sábado, 8 de dezembro de 2012

DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS




A viração desatava os cabelos lisos e negros de Flor,
punha-lhe o sol azulados reflexos.
No barulho das ondas e no embalo do vento.

Rompeu a aldeia sobre o mar de Itapoã,
a brisa veio pelos ais de amor, e,
num silêncio de peixes e sereias,
a voz estrangulada de Flor em aleluia;
no mar e na terra aleluia, no céu e no inferno aleluia!

Jorge Amado

ABC DE CASTRO ALVES



“A praça do povo, amiga, como o céu é do condor”.
A praça é do povo, é o seu campo de batalha, onde ele protesta e luta.
Nãos vistes ainda a multidão se agitar na praça como um mar em tormenta que destrói navios e invade o cais?

          No tempo do poeta Castro Alves
          Os negros eram escravos comprados em leilões,
          Mercadoria que se vendia, trocava e explorava.
          E em troca de tudo que eles deram ao branco,
          Sua força, seu suor, suas mulheres e filhas,
          A maciez da sua fala que adoçou a nossa fala,
          Sua liberdade,
          O branco lhe quis dar apenas,
          Além do chicote, os deuses que possuía.

          Mas deuses os negros traziam da África,
          Os deuses da floresta e do deserto,
          E continuaram fiéis aos seus deuses
          Por mais que rezassem ao deuses
          Dos seus donos.

          Do fundo das senzalas vinha o choro convulso
          Dos negros no bater dos atabaques,
          Quando chegava do longínquo das praças
          A inquietação do homens...
          Era toda uma raça que sofria,
          Se desesperava e reagia,
          Conservando alguma coisa de seu,
          Puramente seu.

          ......

          Assim ele via o negro, magnífico, forte e belo,
          Rompendo as cadeias, livre na sua força colossal..l.


Jorge Amado 

NOITE DOS “CAPITÃES DA AREIA”



A cidade dormiu cedo.
A lua ilumina o céu, vem a voz de um negro do mar  em frente.                                                 
Canta a amargura da sua vida desde que a amada se foi.
No trapiche as crianças já dormem.

A paz da noite envolve os esposos.
O amor é sempre doce e bom, mesmo quando a morte está próxima.
Os corpos não se balançam mais no ritmo do amor.
Mas no coração dos dois meninos não há nenhum medo.
Somente paz, a paz da noite da Bahia.

Então a luz da lua se estendeu sobre todos,
as estrelas brilharam ainda mais no céu,
o mar ficou de todo manso
(talvez que Iemanjá tivesse vindo também a ouvir música)
e a cidade era como que um grande carrossel
onde giravam em invisíveis cavalos os Capitães da Areia.

Vestidos de farrapos, sujos, semi-esfomeados, agressivos,
soltando palavrões e fumando pontas de cigarro,
eram, em verdade, os donos da cidade,
os que a conheciam totalmente,
os que totalmente a amavam,
os seus poetas. 


Jorge Amado

TENDA DOS MILAGRES



Rosa sempre chega assim, inesperada, vem de súbito.
Da mesma forma inconseqüente desaparece...
Fuxicos, arengas, xeretices, pois em verdade
Ninguém sabe nada de concreto sobre Rosa.
Rosa brincava com as algas, todos os ventos em seus cabelos.
Todos os ventos, do norte e sul, o vento terrível do noroeste.
Na canoa ancorada ela deitava, a cabeça de fora, o cabelo no mar.
Parecia cabeça sem corpo, saindo d´água, dava arrepio.
Rosa maluca, Rosa do cais, tanta vezes mentias!

Jorge Amado


Aquilo a que chamam amor é bem pequeno, bem restrito, e bem fraco, comparado à inefável orgia, à santa prostituição da alma que se dá toda inteira, em poesia e caridade, ao imprevisto que se mostra, ao desconhecido que passa.
É bom ensinar por vezes aos felizes deste mundo, nem que seja só para os humilhar um instante no seu estúpido orgulho, que há felicidades superiores às deles, mais vastas e mais delicadas. Os fundadores das colônias, os pastores de povos, os padres missionários exilados no fim do mundo, conhecem sem dúvida qualquer coisa destas misteriosas ebriedades; e, no seio da vasta família que o seu gênio constituiu, devem rir-se algumas vezes daqueles que os lamentam pela sina tão revolta e pela vida tão casta.

Charles Baudelaire


O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa.
 
 

O semblante do primeiro Satã era de um sexo ambíguo, e havia
nas linhas do seu corpo a molície dos antigos Bacos. Os belos
olhos lânguidos, de cor tenebrosa e indecisa, assemelhavam-se
a violetas carregadas, ainda, das pesadas lágrimas da
tempestade(…).
Fitou-me com os seus olhos inconsolavelmente aflitos (…) e
disse-me em voz cantante:
– Se quiseres, se quiseres, eu te farei o soberano das almas, e tu
serás o senhor da matéria viva, ainda mais do que o escultor o
pode ser da argila; e conhecerás o prazer, ininterruptamente
renovável, de sair de ti mesmo para te esqueceres em
outrem, e de atrair as outras almas até confundi-las com a
tua.
 
 
Charles Baudelaire. 
Pequenos Poemas em Prosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. p. 59-60.

Tesitura




Ylia Kazama

1

Hoy tengo un deseo que me hace nueva…
Mi intención “hombre de agua” es:
obsesionarte con mi beso;
amarte con fascinación,
con adoración ferviente.
Haremos el amor… delicadamente.

2

Cuando tu boca apenas me roza
me convierte en una parcela llena de humedad.
Me seduces a la liviandad.

3

Mi liviandad tu la provocas, con tu mirada de beso
con tu beso de … quiero!.

4

Tu cuerpo cálido es una invitación abierta al amor.
No sólo a la demostración física…
Hablo del sentimiento vasto e infinito.
De la pasión que no decrece con la presencia,
de la que se intensifica con la ausencia.
Hablo de lo que me inspira
tu esencia y contexto.
Lleno de defectos, que bien claro miro
y no me asusta; que asumo como algo tuyo.
Hablo de algo muy sencillo:
del amor que por ti siento.

5

Me encanta como suenas,
tu sabor, olor
y textura.
Me fascina como piensas,
tu manera de mirar
y locura.

6

A qué sabrá tu boca en la mañana?
A membrillo?, a durazno?… a limón!.
Cómo se oirá tu corazón en la mañana?
Cómo un tambor?… cómo trombón?… cómo canción!.
Cómo despertaras después de “eso”, en la mañana?
Humanamente?… amantemente?… Amadamente!.

7

La noche es un milagro.
Transitar por ella me hace vasta.
La obscuridad es vulnerabilidad
en espacio impenetrable.
Vulnerabilidad es la obscuridad.
Vasta me hace transitar por ella.
Es un milagro la noche

8

Mientras despierta sueño,
que soy tu sueño.
Que sueñas
que te sueño
y así… no duermo.

9

Pienso que estoy en tu pensamiento
que piensas que te pienso
y así…. me duerme.

10

La noche ya llego… estoy dispuesta al amor.
Dispuesta a tu amor… amanezco.

11

Acontece que amanece cuando el amor llega.

12

Vengo a descubrir que la inspiración
algo te la da.
Sólo falta un beso… te besan y ya!.

13

No sé sí estoy inspirada o sólo enamorada.

14

Entre el amor, la noche, el sueño,
la realidad, el deseo;
la pasión y la ternura
está la tesitura.