
“Nenhuma guerra é solução. A guerra é a morte. O horror da
guerra consiste não no avanço das tropas, nem nos incêndios, nem nos
bombardeios. Antes de mais, a guerra é horrorosa porque entrega tudo que há de
raciocinativo ao poder legal da inépcia (…) Aliás, sem guerra também lá estamos
nós.”
(Romance “O Primeiro Círculo”, 1958)
Soljenítsin, ex-oficial do Exército, mandado para a prisão
da linha de frente da batalha, sendo depois colocado num campo de concentração
estalinista, profere a sentença bem clara contra a guerra em que participa o
Estado totalitário, apesar de se tratar de uma resistência e contraposição ao
agressor: “Qualquer situação bélica serve apenas para justificar uma tirania
interna, fortalecendo-a.”
Todos os anos exterminamos comunidades indígenas, milhares
de hectares de florestas e até inúmeras palavras das nossas línguas. A cada
minuto extinguimos uma espécie de aves e alguém em algum lugar recôndito contempla
pela última vez na Terra uma determinada flor. Konrad Lorenz não se enganou ao
dizer que somos o elo perdido entre o macaco e o ser humano. Somos isso, uma
espécie que gira sem encontrar o seu horizonte, um projeto por concluir.
Falou-se bastante ultimamente do genoma e, ao que parece, a única coisa que nos
distancia na realidade dos animais é a nossa capacidade de esperança.
Produzimos uma cultura de devastação baseada muitas vezes no engano da
superioridade das raças, dos deuses, e sustentada pela desumanidade do poder
econômico. Sempre me pareceu incrível que uma sociedade tão pragmática como a
ocidental tenha deificado coisas abstratas como esse papel chamado dinheiro e
uma cadeia de imagens efêmeras. Devemos fortalecer, como tantas vezes disse, a
tribo da sensibilidade...
José Saramago, in 'Revista Universidad de Antioquia (2001)'
Parece claro que a questão da Palestina não está nem em
defender o Hamas, muito menos o Estado que o governo de Netanyahu representa.
A injustiça que acontece na Palestina acontece por toda
América Latina tendo sido diluída pelo encilhamento histórico ao qual fomos
submetidos.
Quanto maior nossa responsabilidade, ou envolvimento, menos
conseguimos enxergar com clareza a realidade dos fatos.
Eduardo Galeano sugere, por exemplo, que a polícia
brasileira tenha matado em um ano [qualquer], mais do que a repressão na época
da ditadura militar inteira.
Quanto as vítimas que o crime tenha produzido, não me
parecem claras as estatísticas.
De qualquer forma, entre a polícia e o crime, a Faixa de
Gaza continua sendo a população que trata de ganhar a vida produzindo o PIB do
país.
Já a classe política, historicamente, joga para quem oferece
a melhor paga, tendo a hipocrisia como prática ética ideológica diária.
E assim, com grau relevante de morbidez, a população, em
qualquer região deste mundo, muito fácil torna se refém de invisíveis
interesses.
Ricardo Pozzo
‘Lección sobre la lección
Enlace:
https://anonfiles.com/file/f5f9683c8c80ff2924d2a92c1a9a57bd
En esta lección inaugural con ocasión de su ingreso en el
Collége de France, en 1982, Pierre Bourdieu impartió una suerte de metalección
(«lección sobre la lección inaugural de sociología consagrada a la sociología
de la lección inaugural») en la que dejó muy clara su noción de la sociología :
no una ciencia descriptiva de la sociedad, sino una interrogación acerca de la
«violencia simbólica» con que se «trata de imponer la verdad parcial de un
grupo como la verdad de las relaciones objetivas entre los grupos». Así, la
sociología es, ella misma, objeto de su propia labor de investigación: «en la
sociología, tal como yo la concibo, todas las proposiciones que esta ciencia
enuncia pueden y deben aplicarse al sujeto que hace la ciencia» . Para
Bourdieu, el sociólogo es una especie de policía del capital simbólico, que
permanece atento a los engaños que la cultura establecida siempre querrá
imponer; por eso su labor no puede no ser política: se tratará de detectar en
qué momento el racismo, la demagogia o el populismo aparecen en el discurso del
periodista, del ministro, del libro de texto. En este sentido, Bourdieu rinde
homenaje a Marx, «fundador de la sociología del conocimiento», y a Foucault,
quien forma parte de «la gran tradición de epistemología histórica», de la que
también participa Canguilhem. Bourdieu agrega, en esa senda, que «no hay
crítica epistemológica sin crítica social». Un texto que puede ser una
excelente introducción a la obra de Bourdieu y también, para los iniciados, un
documento histórico a la par que un interesante resumen de las ideas esenciales
del autor a mediados de su carrera intelectual.
