sábado, 6 de julho de 2013
Eu não gosto de falar de felicidade
"Eu
não gosto de falar de felicidade, mas sim de harmonia: viver em harmonia com a
nossa própria consciência, com o nosso meio envolvente, com a pessoa de quem se
gosta, com os amigos. A harmonia é compatível com a indignação e a luta; a
felicidade não, a felicidade é egoísta."
- José Saramago, in 'La
Jornada' (1998).
Grande Sertão: veredas
"Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é
que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se
alteia e abaixa... O mais difícil não é um ser bom e proceder honesto,
dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o
rabo da palavra."
- João Guimarães Rosa
'Lavoura Arcaica
“... rico só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a
conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas
disposições, não se rebelando contra o seu curso, não irritando sua corrente,
estando aberto para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber
dele os favores e não a sua ira; o equilíbrio da vida depende essencialmente
deste bem supremo, e quem souber com acerto a quantidade de vagar, ou a de
espera, que se deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco, ao buscar por
elas, de defrontar-se com o que não é.”
- Raduan Nassar
Quando nós estávamos na guerra
Quando nós estavamos na guerra,
Quando nós estavamos na guerra,
Lá cada um pensava
na sua amada ou esposa.
Lá cada um pensava
na sua amada ou esposa.
E eu, é claro, poderia pensar,
E eu, é claro, poderia pensar,
Quando olhava para o cachimbo,
para a sua fumaça azul,
Quando olhava para o cachimbo,
para a sua fumaça azul,
Como você um dia mentiu pra mim,
Como você um dia mentiu pra mim,
Mas o seu coração de menina
há muito entregara a outro.
Mas o seu coração de menina
há muito entregara a outro.
Mas eu não pensei nisso,
Mas eu não pensei nisso,
E apenas fumava
o tabaco amargo turco no cachimbo
E apenas fumava
o tabaco amargo turco no cachimbo
Eu só estou esperando a bala certa,
Eu só estou esperando a bala certa,
Para acabar com a minha tristeza
e para aniquilar nossa inimizade.
Para acabar com a minha tristeza
e para aniquilar nossa inimizade.
Quando nós estivermos na guerra,
Quando nós estivermos na guerra,
Voarei ao encontro das balas
no meu cavalo preto.
Voarei ao encontro das balas
no meu cavalo preto.
Mas aparentemente a morte não é pra mim
Mas aparentemente a morte não é pra mim
E de novo o meu cavalo preto
me traz de volta do fogo
E de novo o meu cavalo preto
me traz de volta do fogo.
~em russo~
Когда мы были на войне
Когда мы были на войне,
Когда мы были на войне,
Там каждый думал о своей
Любимой или о жене.
Там каждый думал о своей
Любимой или о жене.
И я, конечно, думать мог,
И я, конечно, думать мог,
Когда на трубочку глядел,
На голубой ее дымок,
Когда на трубочку глядел,
На голубой ее дымок.
Как ты когда-то мне лгала,
Как ты когда-то мне лгала,
Но сердце девичье свое
Давно другому отдала.
Но сердце девичье свое
Давно другому отдала.
Но я не думал ни о чем,
Но я не думал ни о чем,
Я только трубочку курил
С турецким горьким табачком.
Я только трубочку курил
С турецким горьким табачком.
Я только верной пули жду,
Я только верной пули жду,
Чтоб утолить печаль свою
И чтоб пресечь нашу вражду.
Чтоб утолить печаль свою
И чтоб пресечь нашу вражду.
Когда мы будем на войне,
Когда мы будем на войне,
Навстречу пулям полечу
На вороном своем коне,
Навстречу пулям полечу
На вороном своем коне.
Но видно смерть не для меня
Но видно смерть не для меня
И снова конь мой вороной
Меня выносит из огня
И снова конь мой вороной
Меня выносит из огня
Tuca
Faz algum tempo
fomos todos os filmes de amor do mundo
todas as árvores do inferno.
Viajávamos em trens que uniam nossos corpos
à velocidade do desejo.
Como sempre, a chuva caía em toda parte.
Hoje nos encontramos na rua.
Ela estava com seu marido e seu filho;
Éramos o grande anacronismo do amor,
a parte pendente de uma montagem absurda.
Parece uma lei: tudo o que apodrece forma uma família.
