sábado, 15 de setembro de 2012
Dois Poemas de Yu Xuanji
Poetisa chinesa (844-869 d.C.)
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EM RESPOSTA A POEMA DE MEU NOVO
VIZINHO A OESTE, CONVIDANDO-O
E PEDINDO-LHE VINHO
Teu poema chegou e catei-o cem vezes
cada novo sentido em um som como ouro
Busco oeste: estou pronta a vencer tua cerca
À distância, não vai o coração virar pedra?
É tão longe a Via Láctea, vazio o horizonte
Desafina-se a cítara e os rios se acordam
Tremo à falta de casa neste inverno frio
Tens bom vinho: esta noite, não bebas sozinho!
• • •
A PARTIR DE POEMA DE UM RECÉM-APROVADO CANDIDATO AO SERVIÇO PÚBLICO, EM LUTO PELA MORTE DE SUA MULHER
I
Aos imortais perdem-se as coisas deste mundo
Outonos passam como apenas um momento
Fica às cobertas o calor do amor recente
Do papagaio à jaula o eco ainda circunda
O orvalho cobre as flores, rostos que se velam
O vento verga em sobrancelhas os chorões
Nuvens dissipam-se entre cores, tornam à sombra
Pan Yue lamenta e seu cabelo acolhe a neve*
II
Da cássia, um galho ergue-se à lua, encontra a névoa
Vermelho à chuva: ao rio, mil pessegueiros brotam
À frente, ofertam vinho; aceita, enche teu copo:
são alegria e dor unidas pelos séculos
___
* *Pan Yue (247-300) foi um poeta da Dinastia Jin (265-316, Jin do Oeste) famoso por sua beleza e pela poesia de luto e melancolia. Seus “Três Poemas para Minha Esposa Morta” são particularmente aclamados. Sobre ele se diz que, quando da morte da esposa, seu cabelo tornou-se branco da noite para o dia. Sua história pessoal é associada em textos chineses ao amor inconsolável diante da morte e entregue a um luto infindável – em Yu Xuanji, há um sentido de entrada na imortalidade pelo luto, que projetaria o amor para além “desta” vida.
Mais sore Yu Xuanji:
http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=4855
Remorso
Às vezes, uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando.
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.
Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!
Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude,
Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!
Olavo Bilac
Nestas ânsias e dúvidas em que ando.
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.
Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!
Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude,
Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!
Olavo Bilac
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