Renato Janine da Fonseca > Cem mil adolescentes
israelenses viajam por ano para Auschwitz, isso faz parte do programa escolar.
Um número cada vez maior deles vem postando selfies e outras fotos
brincalhonas. Há um certo desespero em Israel por causa disso, porque uns vêm
nisso a banalização do Mal.
Minha interpretação: acho até bom. Quer dizer que o Lobo Mau
hitleriano se tornou ridículo. A melhor forma de lidar com o Mal não é ter medo
dele, é rir dele. (Claro que não se ri do sofrimento, mas além disso é bom
lembrar que são jovens, numa cultura que nem mais vê o nazismo como ameaça).
Murilo Humberto Fernandes Vieira Já visitei Auschwitz e
Birkenau,a 6 km, onde efetivamente os judeus foram assassinados.Não vejo graça
no mau que os outros sofreram , mas desrespeito as vítimas .Lá no fundo do campo
há um monumento e uma lápide de granito .Em dezenas de línguas há a frase
" Aqui foram assassinadas, vítimas do Nazistas 4 milhões de Judeus "
.
Diz bem , de outra forma, a frase do campo de Dachaü, bem
próximo a Munique : " Perdoar sim, mas esquecer jamais;pois esquecer é
repetir."
Marcia Sofia Figueiredo Não penso ser legal rir do mal.
Luiza Resende Resende Há tempos assisti um documentário na
TVESCOLA - não me lembro o título mas no site pode ser encontrado, que trata de
adolescentes de Israel viajarem para Auschwitz . Muitos judeus concordam e
outros nao, consta no documentário. E os motivos são bem interessantes e
vários, cito o que consigo lembrar, neste momento: saberem a história de seu
povo; saberem que nao são amados pelo mundo...Bem interessante! E... selfies
tem tudo a ver com a nova geração...difícil conter.
Jaime Balbino Tem que se conseguir reconhecer o mau para
levá-lo a sério. Se não existe mais tal ameaça nessa antiga forma o sentido do
passeio pode virar outro. Todo judeu teve um parente morto por Hitler. Nesse
ponto deve-se respeito, mas é obrigação ou construção pessoal da consciência?
Carla Fernanda da Silva Ou será resultado da banalização do
mal praticada contra os palestinos? Afinal, os palestinos estão confinados em
'guetos': Cisjordânia e Gaza, são presos, a água é racionada, comida, etc.
Convivem há anos com o exército de israel fortemente armado nas ruas. Os jovens
israelitas sabem que em 5 anos terão que cumprir o serviço obrigatório militar
e estarão portando armas e oprimindo um povo, tal qual seus avós foram
oprimidos. Com certeza, com 13 anos torna-se confuso visitar um campo de
concentração alemão e saber que ao lado de sua casa seus pais tb construíram um
campo para os palestinos.
Wilton Olivar Assis Conflito de gerações. São os netos dos
que viveram a II Guerra que governam o mundo. Cabe lembrar que seus pais também
não conseguiram evitar outras guerras. Por acaso já conviveram com jovens
brasileiros? Fale sobre a tortura. Existem centenas de projetos pedagógicos que
se propõem a formar uma cultura dos Direitos Humanos, tanto lá, como cá, quase
todos experiências falidas. Alguém da nossa geração, foi educado para lembrar
dos 11 mil soldados que morriam por dia nas trincheiras da I Guerra?
Luzia Barros Carla Fernanda da Silva, acho que sua
interpretação está mais perto da realidade, pelo que fazem na Palestina, o
passeio pode até ser excursão da escola.
Camilo Vannuchi Precisa ver se foi o lobo mau que se tornou
ridículo ou se a galhofa se dá em relação às vítimas. Quando pedem respeito,
não é a Hitler que o pedem. De qualquer maneira, a construção do respeito é
cotidiana e vai depender muito de como se monitora e se utiliza essas visitas
em sala de aula. As visitas, em si, são muito importantes, da mesma maneira que
jovens brasileiros deveriam sempre visitar locais como o antigo Dops de São
Paulo, hoje Memorial da Resistência, ou Eldorado de Carajás, ou o Doi-Codi que
será tombado na Tutóia, e sempre conhecer suas histórias, o que viram e ouviram
seu chão e suas paredes. Para que não se repita. Para que nunca se esqueça.
Lea Ferencz Reid Meus pais nasceram na Europa antes da
Guerra, minha mãe imigrou ainda bem pequena da Polônia para o Brasil em 1934.
Lembrava, claramente, de todo o anti-semitimismo sofrido. Que se saiba, todos
de nossa família que ficaram lá, morreram. Meu pai, saiu da Hungria, foi
prisioneiro em campo de trabalho na Itália e chegou ao Brasil, após a II Guerra
Mundial. Ambos souberam passar muito bem para mim e minha irmã a dimensão do
que foi o nazismo, o anti-semitismo e o momento histórico em que tudo ocorreu.
