terça-feira, 8 de dezembro de 2015

REFLEXÕES NA MADRUGADA INSONE



"Sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora
e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB", escreveu Michel Temer na carta à Dilma, revelada pelo craque Jorge Bastos Moreno. E eram confiáveis o vice e seu partido? A carta repleta de mágoas me causou algumas impressões:
1) Temer escancarou a importância da distribuição de cargos nesse já carcomido sistema de presidencialismo de coalizão. Há pelo menos três parágrafos com referências a nomeações e distribuição de emendas. Tenho a impressão de que já fomos mais discretos (ou cinicos).
2) O vice ameaça Dilma, apresentando-se como o nome capaz de unificar o país, já que seria o único a dialogar com a oposição. Não é à toa que ele cita DEM, PSB e PV, legendas com colorações ideológicas variadas. Temer se coloca como herói do impeachment, para aglutinar o apoio de quem se sente desconfortável com as manobras de Eduardo Cunha. Vai ser difícil acreditar na imagem legalista que o vice gosta de exibir publicamente.
3) Se há cinco anos o vice se sente desrespeitado pela presidente, por que aceitou encabeçar com ela a chapa da reeleição? E, tendo feito, esperou pela mais grave crise institucional para desembarcar do governo e despejar suas mágoas. Claramente, o vice abraça a possibilidade de assumir a Presidência. Sublinha, inclusive, seu programa econômico, que sugere ter respaldo da sociedade.
3) Vejo, nas entrelinhas, uma velha estratégia masculina de
inverter culpa e sugerir que foi "obrigado a trair". (Esta é uma observação de gênero. Muitos não entenderão.)
4) Por fim, como se diz nos procedimentos de emergência da aviação: "Em caso de despressurização, máscaras cairão"... No Brasil, agora, está tudo às claras, sem máscaras. É questão de escolher o lado.


Flavia Oliveira é jornalista de O Globo
Minha hipótese para as causas das instabilidade em que vivemos, desde os tempos do mensalão, é a seguinte: o principal partido brasileiro, o PT, opera segundo uma lógica majoritária (culto ao lulismo, necessidade psíquica de uma "polarização imaginária" com PSDB; reivindicação de cabeça de chapa até em eleição para síndico de prédio; estabelecimento de agenda top down), enquanto o sistema político brasileiro gera uma pressão por uma lógica consensual. Quando as duas ondas não estão em sintonia, aparecem as crises, que não são infrequentes. FHC, por incrível que pareça, operava bem no modelo consociativo daí que seu governo tenha sido mais estável, mesmo com políticas de governo menos progressistas e de menor apelo popular que o PT. Os próprios escândalos de corrupção já são um sintoma dessa dissonância.

Sérgio Braga
Nenhuma novidade e todos sabiam disto. Temer e partes fisiológicas do PMDB sempre foram o que são - traíras, perguntai ao falecido Ulysses Guimarães e todos sempre conviveram com isto porque não havia outra opção. Entraram na vice do PT para se tentar evitar que fossem para o condomínio da direita do PSDB. O PT sozinho nunca teve parlamentares suficientes para governar o Brasil, mas conseguiu grandes avanços sociais possíveis e conseguiu evitar um governo entreguista do PSDB nos últimos 13 anos. A extrema esquerda e outras virtualidades delirantes da política, tipo junho de 2013, especializados em criticar 24 h por dia o único governo real e existente da esquerda competitiva, juntaram-se ao condomínio da direita no assalto ao poder, sem votos populares presidenciais e apostando sempre na teoria do caos. Dilma, o campo progressista dos partidos, inclusive setores do PMDB e dos movimentos sociais, com suas suas entidades, podem reunir força política para evitar o indesejado Desgoverno Temer-Cunha, logo Só-de-Cunha, o sonho de consumo de muitos ex-petistas raivosos, desde que não conseguiram espaços-cargos no passado, até os mesmos fascistas de plantão urubólogos. Boa parte da classe dominante brasileira apresenta uma grande composição desejosa do atraso e do golpe, chegar ao poder sem votos populares. Quem sofreria e pagaria o preço do grande retrocesso seria o povo brasileiro mais carente e vulnerável.

Ricardo Costa de Oliveira
Abrindo a temporada de retrospectivas, seguem as duas maiores besteiras políticas que ouvi no ano: a) a Venezuela é uma "ditadura bolivariana" e, se a oposição ganhar, haverá uma guerra civi pois o chavistas não deixarão a oposição tomar possel; b) Cunha será preso por "corrupção" e não comandará o processo de impeachment pois a classe média brasileira é "ética" e não deixará isso ocorrer. Prevejo que a terceira será: c) se o impeachment ocorrer não será tão ruim para o PT porque Lula voltará em 2018, e não sofrerá o desgaste provocado pela crise econômica. Não me surpreende que Ciro Gomes tenha virado o novo guru "das esquerda"....O papel aceita tudo, faço votos para que todos passem o Natal soltos ou em liberdade condicional.



 Sérgio Braga