Fabián Casas, “Tuca”, Libros de Tierra Firme, 1990.
Prefiro a liberdade perigosa à tranquila servidão
"Acrescentemos que não há forma de governo tão sujeita
às guerras civis e às agitações intestinas quanto a forma democrática ou
popular, porque não há outra que tenda tão forte e continuamente a mudar de
forma, nem que exija mais vigilância e coragem para ser mantida na forma
original. É sobretudo nessa constituição que o cidadão deve armar-se de força e
constância, e ter presente no coração, todos os dias da vida, o que dizia um
palatino virtuoso na dieta da Polônia: Malo periculosam libertatem quam quietum
servitium (Prefiro a liberdade perigosa à tranquila servidão)" (Rousseau)
Renúncia
Chora de manso e no íntimo... Procura
Curtir sem queixa o mal que te crucia:
O mundo é sem piedade e até riria
Da tua inconsolável amargura.
Só a dor enobrece e é grande e é pura.
Aprende a amá-la que a amarás um dia.
Então ela será tua alegria,
E será, ela só, tua ventura...
A vida é vã como a sombra que passa...
Sofre sereno e de alma sobranceira,
Sem um grito sequer, tua desgraça.
Encerra em ti tua tristeza inteira.
E pede humildemente a Deus que a faça
Tua doce e constante companheira...
- Manuel Bandeira, [Teresópolis, 1906. - De Carnaval
(1919)].
Europas Schande
Das neue
politische Gedicht "Europas Schande" von Günter Grass hier in voller
Länge.
Dem Chaos nah, weil dem Markt nicht gerecht,
bist fern
Du dem Land, das die Wiege Dir lieh.
Was mit der
Seele gesucht, gefunden Dir galt,
wird
abgetan nun, unter Schrottwert taxiert.
Als
Schuldner nackt an den Pranger gestellt, leidet ein Land,
dem Dank zu
schulden Dir Redensart war.
Zur Armut
verurteiltes Land, dessen Reichtum
gepflegt
Museen schmückt: von Dir gehütete Beute.
Die mit der
Waffen Gewalt das inselgesegnete Land
heimgesucht,
trugen zur Uniform Hölderlin im Tornister.
Kaum noch
geduldetes Land, dessen Obristen von Dir
einst als
Bündnispartner geduldet wurden.
Rechtloses
Land, dem der Rechthaber Macht
den Gürtel
enger und enger schnallt.
Dir
trotzend trägt Antigone Schwarz und landesweit
kleidet
Trauer das Volk, dessen Gast Du gewesen.
Außer
Landes jedoch hat dem Krösus verwandtes Gefolge
alles, was
gülden glänzt gehortet in Deinen Tresoren.
Sauf
endlich, sauf! schreien der Kommissare Claqueure,
doch zornig
gibt Sokrates Dir den Becher randvoll zurück.
Verfluchen
im Chor, was eigen Dir ist, werden die Götter,
deren Olymp
zu enteignen Dein Wille verlangt.
Geistlos
verkümmern wirst Du ohne das Land,
dessen
Geist Dich, Europa, erdachte.
A vergonha da Europa
Embora próxima ao caos, não para agradar o mercado, longe estás da terra que foi seu berço.
Que com a alma você buscou e acreditou encontrar
Hoje o desejas, pior do que lixo valorizado.
Nu no pelourinho do devedor sofre uma nação para quem das
graças era mais que natural.
País condenado a ser pobre, cuja riqueza
adorna cuidados museus botin por você vigiado
Os que invadiram com armas esta terra bendita de ilhas
levavam, com seu uniforme, Hölderlin na
mochila.
País tolerado e justo, cujos coronéis
toleraste um dia como parceiros.
País sem lei que o poder, que está sempre certo, aperta o
cinto cada vez mais.
Desafiando-te, veste-se de negro Antígona, e todo o país
veste luto hoje o povo cujo hospede eras.
Mas, fora do país, o namoro de parentes de Creso acumulou em
suas câmeras tudo que dourava reluzente
Beba de uma vez, baby! grita o clack dos comissários, mas
com raiva Sócrates retorna seu copo transborda.
Amaldiçoaram os deuses em coro aquilo que pertence a você,
mas sem a sua permissão não pode ser expropriado o Olympus.
Sem esse país vais murchar, Europa, desprovida do espírito
que te concebeu.
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