quarta-feira, 16 de janeiro de 2019


A Humana SúmulaA Piedade deixaria de existir
Se não fizéssemos nós os Pobres de pedir;
E a Compaixão também acabaria
Se a todos, como nós, feliz chegasse o dia.

E a paz se alcança com mútuo terror,
Até crescer o egoísmo do amor:
A Crueldade tece então a sua rede,
E lança seu isco, cuidadosa, adrede.

Senta-se depois com temores sagrados,
E de lágrimas os chãos ficam regados;
A raiz da Humildade ali então se gera
Debaixo do seu pé, atenta, espera.

Em breve sobre a cabeça se lhe estende
A sombra daquele Mistério que ofende;
É aí que Verme e Mosca se sustentam
Do Mistério que ambos acalentam.

E o fruto que gera é o do Engano
Doce ao comer e tão malsano;
E o Corvo o seu ninho ali o faz
No mais espesso da sombra que lhe apraz.

Todos os Deuses, quer da terra quer do mar,
P'la Natureza esta Árvore foram procurar;
Mas foi em vão esta procura insana,
Esta Árvore cresce só na Mente Humana.

William Blake, in "Canções da Experiência"
Tradução de Hélio Osvaldo Alves


Na composição do núcleo militar do Ministério Bolso, todos os generais pertencem a famílias militares, com tradições conservadoras, muitas vezes com pais que atuaram no Golpe de 64 e no serviço da ditadura, com antigos vínculos no pensamento político autoritário de ideologias dos tempos da “Guerra Fria” e da “Doutrina de Segurança Nacional”. Os generais Hamilton Mourão, Augusto Heleno, Fernando Azevedo são todos filhos de oficiais do Exército, o General Santos Cruz e o atual Comandante do Exército, o General Pujol, são filhos de oficiais da Brigada Militar do Rio Grande do Sul. Os militares, ao lado das famílias políticas do executivo, legislativo e judiciário, só podem ser entendidos quando vistos no conjunto de suas famílias. Há forte hereditariedade militar na composição e recrutamento da elite militar brasileira. Os oficiais generais quase sempre possuem vínculos genealógicos com a classe dominante tradicional ou entram pela tradição militar conservadora. A família do General Etchegoyen era um caso de hereditariedade militar. O General Eduardo Villas Boas, um dos responsáveis pelo fracasso da democracia brasileira, é mais um caso. Filho do Coronel do Exército Antonio Villas Boas e de Inalda Dias da Costa. Neto materno de Antonio Joaquim Dias da Costa e de Edith Neves, grandes fazendeiros em Cruz Alta, Rio Grande do Sul e descendentes das principais famílias latifundiárias, escravistas e políticas da Fronteira Sul, Simões Pires, Carneiro da Fontoura e outras. Parece que voltamos à República Velha e suas oligarquias políticas familiares entreguistas, antimodernidade e antidemocracia. O Ministério do Bolso poderia estar em 1929, antes do Movimento de 1930.
RCO



O nepotismo é uma longa corrente hereditária de vantagens e privilégios extraídos do Estado ao longo de várias gerações na classe dominante. Todos leram o caso do filho do general Mourão, Antonio Hamilton Rossell Mourão, repentinamente promovido com salário triplicado a quase 40 mil. O beneficiado é filho e neto de generais do exército, bisneto de desembargador e presidente do TJ do Amazonas, trineto de oligarcas latifundiários do Piauí. Pelo lado materno é filho da primeira esposa de Mourão, Ana Elizabeth, das principais famílias de Bagé, na fronteira do Rio Grande do Sul, neto de Mário Magalhães Rossell e de Zaida Quintana. O estádio de futebol local se denomina Antônio Magalhães Rossel, um dos tios e a família esteve associada com grandes pecuaristas e latifundiários, desde o Visconde de Ribeiro Magalhães, avô materno de Mario Magalhães Rossell e trisavô do sortudo do Banco do Brasil, Antonio Hamilton Rossell Mourão, o que mais uma vez confirma a tese de que política é assunto de famílias e de genealogias das classes superiores, muitas dentro do Estado, desde o Antigo Regime, ao longo de várias gerações e vários séculos. Como citamos o autor Oliveira Vianna no nosso livro Na Teia do Nepotismo: O nepotismo é a fórmula tradicional e geral da nossa vivência política. Para o trabalhador restou o prejuízo de perder oito Reais do seu salário mínimo para poder sustentar todo andar de cima da sociedade do Bolso, seus familiares e associados nas diversas corporações e altas rodas, os que o apoiam, lucram e embalam...
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Nunca se viram as instituições que deveriam ser ou ter aparência de Estado, o sistema judicial, as forças armadas tão aparelhadas, partidarizadas e fazendo há meses campanha aberta para o candidato protegido deles, o Bolso e que venceu de maneira ilegítima, antidemocrática e sem concorrência. O baixo nível das ideias e propostas por eles na educação e saúde nesses dias só mostram que serão sócios e cúmplices do fracasso do desgoverno atual e daí já terão as suas imagens e identidades profissionais tão coladas com Bolso, que afundarão todos juntos na mesma impopularidade, ao lado dos seus parlamentares, juristas, ministros, comandantes, pastores e mídias unilaterais. O primeiro teste será a reforma da previdência em que já se divorciaram completamente da maioria da nação ao pretenderem preservar os seus privilégios corporativos de políticos, juízes, militares, empresários e outros ricos responsáveis pelo verdadeiro déficit do setor. Uma hora a maioria trabalhadora e assalariada perceberá o engodo eleitoral em que caiu.
RCO


E mais um descendente das antigas oligarquias no governo. O general Otávio Santana do Rêgo Barros, novo porta-voz do governo, natural de Recife-PE, filho de Francisco Rodolfo Valença do Rêgo Barros e de Maria Auxiliadora Santana do Rêgo Barros pertence a algumas das mais antigas e principais famílias pernambucanas da antiga açucarocracia, aquelas famílias dos engenhos de Casa Grande e Senzala. Como a cúpula das Forças Armadas possui muitos vínculos com a antiga classe dominante tradicional do "Antigo Regime", enfim, o que as pesquisas revelam das biografias coletivas, a prosopografia das autoridades do "novo-velho" governo... Fato social e político.


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