sexta-feira, 23 de maio de 2014

Henrik Johan Ibsen

Henrik Johan Ibsen (Skien, 20 de Março de 1828 — Cristiânia, 23 de Maio de 1906) dramaturgo norueguês, considerado um dos criadores do teatro realista moderno. Foi o maior dramaturgo norueguês do Século XIX. Foi também poeta e director teatral, sendo considerado um dos fundadores do modernismo no teatro . Entre os seus maiores trabalhos destacam-se Brand, Peer Gynt, Um Inimigo do Povo, Imperador e Galileu, Casa de Bonecas, Hedda Gabler, Espectros, O Pato Selvagem e Rosmersholm.

Marisa Soveral

NADA RETIENE BAJO SU LUZ



Ningún camino me pertenece
ni yo soy suyo para nada. ¿Quién atesora
migraciones de nubes a la orilla del viento?
Abro los días por la puerta del mar
y en las corrientes planto mi casa, bebo
los torbellinos.
La luna me comprende con estaciones de intimidad
y luego vamos cada quien, ella creciendo
con mi lumbre por dentro, yo con la capa
de los jinetes a pleno sueño.
Ondulaciones en la hierba, sé sus andanzas
de lluvia o sol, y el vencimiento de los árboles
muertos por hacha, y el corazón
abierto de las piedras.
Nada retiene bajo su luz, y así mi abrazo
rodea las cinturas de las espumas
y cuando nazco de raíz pienso en el aire
y el horizonte sobre mi mano.
Se me vuelve un tesoro
los días del universo.
Sus regalos destellan
por el instante de mi voz
y pronuncio la fuga de las arenas en mi puño
con júbilo las estrellas

y hago silencio.


ELEAZAR LEÓN (VENEZUELA, 1946-2009)
É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!
Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo.

"Fernando Pessoa"

EU E UMA VELHA NEGRA LUXURIOSA


Anos atrás uma haitiana
durante uma consulta de vudu
em Guantánamo
disse que voava sobre minha casa
através das noites
em forma de coruja
E assim foi
a partir daquele dia
ao longo de muitos anos
uma coruja sobrevoava minha casa
cantava tetricamente
e seguia voando apressada
Também começaram a aparecer extraterrestres
que durante as noites banhavam-se no mar em frente de casa
De vez em quando invadiam meu quarto
e a sala da vizinha
Até apareceu um deles
com o corpo de mexicano de Sonora
Nessa época descobri que minha mulher
Era uma bêbada insaciável e belicosa
e que eu também era um bêbado violento
com paixão assassina até às balas e punhais
Também descobri que não gosto de Shakespeare
e nada que seja canônico ou sirva de modelo
Detesto os teóricos da literatura
com suas normas e classificações bem ordenadas
Muito menos suporto a vida de casado
nem os governos autoritários e repressores
nem as sessões dos Alcoólicos Anônimos
Descobri que a vida é perigosa
quando se tem princípios próprios
sobretudo
quando se tem princípios próprios demais
e que minha geração sobrevive
agarrada ao desencanto e à fúria
e o melhor que se pode fazer é distanciar-se de tudo
e viver
numa pequena casa de frente para o mar
Uma casinha de madeira
onde o vento assobie pelas frestas
acompanhado de uma negra velha e luxuriosa
pervertida e desenfreada
Assim poderia chegar a um final aceitável
(nem pensar num final feliz)
De frente para o mar
com uma negra velha
suja e meio louca
como eu.
Pedro Juan Gutiérrez

poeta e escritor cubano
traduzido por Marcos Losnak
Poema publicado na revista Coyote #5
Quem estiver procurando este e outros números da revista encontra aqui:

ABISMO


Não vejo a flor. A flor exala perfume. O perfume desabrocha. Ali eu cavo a minha cova. Também não vejo a cova. Dentro da cova que não vejo sento-me. Deito-me. Novamente a flor exala perfume. A flor, não a vejo. O perfume desabrocha. Esqueço e mais uma vez cavo a minha cova ali. Não vejo a cova. Entro na cova que não vejo esquecendo-me da flor por um lapso. Deito-me de verdade. Aaah. Novamente a flor exala perfume. A flor que nem vejo, a flor que nem vejo.

Yi Sang
Poeta coreano, traduzido por Yun Jung Im
Poema publicado na revista Coyote #8
Quem estiver procurando este e outros números da revista encontra aqui:


VIDA EM RETIRO : ÚLTIMO OUTONO


lugar ermo : nenhuma pegada
de poucos me despeço : na entrada
dedos do poente : medito a sós
o coração rebrota : degustando a paz
jardim pleno : sem varrer : outono
na mão sopeso : galho de glicínias
em retiro : tantas folhas secas
piso minhas lembranças : ecos amarelos

Po Chü-i
tradução de Maurício Arruda Mendonça

na revista Coyote #5.

y el mundo--
qué sería del mundo
sin la naranja
que abajo le llora entre los eucaliptos
qué sería del mundo
sin que estés corriendo la cortina
para decirle adiós
y contigo se vaya a destejer el hilo
de los estambres
una noche cualquiera

©Antonio Arroyo Silva
III
Te fuiste con la niebla a engañar a tus ojos
buscando otra mirada.
Te fuiste con la luz a cazar mariposas
y cazaste tus ojos.
Felonía de ser: asumir el fulgor:
renegar de la sombra.

Antonio Arroyo Silva 

Caballo de la luz, El Vigía Editora, Santa Cruz de Tenerife, 2010.
Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma tranquilidade lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
- Álvaro de Campos [Heterônimo de Fernando Pessoa], (escrito em 24.06.1935), In Poesia, Assírio e Alvim, ed. Teresa Rita Lopes, 2002.
http://www.elfikurten.com.br/2013/01/fernando-pessoa-o-poeta-de-multiplos-eus_30.html

I love a Russian birch

I love a Russian birch.
Sometimes she's light,
but at other times she's sad.
In the white sundress,
kerchiefs in her pockets,
with beautiful clasps
and green earrings.
I love her standing over the river
in her festive mantle.
Sometimes she is bright and exuberant;
sometimes she's sad and crying.
I love the Russian birch.
She's always with her girlfriends
dancing in the spring
and kissing, as it happens.
She goes to where she'd want to
and sings at places nobody else does.
In the wind, she bows to her feet,
and bends, but does not break!


Alexander Prokofiev (1900 — 1971)