"Patriotismo no Brasil é ignorância, primeiro
linguisticamente. Com nosso monolinguismo, quem não tem condições de ler outras
línguas pensa que o que acontece em seu país é tudo, é o máximo. Uma merda! Eu
leio inglês, francês, latim, grego, russo e então posso confrontar. Não preciso
ficar com Ferreira Gullar. Eu leio Maiakóvski em russo, que viveu oitenta anos
antes dele. Não preciso ler Rosa, leio Joyce no original. Desconhecer o que
está lá fora é a base desse nosso patriotismo, sinônimo de ignorância. Compare
um conto de Dalton Trevisan com um conto de Borges. Nem dá. Você vai comparar o
quê? 'A guerra conjugal' com 'O Aleph', com 'O Imortal'? Do ponto de vista de
criação verbal, de criação do novo imaginário, não tem nada. Nós somos pobres,
somos miseráveis em tudo. Nós só temos pra frente, pra trás não temos
nada."
Paulo Leminski
Entrevista publicada no jornal Nicolau, n. 19, janeiro de
1989. (5 meses antes da morte do poeta)