PIERRE BOURDIEU
Una gota de rocío
deslizándose en la hoja,
a punto de caer, antes
que el sol la desintegre.
Un corpúsculo. Una
transparencia sobre
un fondo verde corriendo
como un río; despeñándose
como una catarata.
Y un arco iris infinitesimal
perdiéndose en la
mañana inmensa.
Nada más he pretendido
del mundo.
Ya estoy hecho.
Gustavo Caso Rosendi
Distâncias
10 de janeiro - Distâncias
O automóvel ia tossindo. E aos trambolhões, empilhados
dentro do automóvel, viajavam alguns músicos. Estavam indo alegrar uma reunião
de camponeses, mas já fazia um bom tempo que andavam perdidos pelos caminhos
ferventes de Santiago del Estero.
Os desorientados não tinham a quem perguntar. Não havia
ninguém, não sobrava ninguém naqueles desertos que tinham sido bosques.
E de repente apareceu, numa nuvem de poeira, uma menina de
bicicleta.
- Falta quanto? - perguntaram a ela.
E ela disse:
- Falta menos.
E foi-se embora na poeira.
Galeano
1 – sou filho da lua nova
de um ventre nasci,
gerado de um amor furtivo
cativo, nativo,
já há mais de quatro décadas existo
vivo, resisto, persisto, sofro,
perco, venço
avanço, recuo
vivo com ternura e ânsia
na dose inexata
busco a amizade da sorte,
ainda temo a morte
vim das bandas de lá,
das terras do bemvirá
das noites de luar
esperanças carrego aos feixes
sou do signo de peixes,
escrevo, desde tenra idade
muito cedo não fui á escola
sou pulso, impulso, pulsão
digo não, com muita emoção
escrevo nas noites, amigo das madrugadas
gosto de cachaça de alambique
das manhas e das manhãs,
primaveras, veras, deveras
canto as alegrias
e os lamentos das coisas fugidias
se estou preso, solidão
se estou solto, paixão
a indignação dos excluídos me domina
vivo agora, nesta hora sou helder molina
(helder molina)
2 – poema sem rima
minha poesia é errante
feito o anjo torto de drummond
minha rima é ausente
tal qual a orelha de van gogh
falo blasfêmias, escarro na boca da burguesia
feito gregório de mattos
e lamentos, feito castro alves
minha poesia é torta,
feito a perna de garrincha
sou contra as formas, as fôrmas, as fórmulas
sou poeta nas horas vagas
poesia de botequim, de paixão nanquim
não publico porque
poesia não tem valor de mercado
não tem cotação na bolsa de valores
não tem estatística de consumo
não tem eira nem beira na correria dos fanáticos
por llucar, explora, somar, ter, e não ser
minha poesia é inútil,
para almas desalmadas.
(helder molina)
3 - andarilho inquieto
quem sou?
um arrimo nascido nas terras do bemvirá,
crescido no cerrado, nas matas
e cachoeiras de lá do mato grosso,
lutador desde adolescente idade,
andarilho, caminheiro das estradas
da juventude rebelde com causa,
trabalhador, socialista,
historiador, formador
sindical,
pai, companheiro,
botafoguense de alma e corpo,
carrego as tralhas do tempo,
as trilhas e as poeiras das ruas,
as marcas dos tantos caminhos,
os vestígios e pegadas do coração,
os guardados da alma,
os arquivos da pele,
as memórias do vivido,
os cantinhos das saudades,
os manuscritos do futuro,
os antiquários do pertencimento,
as marcas do amar,
os registros do sentir,
as experiências da contradição,
a dialética do aprendiz navegante,
a luta contra todas as malditas cercas
que impedem os homens e mulheres
de serem emancipados,
plenos, felizes.
