sábado, 26 de outubro de 2013

De que sedas se fizeram os teus dedos,
De que marfim as tuas coxas lisas,
De que alturas chegou ao teu andar
A graça de camurça com que pisas.

De que amoras maduras se espremeu
O gosto acidulado do teu seio,
De que Índias o bambu da tua cinta,
O oiro dos teus olhos, donde veio.

A que balanço de onda vais buscar
A linha serpentina dos quadris,
Onde nasce a frescura dessa fonte
Que sai da tua boca quando ris.

De que bosques marinhos se soltou
A folha de coral das tuas portas,
Que perfume te anuncia quando vens
Cercar-me de desejo a horas mortas.


(José Saramago)

O vinho



As redondezas do vinho. As asperezas do vinho.
As veleidades do vinho. As veludezas do vinho.
As calorias do vinho. Os labirintos do vinho.
As branquidades do vinho. As verdolências do vinho.
As rosaledas do vinho. As inverdades do vinho.
As bordalesas do vinho. As borgonhesas do vinho.
As fluidezas do vinho. As espessuras do vinho.
Os jaguardentes do vinho. As águas duras do vinho.
As florisbelas do vinho. As florisfeias do vinho.

Os operários do vinho. As excelências do vinho .
As sonolências do vinho. Os maremotos do vinho.

- Murilo Mendes, em "Convergência". São Paulo: Duas Cidades, 1970.

http://www.elfikurten.com.br/2013/08/murilo-mendes-colecionador-de-tempos-e.html

A HISTÓRIA MUDA, O INIMIGO MUDA - CINEMA:




A propaganda política e ideológica entendida como fenômeno da sociedade e da cultura de massas, consolidou-se nas décadas de 1920-1940, com o avanço tecnológico dos meios de comunicação. A primeira metade do século XX foi marcada pela ascensão e consolidação dos regimes que utilizaram os meios de comunicação de massas como instrumentos de propaganda política... e de controle da opinião pública. Ficando evidente antes, durante e depois da segunda guerra.

As ameaças feitas por Kim Jong-il, 30, á Coréia do Sul e aos Estados Unidos fazem da republica norte coreana o novo inimigo histórico nas telas de cinema americano.

Na sexta-feira dia 05 de abril estreou nos cinemas do Brasil o filme “Invasão à Casa Branca”. Nele mostra um terrorista norte-coreano tomando de assalto a Casa Branca, lá ele mantém o presidente americano (Aaron Eckhart) como refém.

NAZISTAS – 1938 até hoje:
Filmes: “Casablanca”(1942), “Os Doze Condenados” (1967), “Os Caçadores da Arca Perdida”(1981), “A lista de Schindler” (1993)
Mesmo com a derrota de Hitler, os nazistas nunca saíram das telas do cinema, apenas foi adaptado a novas ondas estéticas.

SOVIÉTICOS – 1940-70 e 1980 até hoje:
Filmes: “Moscou Contra 007” (1963), “Caçada ao Outubro Vermelho” (1990), “Rocky IV” (1985), “Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer” (2013)
Misteriosos e capazes de ameaçar o poderio militar e cientifico dos americanos. Após a dissolução da URSS, viraram terroristas.

TRAFICANTES – 1985 - 1990:
Filmes: “Máquina Mortífera”(1987), “Tango & Cash” (1989), “Os Bons Companheiros” (1990)
O então Presidente Ronald Reagan declarou guerra as drogas, Hollywood foi atrás de vilões interessados em lucrar com psicoativos.

TRAÍDORES DA PÁTRIA – 1990 – 2000:
Filmes: “Duro de Matar 2” (1990), “A Rocha” (1996), “O Suspeito da Rua Arlington” (1999)
Terroristas como “Unabomber” e o ataque a Oklahoma City, em 1995, mostram que o inimigo não tem sotaque estrangeiro e não mora em outro território.

ÁRABES – 1992 – 2012:
Filmes: “True Lies” (1994), “Nova York Sitiada” (1998), “Syriana” (2005), “A Hora mais Escura” (2012)
Antes de 2001, eram os inimigos bidimensionais. Após o 11 de setembro, evitou estereótipos que causassem fúria nos radicais islâmicos.

NORTE-COREANOS – 2010 – hoje:
Filmes: “Salt” (2010), “Amanhecer Violento” (2012), “G.I. Joe – Retalição” (2013), “Invasão a Casa Branca” (2013)
Os dois últimos lideres fazem ameaças constantes a Coréia do Sul, Japão e aos EUA.

Kacá Patricio – Equipe História Agora

--------------------------


Fonte: Questões & Debates, Curitiba, n. 38, p. 101-131, 2003. Editora UFPR, Jornal Folha de São Paulo.

MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO



“O papel de Engels na elaboração do conceito de ‘modo de produção asiático’ foi bem menor do que o de Marx. No Anti-Dühring (1878), Engels reafirmou a necessidade de organização das obras de irrigação no Oriente como elemento que explica o surgimento dos Estados despóticos. Ele via no despotismo oriental a mais primitiva forma de Estado, por basear-se na mais elementar das formas de renda: a renda em trabalho. O livro mencionava também que as comunidades aldeãs da Índia haviam evoluído da propriedade comunal tribal ao parcelamento da terra e ao surgimento de diferenças de riqueza entre os indivíduos, devido à distribuição desigual do produto das trocas intercomunitárias. [...] Engels sugeria a existência de dois caminhos históricos para o surgimento do Estado: o que conduz ao despotismo oriental, no qual se mantêm a existência das comunidades tribais e pela evolução das forças produtivas, levando ao desenvolvimento do escravismo.”

CARDOSO, Ciro Flamarion S. in: Sociedades do Antigo Oriente próximo, p. 15, 16.


Robson Bertasso,

Administração História Agora.

CARDOSO, Ciro Flamarion S. Sociedades do antigo Oriente próximo. São Paulo: Ática, 1986. 93 p.

PARA O MAURÍCIO TRAGTENBERG



mineiro era meu avô
o mouro morreu de silicose
meu pai, andaluz carpinteiro
de pulmonar enfisema

aló irma, cambiei, pois ligo não
agora sei, juro ema, sobre o rancor
então vamos tragar afeto, doçuras
mamãe diz tergüel, ouçam o fonema

administrando bem a auto sugestão
podemos tomar lcd brasileiro
sem susto, talvez plasma
aí o buraco menor é que abala

dá vontade
mas e a impotência
diante dos lábios cínicos
e do can ivete?

em extrema dieta
os abduzidos sussurram
tem muito mau
há lito no espaço

LUIZ FERNANDO VENEGAS

(trecho do Aeronave Chega Birutas Tremulam - 2014)

Ironia sentimental


Coaxar dos sapos, quando a noite é calma,
sem jardins simbolistas, nem repuxos cantantes,
nem rosas místicas na sombra, nem dor em verso...
Coaxar dos sapos, longamente,
quando o céu palpita na moldura da janela,
num mistério doce, num mistério infinito,
e em cada estrela há um lábio, um lábio puro que treme,
e um segredo na luz que palpita, palpita...


- Augusto Meyer, em “Coração verde”, Porto Alegre: Globo, 1926.
Sinto a vida calefar pelos poros. Não posso conter o apelo de minha anatomia.
Sou o veículo frágil das hipóteses desconexas, das crenças céticas, dos hermetismos confessos.
Sou corpo que não cabe em recipientes.
Sou o títere das articulações engessadas.
Sou eu mesmo o meu próprio simulacro.


Autor: Ézio Deda