Havia uma enorme diferença nos relatos de cada um. Minha mãe não viveu a guerra.
Ela contava episódios de anti-semitismo que sofreu, ainda pequena, com 4-5 anos
de sua vida na Polônia. Meu pai, que sofreu com a guerra, nunca nos falou sobre
o que passou, homem muito culto, nos dava aulas de História. Não sei se
transmiti aos meus filhos ,com a mesma clareza, o que significa o
anti-semitismo e o que é o anti-semitismo para quem é judeu. Apesar de que em
Israel se faça um imenso trabalho de conscientização do que foi o Holocausto, à
medida em que o tempo passa, os sobreviventes morrem, a tragédia vai-se
tornando mais capítulo no livro de História. Esses jovens israelenses
(israelenses é qualquer pessoa nascida em Israel - israelita é sinônimo de
judeu) vivem dentro do Estado de Israel numa situação ímpar, onde não são
confrontados nas suas escolas, atividades sociais, etc, por grupos anti-semitas
como ocorre na Europa, por exemplo. Eles desconhecem uma realidade que sempre
existiu. Para mim, os selfies não são a banalização do Mal, não são um sinal de
desrespeito, mas são um sinal de que estes jovens não tem a noção histórica de
quem são, do lugar que estão visitando e que a despeito das discussões
bonitinhas, há um alarmante percentual de pessoas que são anti-semitas.
Júnior Milério me lembrei dos ciganos, os esquecidos.
Jorge Augusto primeiro: nao ha estado totalitarista em
Israel com programa de exterminio de palestinos. o q Israel faz eh odioso, mas
nao eh uma especie de nazismo judeu. segundo: a ameaca nazista esta se
re-erguendo na Europa e receio q logo estes jovens israelenses conhecam a face
do mal bem de perto (e muçulmanos tb vão conhecer). terceiro: nossas sociedades
modernas ou pós-modernas vivem o tempo do ludico, da rapidez e do fugidio. nao
ha espaço p profundidades requeridas p a memória e para a reflexão.
Helio Bacha A festa pode significar a alegria da vitória da
vida sobre a morte. Os campos de concentração com cheiro de passado. Sei que
nem tudo está consolidado. Mas a juventude tem direito à alegria. Os mártires
se comprazeriam em poder saber da vitória no futuro. Viva a festa, viva a
alegria, viva a alegria. Não a morte como política, não ao nazi-fascismo.
Alberto Kremnitzer Acabei de fazer um levantamento de
quantos genocídios/crimes contra a Humanidade ocorreram APÓS o Holocausto. Não
o foram na mesma proporção, porém ocorreram em praticamente todos os
continentes. Não contabilizei ainda, mas certamente passam de 12. Continua
ocorrendo, aqui, lá e acolá. Lamentavelmente, a História se repete.
> The
Helmet Massacre of the Tikuna people took place in 1988 and was initially
treated as homicide. During the massacre four people died, nineteen were
wounded, and ten disappeared. Since 1994 the episode has been treated by Brazilian
courts as genocide. Thirteen men were convicted of genocide in 2001. In
November 2004, after an appeal was filed before Brazil's federal court, the man
initially found guilty of hiring men to carry out the genocide was acquitted,
and the killers had their initial sentences of 15–25 years reduced to 12 years.
In November
2005 during an investigation code-named Operation Rio Pardo, Mario Lucio
Avelar, a Brazilian public prosecutor in Cuiabá, told Survival International
that he believed that there were sufficient grounds to prosecute for genocide
of the Rio Pardo Indians. In November 2006 twenty-nine people were arrested
with others implicated, such as a former police commander and the governor of
Mato Grosso state.
In 2006 the
[Brazilian] Supreme Federal Court (STF) unanimously reaffirmed that the crime
known as the Haximu Massacre [perpetrated on the Yanomami Indians in 1993] was
a genocide and that the decision of a federal court to sentence miners to 19
years in prison for genocide in connection with other offenses, such as
smuggling and illegal mining, was valid.<
Andrea Ferrazoli-Mittelstaedt Nunca fui a um Campo de
concentração (mesmo morando perto) e nem pretendo ir. Gosto não se discute, mas
para mim continua uma "escola de horrores". Me sinto extremamente mal
em um lugar assim, parece que ouço os gritos, sinto o sofrimento. Já tive esta
experiência em outro lugar de genocídios, o que me mantém afastada de um lugar
como Dachau, Birkenau e Auschiwitz.