escrevo poesia porque a alma precisa navegar.
helder molina
4 - amar e o mar
se algum poder tivesse
abriria uma fenda em teu peito
lhe plantaria meu desatinado coração
se tivesse tua paz de calmaria
meu imenso mar
arredio
em teu colo descansaria
meu sentimento arrebatado
em um vento manso e quente se transformaria
se pudesse adentrar por sua fresta entreaberta
meu peregrino coração dormiria
essa saudade, feito raio, cortante,
profundo, arisco
essa ausência, esse querer sem destino,
em desatino,
ah...minha linda
como suportar essa geografia que nos separa
essa doce angustia da alma
esse mordaça no coração
contando os dias
de novo te abraçar e
repousar em ti meu sonho mais generoso
(helder molina)
5 – queres enquadrar-me?
se queres enquadrar-me
ao meu tempo de hoje
o agora, saiba então,
sofro de inquieta gula de vida
tenho vírus de irreverência adquirida
do tempo interior tenho dose letal
não tente aprisionar-me em seus fantasmas
em suas análises de janelas estreitas
eu existo além do tato
eu tenho nome, caminheiro, rebeldia
minha cidadania é a inspiração da poesia
sou mágica metamorfose de um dia
a essência do que ainda não foi criado
não tente enquadrar-me
me chame de vida, luminoso e perdido
ponto de energia
na reta oposta da circunferência
sou ângulo aberto convexo hipotenuso
circunferência com linhas retas e pontos picados
côncavo e convexo,
encaixe sem proporções exatas
o verso que virou reverso
meu nome é tempestade,
o vento cristalino nos olhos da brisa
a calmaria que navega o barco
a utopia de galeano
a dialética de marx
o desejo do faminto
o comunhão dos desunidos
reta, retina, choro, resina, sina, rima
registram no cartório,
a soma de tudo isso,
helder molina
algum menino travesso, filho das colinas.
(helder molina)
6 – mulher de ginga e de e de garra
mulher, acorda o mundo,
as marias, anas e joaquinas,
com a graça e leveza de tua ginga
com a garra e a força de tua luta
com a poesia delicada de teus gestos
o aroma suave de tua pele negra, mestiça
com as raízes de tua existência
parabéns, teu triunfo te eterniza e multiplica
tua bravura te faz mais bela e plena
tua presença assumida,
na ponta dos pés,
no preenchimento dos teu espaços no mundo
assuntando os homens carrancudos
arrepiando a rudeza machista
demarcando teu lugar na geografia da vida
virando ao avesso este mundo patriarcal
hibridando o machismo
androginando o ranço dos intolerantes.
(helder molina)
7 – para uma grande mulher
mulher, mulheres
tantas, são todas, são charmes
jovens, adultas, meninas
lindas, inteligentes,
alegres, tristes
cantoras, escritoras, cozinheiras,
são mulheres
filhas, mães, avós, companheiras,
herdeiras, cúmplices
dos campos, das cidades,
das vilas, favelas,
vielas, ruelas,
são doces, amargas, versos, reversos
todas mulheres
bem nascidas, ou mal nutridas,
de todas as idades, de noites,
luas, carinhos
tantos caminhos,
do norte, toda sorte, montanhas,
desertos, colinas
heróicas mulheres, de esperanças
sem terras, sem tetos, sindicalistas,
trabalhadoras, com arte, com garra,
senso, sensualidade
com medos, ou destemidas,
insubmissas, irreverentes, calientes
lamento, contentamento, torrmento
todas mulheres
doçuras, bravuras, leveza, beleza,
pele, desejo, latinas, vascaínas,
bota fé, botafogo,
com dengo, mengo,
com dor, flor, tricolor,
tricotear a dor
mulheres, vertigem, coragem,
tão frágil, tão forte
símbolo da vida,
da raiz do mundo que ainda virá
(helder molina)
8 – é noite na cidade
noite
a cidade adormeceu
a pesada mão do silêncio amordaçou as casas, e as almas
a noite extrema, o silencio reina
o vento varre os vestígios da presença humana
pelos becos, vielas, na boca dos nauseabundos
a noite vai, vadia, cambaleante, ziguezagueante
no céu a lua sorri, matreira,
conhece os segredos da noite
os segredos dos notívagos,
a confissão dos embriagados
as vontades incógnitas
alguns vigiam a madrugada, desafiam,
parceiros da boemia, cantadores de poesias,
percorrendo a escuridão,
cantando o amor e a solidão
deixam seu rastros de cantos e encantos
parceiros da noite
passarela dos líricos
devaneios dos apaixonados
alamedas dos boêmios
noites de conhaques, vinhos, cachaças
licores, amores, odores,
onde desfilam os profetas delirantes,
noite extrema, o silencio reina
o vento do amanhecer traz a algazarra,
a noite vadia se esvai
dia extremo.
