Pensar talvez não fosse
Pensar talvez não fosse a fórmula, o segredo,
senão dar-se e tomar perdida, ingenuamente,
talvez tenha podido eleger, ou necessariamente,
tinha que pedir sentido a toda coisa.
Talvez não fosse viver este estar silenciosa
e impiedosamente à beira da angústia
e este teimoso sentir por sob a sua música
um silêncio de morte, de abismo em cada coisa.
Talvez devesse quedar-me nos amores quietos
que poderiam encher minha vida com um nome
ao invés de buscar o evadido do amante,
despojado, sem alma, ser puro, esqueleto.
Pensar talvez não fosse a fórmula, o segredo.
senão amar-se e amar, perdida, ingenuamente.
Talvez pudesse subir como uma flor ardente
ou ter um profundo destino de embrionária
ao invés desta terrível lucidez amarela
e deste ser como estátua de olhos vazios.
Talvez tenha podido dobrar este meu destino
em música inefável. Ou necessariamente...
Idea Vilariño [trad. Matheus Pazos]