Fabrício Menardi Concordo com você e (Arendt, por
"tabela"): não podemos cair na banalidade do Mal. O distanciamento
histórico sobre a Shoah permite uma resposta mais "leve", porém não
menos séria sobre aquele terrível acontecimento. Nesse caso, rir pode ser o
melhor remédio.
Vlad da Hora A história em movimento, perspectivas
diferentes. Os jovens são a superação concretizada, os mais velhos um
sentimento de pesar que é profundo e inevitável.
Alberto Kremnitzer Curiosamente, os pobre coitados dos
palestinos que dizem não ter recurso para comprar farinha para fazer pão, que
não têm água para o café, porém têm Kassão de sobra (regular e constantemente
enviados sobre a cabeça dos israelenses) têm IDH superior a muitos outros, tais
como os hondurenhos e paraguaios. Entre 186 países, os palestinos estão na
110a. posição, o que bem indica quão ineficientes os israelenses têm sido em
prejudicá-los.
Entre os casos de linchamento, neste levantamento que fiz a
noite passada, encontramos:
>Palestinian
lynch mobs have murdered Palestinians suspected of collaborating with Israel.
According
to a Human Rights Watch report from 2001:
During the
first Intifada, before the PA was established, hundreds of alleged
collaborators were lynched, tortured or killed, at times with the implied
support of the PLO. Street killings of alleged collaborators continue in the current
Intifada ... but so far in much fewer numbers.
In the 2000
Ramallah lynching, a Palestinian mob, assisted by Palestinian police, beat to
death two Israeli reservists who had entered the city by mistake, as they made
a wrong turn while driving to the base they served in.
In August
2012, seven Israeli youths were arrested in Jerusalem for what several
witnesses described as an attempted lynching of several Palestinian teenagers.
The Palestinians received medical treatment and judicial support from Israeli
facilities.<
Helena Lima Integrar tecnologia, história, humor e profundo
respeito é tarefa para..... Jovens!!! Estão vivos, são do século XXI e estão
integrando a tragédia transgeracional do holocausto às suas biografias, com os
recursos emocionais e científicos dos quais dispõem! Nada de superfaturar e
"adoecer"/criminalizar uma prática legítima e necessária que é o
jovem construir seu passado, com olhar do presente, visando ao futuro!
Regina R.
Felix beyond good and evil...
Riva Liberman Eu gostaria de ouvir esses jovens, se possível
sem pré julgá-los. Não arrisco nenhuma análise. Quando estive em Israel percebi
orgulho no povo - embora tenham muito do que se envergonhar, também têm muito
do que se orgulharem. Perguntei a várias pessoas - jovens, velhos, meia idade,
qual o maior problema de Israel. Segurança, segundo todos. Nunca sabem quando
serão atacados. Curioso que eu, como turista, me senti extremamente segura. ..
Um povo que vive em tensão constante, os olhos do mundo sempre voltados para
lá, como será que é ser jovem num lugar desse, com yodo o idealismo e vontade
de mudar o mundo, inerente a todo jovem?
Alberto Kremnitzer Lamento ter fugido à cerne da questão. A
realidade do israelense o leva a se divertir intensamente e não está muito
disposto a curtir determinados comportamentos do judeu da diáspora, como chorar
constantemente as perdas ´ passadas.
Cercado por inimigos figadais, que somente na guerra da
propaganda conseguem superá-los, os jovens israelenses são obrigados a
permanecer sob constante alerta, 24 h/7 dias, no ônibus, na faculdade, no
restaurante, no shopping e na discoteca.
Aqueles que não convivem com eles têm dificuldade de aceitar
o comportamento aparentemente desrespeitoso, porém o fato é que se chamado a se
defender, eles não hesitarão a ser o primeiro a se apresentar.
O que acima afirmo não é fruto de leitura ou elucubração
intelectual, é o resultado de dois anos de experiência in loco. Eles não são
perfeitos, são somente humanos.
Eduardo Magossi É interessante notar que este processo
acontece em um momento em que a extrema-direita está em ascensão nos principais
países europeus. Nunca na história esses extremistas ocuparam tantos assentos
no parlamento europeu.
Alcino Eduardo Bonella penso desrespeitoso brincar num lugar
desses, com as vítimas da época e com as vítimas atuais de práticas similares
Sérgio Cerviño Rivero Tema delicadíssimo... Gosto da leitura
fílmica de Matty Brown, videomaker americano, sobre o tema, em
"Bipoland"... http://vimeo.com/60002414
Michel Neumark Sergio Cervino Rivero, nao se iluda...a
Polonia continua sendo, talvez, o pais mais antisemita que existe! Os sermões
nas Igrejas aos domingos pregam pelo fim dos judeus!
