segunda-feira, 1 de abril de 2013

Capitalismo parasitário



Os medos agora são difusos, eles se espalharam. É difícil definir e localizar as raízes desses medos, já que os sentimos, mas não os vemos. É isso que faz com que os medos contemporâneos sejam tão terrivelmente fortes e seus efeitos tão difíceis de amenizar. Eles emanam virtualmente em todos os lugares. Há os trabalhos instáveis, as mudanças nos estágios da vida; a fragilidade das parcerias; o reconhecimento social dado só "até segunda ordem" e sujeito a ser retirado sem aviso prévio; as ameaças tóxicas, a comida venenosa ou com possíveis elementos cancerígenos; a possibilidade de falhar num mercado competitivo por causa de um momento de fraqueza ou de uma temporária falta de atenção; o risco que as pessoas correm nas ruas; a constante possibilidade de perda dos bens materiais etc.

Os medos são muitos e diferentes, mas eles alimentam uns aos outros. (...)

Os medos não têm raiz. Essa característica do medo faz com que ele seja explorado política e comercialmente. Os políticos e os vendedores de bens de consumo acabam transformando esse aspecto em um mercado lucrativo. O comum é tentar reagir, fazer alguma coisa, buscar desvendar as causas da ansiedade e lutar contra as ameaças invisíveis. Isso é conveniente do ponto de vista político ou comercial. Tal atitude não vai curar a ansiedade, mas alimentar a indústria do medo. Adquirir bens para obter segurança só alivia uma parte da tensão e mesmo assim, por um breve tempo.

Para os governos e o mercado, é interessante manter acesos esses medos e, se possível, até estimular o aumento da insegurança. Como a fonte das ansiedades parece distante e indefinida, é como se dependêssemos dos especialistas, das pessoas que entendem do assunto, para mostrar onde estão as causas do sofrimento e como lutar contra ele. (...) A natureza dos medos líquidos contemporâneos ainda abre um enorme espaço para decepções políticas e comerciais."

Zygmunt Bauman. Capitalismo parasitário. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. pp. 73-75

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