Voluptuosidad incomparable, inefable embriaguez,
Yo te canto
Paul Verlaine
JOSÉ MARÍA ÁLVAREZ
Um escultor, um dia – Augusto Clésinger
se chamava – entregou ao mundo
essa «mulher mordida por uma áspide»
que um museu hoje conserva.
Os turistas
passam junto dela; se um deles se detém
lê a inscrição e continua
a sua visita. Ou com frequência
são grupos de miúdos, dirigidos
por um professor que lhes explica
os efeitos da terrível mordedura,
como o autor captou a dor,
a angústia, o medo.
E contudo
bastar-lhes-ia contemplar o voo desses olhos,
esse rosto, escuta os suspiros
que saem da sua boca, desse peito
pelo amor dilatado, esse flanco que se curva,
essas coxas que cerra
o gozo,
para entenderem
que não é a Morte que toma
essa mulher, mas o prazer,
o êxtase, o absoluto
aniquilamento do orgasmo.
Se o bom Auguste Clésinger
se viu forçado pela censura do seu tempo
a inventar uma história trivial
que permitisse às suas fantasias
serem expostas no Salão de 47,
que subtil, sedutor, inteligente
foi, para nos legar essa beleza apaixonada:
o instante supremo
em que uma mulher entrega a sua carne
à História.
traduzido por Joaquim Manuel Magalhães e editado pela Relógio d’Água em “Poesia Espanhola de Agora."
Fonte:blog leituras favre
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Poemas de Julia Larré
Julia Larré – Escritoras Suicidas
envolto por cerca elétrica
Lâminas, pontas, estrelas de abismo
Chão.
Guerreia com a noite, suporta exausto
Aguenta a nefasta solidão.
Espectador de farpas, explosão.
Seccionado, metade.
Pulsa o necessário.
Não chama por nomes.
Envolto por cerca elétrica.
*
Minha casa
fica nua
muda
nos dias do
adeus.
quebra regras
impõe
desejos
desestrutura
as vigas
de mim.
*
Minha música
é minha manta
coberta de estrelas vagas
calcanhar tolo que anda
por muitas e mais calçadas
Todos andam à escuta
vesti-la é mesmo que nada
*
é que as horas
não me são
suficientes.
elas vêm
pintam meus dedos
fecham meus olhos
e o sono
não chega.
é que as horas
trazem
de volta
o tempo
que nem houve.
drag-queen
Teu nome soa
ecoa
em meu ventre.
Meu corpo sabe
teu reino
é esse.
Dorme
que o dia
começa
e teus sonhos
enchem
a noite.
0 (zero)
o homem caminha
por entre
nuvens
e
círculo
sabe de sua rota
olha o éter —
o eterno retorno —
corre o risco
de seguir
o caminho
desconhecido.
*
morte melhor
para que o corpo
permaneça
entreaberto
para que a alma fique —
eternidade —
nada é entristecedor
meu nirvana é o
caos
Julia Larré. Poeta, vive em Recife/PE
Fonte: Blog Escritoras Suicidas
envolto por cerca elétrica
Lâminas, pontas, estrelas de abismo
Chão.
Guerreia com a noite, suporta exausto
Aguenta a nefasta solidão.
Espectador de farpas, explosão.
Seccionado, metade.
Pulsa o necessário.
Não chama por nomes.
Envolto por cerca elétrica.
*
Minha casa
fica nua
muda
nos dias do
adeus.
quebra regras
impõe
desejos
desestrutura
as vigas
de mim.
*
Minha música
é minha manta
coberta de estrelas vagas
calcanhar tolo que anda
por muitas e mais calçadas
Todos andam à escuta
vesti-la é mesmo que nada
*
é que as horas
não me são
suficientes.
elas vêm
pintam meus dedos
fecham meus olhos
e o sono
não chega.
é que as horas
trazem
de volta
o tempo
que nem houve.
drag-queen
Teu nome soa
ecoa
em meu ventre.
Meu corpo sabe
teu reino
é esse.
Dorme
que o dia
começa
e teus sonhos
enchem
a noite.
0 (zero)
o homem caminha
por entre
nuvens
e
círculo
sabe de sua rota
olha o éter —
o eterno retorno —
corre o risco
de seguir
o caminho
desconhecido.
*
morte melhor
para que o corpo
permaneça
entreaberto
para que a alma fique —
eternidade —
nada é entristecedor
meu nirvana é o
caos
Julia Larré. Poeta, vive em Recife/PE
Fonte: Blog Escritoras Suicidas
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