(helder molina)
9 – a peste sem cor –i
a história das sociedades documenta
pestes diversas
dizimaram populações
enfraqueceram nações,
esvaziaram comunidades,
cidades, corações.
peste cinzenta,
com tanta virulência e intensidade
projetaram sombras
no imaginário coletivo da humanidade
no cenário de hoje
uma outra peste se avizinha
a peste sem cor,
travestida de indiferença
intolerância
neutraliza sentimentos
dilui saberes
afeta prazeres
peste sem cor
nos aprisiona nos espaços privados
nos induz ao individualismo
ao imediatismo
nos torna escravos da competição
deixa seqüelas, apagam memórias
nos torna alienados, conformados,
acomodados
(helder molina)
10 – a peste sem cor - ii
provoca redução da oxigenação dos tecidos
nos rouba as energias, dificultando as trocas
assassina a solidariedade
anestesia os sentidos e as emoções
reprime os desejos, esvazia a solidariedade
peste sem cor, ou peste cinzenta
nos torna apolíticos,
ideologicamente neutros
cidadãos do não lugar
a peste cinzenta já invadiu nosso lugar
detectamos seus vírus nas relações pessoais
procura-se um antídoto
peste sem cor ou cinzenta?
peste burguesa, capitalista, egoísta.
(helder molina)
11 – rio, museu aberto de história
rio, museu aberto de história
cidade monumento à memória
ponto de encontro: antigo chafariz,
ao lado do paço imperial,
local onde as lavadeiras se encontravam para lavar,
conversar, cantar e “tramar”.
seu roteiro é um poema vamos ao rio, antigo e presente!
rio monumento, de becos que cantam e encantam,
de vielas, favelas, geografia intensa e bela
dores de cidade partida,
contradições cortantes, traços fortes
de antigas e atuais feridas
rio antigo, passado vivo,
senzalas da opressão,
palco de resistências.
arena ecoante de sussurros,
de lamentos da escravidão.
rio história,capital colonial,
ruas impregnadas de marcas do presentes,
do passado, que revive e se faz memória.
museu aberto de tradições,
lendas, crenças, mitos, lutas,
identidades que não se apagam
negros, negras, índios,
donos da terra, dos mangues aterrados,
das matas destruídos,
dos morros removidos, da limpeza étnica,
dos índios dizimados, das culturas acorrentadas.
acervo atual de esperanças e lamentos,
que ecoam e não foram em vão.
ancestrais a caminhar pelas ruas de pedras,
quitandas, mercados, mercadores, pescadores,
homens vindos do mar.
(helder molina)
12 – rio, cidade monumento
rio imperial, republicano,
tropical, porões inundados de tantos ais,
onde o brasil tomou suas decisões.
rio centro, rio velho,
revisitado, amado, esquecido,
violentado, cantado, versado, proseado.
rio de janeiro, fevereiro e março,
a natureza fez régua e compasso,
aqui cidadania rima com esperança nos próximos passos.
vamos revisitar o rio antigo
praça xv que já foi pelourinho,
largo do passo, palco da abolição inventada
onde as chibatas sangravam a escravidão.
dos arcos dos teles,
onde o comércio das quitandas, do mercado,
de onde os barões guardavam
os frutos do trabalho escravo,
na igreja dos mercadores,
de devoção clandestina e reprovada
pela elite
escravocrata e católica.
