sábado, 2 de março de 2019
POEMÍNIMO
já vai?
é tarde ainda
fique mais um pouco
deus me livre!
cansou de mim e de meu canto?
quando jovem era outro papo
a esperança cantava
esporro e sopapo
o fim era só o começo
e mais um tanto
meu destino é meu verso!
ainda imaginas
felicidade ao pôr do sol?
já era o dia
é frio o universo
dura a terra
a coruja pia
tuas pálpebras fecham
diante dos teus olhos
o mundo desaparece
Friedrich Holderlin
por antonio thadeu wojciechowski
TRAZER PRA DENTRO DE SI O CÉU COM UM SORRISO
coração, abre as asas sobre a pequena ave!
é dela o segredo das eras antigas !
bem melhor é saber que já ouvi essas cantigas
quem não as ouve está morto e ainda não sabe
meu pensamento caminha pela amplidão,
inaudito, faminto, sedento, juvenil!
mesmo sendo domingo, onde já se viu?,
depois de jovens, homens se enchem de razão
tomara que eu não seja útil ou decisivo
mas que ame mais do que quem mendiga
não há ninguém tão louco que não consiga
trazer pra dentro de si o céu com um sorriso
E. E. Cummings
por antonio thadeu wojciechowski
Hino menino
Já faz muitos anos, mais de dez, quase quinze. Eu não era
nem mãe ainda. Meu pai comentou que a escola fundada por ele não tinha hino,
que a escola precisava de um hino. Entendi aquilo como um convite apelo e tomei
pra mim o desafio de rabiscar num caderninho um refrão e mais duas estrofes.
Para o campo semântico, escolhi termos que sempre foram
caros àquele educador apaixonado: paz, liberdade, abertura, respeito,
aprendizado, criatividade, expressão, amizade, cooperação... Não demorou muito
e, depois de alguns cortes e substituições de palavras para ajustar métrica e
rimas, a letra ficou pronta.
Tentei fazer a melodia também, mas não prestou. Passei,
então, a tarefa para o meu irmão mais novo, que rapidinho solucionou o
problema, ajeitando ritmo e cifras. Botou inclusive uma pausa bem oportuna, que
virou o charme da música.
Já faz alguns anos que a letra do hino vem impressa na
agenda dos alunos da escola, mas eu nunca tinha visto as crianças cantando os
meus versinhos. Depois de tanta história, finalmente eu tive o prazer de
assistir à apresentação do hino pela criançada. Foi na solenidade de
aniversário dos 14 anos da escola, que concentrou na quadra mais de 400 alunos
de educação infantil e ensino fundamental. As turmas de 3º, 4º e 5º anos,
uniformizadas e regidas pela professora de música, fizeram o coro: “Atual é a
vontade de aprender. Atual é o desejo de ser feliz...”.
Eu ouvia a harmonia do conjunto, mas meus olhos se fixavam
mesmo era numa moreninha do 3º ano: minha caçula, muito tímida, mas demonstrando
orgulho de estudar na escola que o vovô e a vovó construíram (hoje administrada
com zelo e dedicação pela vovó, pelo tio e pela tia). A minha primogênita
também estava participando, toda prosa, lá na plateia.
Quanta emoção! E quanta saudade do meu pai, que estaria hoje
com 74 anos. “Quero um mundo criativo e bem aberto (...) Muita paz e muito amor
eu vou plantar.”
Maria Amélia Elói
Postado originalmente no :
http://samizdat.oficinaeditora.com/feeds/posts/default
em : 26 Feb 2019
Es melancolía
Te llamarás silencio en adelante.
Y el sitio que ocupabas en el aire
se llamará melancolía.
Escribiré en el vino rojo un nombre:
el tu nombre que estuvo junto a mi alma
sonriendo entre violetas.
Ahora miro largamente, absorto,
esta mano que anduvo por tu rostro,
que soñó junto a ti.
Esta mano lejana, de otro mundo
que conoció una rosa y otra rosa,
y el tibio, el lento nácar.
Un día iré a buscarme, iré a buscar
mi fantasma sediento entre los pinos
y la palabra amor.
Te llamarás silencio en adelante.
Lo escribo con la mano que aquel día
iba contigo entre los pinos.
Eduardo Carranza. Colômbia, (1913-1985)
Biblioteca Digital Ciudad Seva
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