Os medos agora são difusos, eles se espalharam. É difícil
definir e localizar as raízes desses medos, já que os sentimos, mas não os
vemos. É isso que faz com que os medos contemporâneos sejam tão terrivelmente
fortes e seus efeitos tão difíceis de amenizar. Eles emanam virtualmente em
todos os lugares. Há os trabalhos instáveis, as mudanças nos estágios da vida;
a fragilidade das parcerias; o reconhecimento social dado só "até segunda
ordem" e sujeito a ser retirado sem aviso prévio; as ameaças tóxicas, a
comida venenosa ou com possíveis elementos cancerígenos; a possibilidade de
falhar num mercado competitivo por causa de um momento de fraqueza ou de uma
temporária falta de atenção; o risco que as pessoas correm nas ruas; a
constante possibilidade de perda dos bens materiais etc.
Os medos são muitos e diferentes, mas eles alimentam uns aos
outros. (...)
Os medos não têm raiz. Essa característica do medo faz com
que ele seja explorado política e comercialmente. Os políticos e os vendedores de
bens de consumo acabam transformando esse aspecto em um mercado lucrativo. O
comum é tentar reagir, fazer alguma coisa, buscar desvendar as causas da
ansiedade e lutar contra as ameaças invisíveis. Isso é conveniente do ponto de
vista político ou comercial. Tal atitude não vai curar a ansiedade, mas
alimentar a indústria do medo. Adquirir bens para obter segurança só alivia uma
parte da tensão e mesmo assim, por um breve tempo.
Para os governos e o mercado, é interessante manter acesos
esses medos e, se possível, até estimular o aumento da insegurança. Como a
fonte das ansiedades parece distante e indefinida, é como se dependêssemos dos
especialistas, das pessoas que entendem do assunto, para mostrar onde estão as
causas do sofrimento e como lutar contra ele. (...) A natureza dos medos
líquidos contemporâneos ainda abre um enorme espaço para decepções políticas e
comerciais."
Zygmunt Bauman. Capitalismo parasitário. Rio de Janeiro:
Zahar, 2010. pp. 73-75