O semblante do primeiro Satã era de um sexo ambíguo, e havia
nas linhas do seu corpo a molície dos antigos Bacos. Os belos
olhos lânguidos, de cor tenebrosa e indecisa, assemelhavam-se
a violetas carregadas, ainda, das pesadas lágrimas da
tempestade(…).
Fitou-me com os seus olhos inconsolavelmente aflitos (…) e
disse-me em voz cantante:
– Se quiseres, se quiseres, eu te farei o soberano das almas, e tu
serás o senhor da matéria viva, ainda mais do que o escultor o
pode ser da argila; e conhecerás o prazer, ininterruptamente
renovável, de sair de ti mesmo para te esqueceres em
outrem, e de atrair as outras almas até confundi-las com a
tua.
Charles Baudelaire.
Pequenos Poemas em Prosa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1980. p. 59-60.
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