na igreja do rosário, de são benedito,
dos homens pretos, do sincretismo,
da escrava anastácia, da língua decepada
por ter voz ativa.
do primeiro banco, o do brasil (hoje centro cultural)
da primeira igreja de frente para o mar,
onde a santa candelária protegia
contra indesejáveis visitantes vindos pelo mar,
os monstros, os fantasmas, dragões
e outros perigos que habitavam
a cabeça do homem
medieval
rio dos cortiços,
dos pobres livres, das casas coloniais,
dos botecos, dos bares e cafés,
onde literavam nossos poetas e escritores,
agitando os sentimentos abolicionistas
e republicanos.
rio da belle époque,
que bela época de sonhos liberais e capitalistas,
sangue índio e africano,
sonho europeu, orgulho parisiense,
alma brasileira, negro no trabalho,
elitista na opulência,
da avenida que derrubou os cortiços,
e virou central.
(helder molina)
14 – papo histórico e
chopp no amarelinho
rio branco, amarelo, negro e índio.
vamos revisitar,
das belas letras à engenharia
de uma futura nação,
primeira universidade do brasil.
os lavradios, os inválidos,
e suas casas de antiguidades,
da feira do rio antigo,
da lapa com seus dutos
por onde corriam as águas para belas casas
dos agentes da dominação.
da praça dos pobres, dos desvalidos,
onde estacionavam as charretes das madames,
senhores e barões,
batizada de tiradentes para nos trazer
a memória que o ouro é moeda de mãos nobres.
por fim, o triângulo cultural,
a biblioteca real que é nacional,
do teatro das artes
nobres, que é municipal,
e do museu das bellas artes.
e, embebidos de cultura e história,
cansados, sedentos, vamos tomar um chopp no amarelinho,
com um papo histórico,
daqueles sem colarinho.
assim, misturando poesia, cultura e história
(helder molina
15 – poema para beh
beth, meu amor, minha mulher,
minha companheira,
minha fortaleza
você consegue entender e respeitar
esta "alma hamletiana"
que vive contigo há tantos anos
você tem o dom de ouvir, de maturar,
de refletir, e ponderar em meus momentos
de densidade existencial
e barulho interior.
eu sou um privilegiado por estar contigo
e ter em você uma âncora neste meu navegar
tortuoso em mar agitado,
que eu mesmo agito, quando parece estar em calmaria.
o mistério, o segredo, de estarmos juntos
é um desafio de nos reinventarmos,
repactuarmo-nos,
o mistério, e o segredo, é mirarmos o futuro,
que desejamos construir juntos,
sem esquecer a necessidade de parir
cotidianamente nosso presente.
o mistério, e também nossa ponto de referência,
é termos uma filha maravilhosa, inteligente,
nossa vitória, nossa alegria,
serena, carinhosa, afetiva e inebriante,
que nos torna cúmplices na construção de pequena existência
que nos enche de prazer e júbilo.
nossa filha, nossa vitória,
nossa vida, você fortaleza,
dores e delícias de ser mulher,
consciente, madura,
bela, instigante, desafiante, gostosa, combativa,
audaciosa, pertinente e impertinente
você, garra e charme.
você, luta e sonho.
nossos olhos permanecem mirados no porvir,
com gosto de amanhecer de aurora tropica.
com sol, calor, sonhos, e vitória.
sou molina, helder no cotidiano
parabéns pelo dia internacional da mulher
(helder molina)
16 – aprender e descobrir
aprender ,
aprendiz,
apreende e diz
é descobrir aquilo que já sabemos
e não sabemos que sabemos
fazer,
demonstrar o que se sabe, trocar
ensinar
lembrar aos outros que eles sabem,
compartilhar
possibilitar aos outros que se aprenda
o que já sabe com o viver,
costurar, experimentar
caminhar
viver é termos a certeza de que somos
construção
nunca estamos prontos
estamos sendo
refazendo, reinventado
sempre
ao mesmo tempo
aprendizes
mestres
construtores
desconstrutores
fazedores
profetas,
anunciadores
professadores,
professores
(helder molina)
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