A língua portuguesa nasceu no fogo da guerra
dos humildes, oprimidos e periféricos do Noroeste Ibérico. Língua com raízes
romano-célticas, temperada com o povo local da Lusitania e Galécia, mais
suevos, alanos e Borgonha, criando uma nova sociedade, um novo Estado na luta
incessante contra invasores e suas línguas opressoras. Cada fogo somente a torna
mais poderosa porque expressa uma comunidade, na luta e defesa da sua língua e
vida social. Historicamente a língua portuguesa só cresceu quando os fatores
democráticos e populares conseguiram triunfar. As Gentes Cristãs do Minho a
tentar sobreviver. Na Criação de Portugal contra almorávidas, almoádas, mouros
e árabes. Na Crise de 1383-1385 contra castelhanos. Na Guerra de Restauração,
depois de 1641, em grande guerra mundial pela sua sobrevivência contra Holanda
e Espanha. Nas Guerras Napoleônicas forjando a unidade brasileira. A língua
portuguesa foi capilarizada, ampliada e miscigenada na conquista e colonização
do Brasil pelos seus falantes, os antepassados dos brasileiros coloniais,
nossos antepassados, marinheiros, fazendeiros, bandeirantes, pioneiros e
povoadores, juntos com todos aqui reunidos, de uma maneira ou de outra. Índios
destribalizados e violentados nas suas origens. Africanos vendidos e banidos
das suas origens. Europeus expulsos e afastados de suas origens. Nativos,
escravos, migrantes e outros recuperam suas vozes e identidades com a mesma
língua e a influenciam ativamente. Quer o destino novamente que se torne língua
de luta de expressão de direitos políticos, agora no século XXI, de imensa
massa ainda sem voz na metade da América do Sul, para realizarem mais uma vez o
seu destino glorioso surgido a partir do fogo das lutas populares, tal como há
mil anos nos confrontos dos fogos da existência.
Ricardo Costa de Oliveira