Ainda não rolou greve ? Professorado da UFPR. A atual
geração de professores com uns cinquenta e poucos anos é que realmente tornou a
UFPR uma verdadeira universidade de pesquisa. Muitos são contra a greve porque
"atrapalha" as férias de verão. Muitos não podem comparecer nas
assembleias de greve se não tiverem médico, dentista, portão eletrônico
estragado, o encanador que atrasou, ou a família que precisou de ajuda em algum
compromisso. Não somos como os jovens de 18, ou 20 e poucos anos, que são muito
mais idealistas, livres e descompromissados com o establishment, até porque
jovens são os principais críticos do sistema, como deve ser próprio da
juventude. Muitos jovens afirmam que não confiam em ninguém com mais de 30 anos
e bem mais de 10 mil reais de remuneração ! Hoje esse grupo de professores está
avançado na meia idade, a maioria orientou teses, são associados ou já são
titulares. O maior benefício coletivo dos últimos anos para esse professorado
cinquentenário foi a criação da categoria de professor associado, ainda com
Lula e depois as passagens para o topo dentro da carreira como titular, ainda
mais nos ataques contra as aposentadorias. No início dos anos 1990 esse grupo
ainda era composto por professores "novos", em torno dos trinta anos,
a maioria doutorandos e na época assistentes, o que significava um grande
arrocho salarial na malfadada época de FHC e do Paulo Renato, sem recomposições
salariais e total falta de investimentos. Nos anos Lula e Dilma houve um grande
crescimento e expansão das IFES, até mesmo as condições salariais melhoraram
muito em relação aos anos 90. Ainda vivemos o final do orçamento 2016 de Dilma
e do PT, mas no ano que vem em diante teremos o imenso impacto do corte de
recursos e o arrocho salarial típico da era do PSDB, back to the past, anos 90.
O problema é que a maioria dos professores contrários à greve ainda não recebeu
o impacto da PEC55 na infra-estrutura e da MP746 nas licenciaturas. Ainda há
poucos meses atrás estavam juntos o professor trotsquista de ultra esquerda da
Conlutas com o professor de direita, apoiador do MBL, no apoio ao golpe e
derrubada de Dilma. Os professores têm origens, ideologias e carreiras muito
diferentes. Por que enfrentar pequenos poderes, burocracias e relatórios para
se ter uma bolsa de iniciação científica, para quem orienta muitos doutorados?
Bolsa produtividade, uma bolsa pequena e com valores pobres, se um professor
com nome reconhecido academicamente e cientificamente recebe muito mais em uma
palestra ? Precisamos aumentar as bolsas e não burocratizá-las para
diminuí-las. Muitas são as diferenças entre as áreas. As humanidades precisam
de livros e de bibliotecas, outras ciências trabalham com laboratórios e
artigos compactos coletivos. Os melhores investimentos sempre devem passar pela
boa formação e remuneração institucionalizada dos professores, contra o peg-pag
de certos produtivismos. Quem só viveu as "vacas gordas" do PT, com
aumentos das bolsas para alunos da pós, infelizmente viverá as "vacas
magras" dos golpistas a partir do ano que vem. Será uma má experiência
para toda uma nova geração de professores conhecer o que conhecemos nos anos
90. Quando esses professores sentirem os profundos cortes e arrochos a greve
será reavaliada.
RCO