Danielle Naves Não faz sentido tentar controlar esse tipo de
"expressão". Não é nem banalização do mal nem zueira com o monstro
hitler. São nuances na própria cultura judaica, que se entranha no passado do
extermínio, se mistura na memória fragmentada dos jovens, que se compõe de
diferentes direções e ideologias. Ou seja, uma cultura plural, como a nossa.
Nós certamente também temos jovens que fazem piada de nossos ditadores,
torturadores... vai saber.
Meiry Lucia Ferreira Ferreira Até hoje, nada relacionado ao
holocausto me faz rir, você está certo Professor ao dizer que: " A melhor
forma de lidar com o Mal não é ter medo dele, é rir dele. (Claro que não se ri
do sofrimento, mas além disso é bom lembrar que são jovens, numa cultura que
nem mais vê o nazismo como ameaça)." Visto por este angulo, rir é o melhor
remédio, mas a questão do holocausto a pelo menos para mim, jamais será vista
desta forma, como algo que não me ameaça mais e portanto posso rir dele. Se
estes jovens conseguem rir, a meu ver é algo pra se preocupar sim, considero a
Banalização do Mal, como disse Hannah Arendt.
Sidney Pires Não consigo ver como o sofrimento pode ser
motivo de riso. Há uma dialética opressor-oprimido que complica muito uma
análise dessas atitudes. O que sobreviveu do nazi-fascismo? Também não tenho
tanta certeza de que o nazismo não seja mais uma ameaça... quando ouço o
noticiário sobre as negociações de paz e o que Israel tem pratica para defender
o território sinto que houve muita incorporação da prática pela qual foram
oprimidos.
Renata Gomes talvez, a discussão seja sobre a sacralização
do evento (que foi terrível, sem dúvida!), mas é possível cultivar a memória
sem a sobrevivência da experiência da dor?! então poderíamos pensar que só é
possível a conservação da lembrança pelo medo não do mal em si, mas da
desvinculação da experiência da dor.
Renato Janine Ribeiro "A vida é bela", com Roberto
Begnini, e "Ele voltou", o romance recente de Tibur Vermes, mostram
um horror tornado ridículo. Mas é um fio de navalha que separa sentir a dor da
perda de entes queridos e achar ridículos os antigos ditadores.À medida que aumenta a distância da II
Guerra, tb diminui a lembrança do horror - e isso é natural. Sem dúvida, isso
choca, às vezes, os mais velhos. E tambem entra a leveza, o hedonismo da
juventude, que são traços distintivos de nosso tempo. Com aspectos negativos,
mas tb positivos.E o curioso é que Israel se construiu
contra o genocídio de judeus, mas tb em ruptura com os judeus do passado. Isaac
B Singer conta seu encontro com Menachem Begin, que a certa altura começou a
berrar com ele que a língua idiche era língua de derrotados, e o hebraico, de
vitoriosos.
Carla Sollberger____ Renato, estive em Auschwitz e Birkenau. Lá,
não tem jeito de rir do mal. É opressivo demais, densamente doloroso. Mas tento
entender o ponto de vista dos jovens israelenses. A distância no tempo, a
juventude e a superação colocam uma medida diferente
Cy Garcia______ O que Arendt fala é sobre o quanto o mal é banal,
em Eichmann em Jerusalém.
Rui Donato_____ Excursões escolares, professor, e o comportamento
animado nelas dos adolescentes, só podem chocar longevos que, idealisticamente,
queiram atribuir uma tarefa de ritual a tais eventos. Os adolescentes, lidando
com o vigor etário dos apelos da sexualidade, têm bem mais com o que se ocupar
para amuarem-se com antanhos acerca dos quais nada deles pode redimir ou
alterar. Talvez o "desespero em Israel" não seja senão uma denegação,
uma forma secundária, racionalizada, de expressão de insensibilidade necessária
por útil, uma falsa-consciência assumida, posto que o horror (ainda que
desprovido da sofisticação industrial de Auschwitz) não carece de ser para eles
buscado na longínqua Polônia, cometem-no vexatória e continuamente ali mesmo no
que sequer dista para vizinho ser, na Palestina. Do que se fala ou se sente,
bem melhor rumo para situar a realidade é aquilo que se faz. Saudações.
Edi Mello_____ adolescentes precisam ser irreverentes... na
escola em que fiz o ginásio, havia dois canhões do tempo da colonização...muito
bonitos, colocados no jardim da escola e sempre mencionados como uma
preciosidade que lembrava nosso heróis nacionais... pois bem, um dia os canhões
apareceram pintados de cor de rosa... não creio que seja comparável com o
acontecido em Israel , mas talvez a intenção fosse a mesma... desafiar o mundo
dos adultos....