quinta-feira, 1 de julho de 2010
Geométrica e Quadro ao contrário de Magritte
Por Ana Paula Ferraz – Cronópios
Geométricas
I
O triângulo amoroso é
um círculo vicioso.
II
De um ângulo agudo, ela perguntou:
- de que lado você está?
III
O amor é assimétrico.
***
Quadro ao contrário de Magritte
Eu vejo pelos ombros o caminhante percorrendo as montanhas.
Ele quer o doce e escuro poço
e encontra
e molha os dedos
e abre
o pequeno orifício
que atravessa rompendo, em rompantes
acariciando copas, apalpando o fruto
invadindo os pomares
atrás do vale.
Tudo ele toma, em mergulho, até que a terra arde.
Assim descubro, fundamente
(já são suaves as mãos de sombra –
ele é quase folha caída)
: amar é uma brutalidade.
***
porque os tempos são de guerra e a pista é vazia
desejei o colo do tanque
do canhão.
e assim amei o imoldável
até descolar pele de metal e perceber
os curtos braços
o longo asfalto
a pouca vista.
ficou em lugar algum minha luta
, que era outra.
blindado não abraça
e fui esmagada de cima dos trilhos.
***
Numa esquina do seu pescoço
sua maciez de pão
me cortou
os dentes.
Rente, encarei
que a nuca é sem rosto
e, ali, nem a solidão
existe.
Ficou claro -
o amor não passa
de um quadro ao contrário
de Magritte.
***
sou feita de profundezas
gargantas íntimas, uterinas
e grito –
estou de ecos até o pescoço.
nessas estreitezas de quente/frágil
sublimes vapores se adensam
ao toque
de amígdalas e estalagmites.
***
aqui molhamos os pés na areia -
somos uns secos bancos brancos
cabisbaixos, desmergulhados
que confundem suas costas rasas
a de baleias.
Ana Paula Ferraz é poeta paulistana da safra 1979. Participa do Coletivo Vacamarela, responsável pelo jornal O Casulo de Literatura Contemporânea e pela FLAP!, entre outros eventos literários.
E-mail: anapaulaferraz3@gmail.com
Geométricas
I
O triângulo amoroso é
um círculo vicioso.
II
De um ângulo agudo, ela perguntou:
- de que lado você está?
III
O amor é assimétrico.
***
Quadro ao contrário de Magritte
Eu vejo pelos ombros o caminhante percorrendo as montanhas.
Ele quer o doce e escuro poço
e encontra
e molha os dedos
e abre
o pequeno orifício
que atravessa rompendo, em rompantes
acariciando copas, apalpando o fruto
invadindo os pomares
atrás do vale.
Tudo ele toma, em mergulho, até que a terra arde.
Assim descubro, fundamente
(já são suaves as mãos de sombra –
ele é quase folha caída)
: amar é uma brutalidade.
***
porque os tempos são de guerra e a pista é vazia
desejei o colo do tanque
do canhão.
e assim amei o imoldável
até descolar pele de metal e perceber
os curtos braços
o longo asfalto
a pouca vista.
ficou em lugar algum minha luta
, que era outra.
blindado não abraça
e fui esmagada de cima dos trilhos.
***
Numa esquina do seu pescoço
sua maciez de pão
me cortou
os dentes.
Rente, encarei
que a nuca é sem rosto
e, ali, nem a solidão
existe.
Ficou claro -
o amor não passa
de um quadro ao contrário
de Magritte.
***
sou feita de profundezas
gargantas íntimas, uterinas
e grito –
estou de ecos até o pescoço.
nessas estreitezas de quente/frágil
sublimes vapores se adensam
ao toque
de amígdalas e estalagmites.
***
aqui molhamos os pés na areia -
somos uns secos bancos brancos
cabisbaixos, desmergulhados
que confundem suas costas rasas
a de baleias.
Ana Paula Ferraz é poeta paulistana da safra 1979. Participa do Coletivo Vacamarela, responsável pelo jornal O Casulo de Literatura Contemporânea e pela FLAP!, entre outros eventos literários.
E-mail: anapaulaferraz3@gmail.com
Assinar:
Postagens (Atom)