A Affonso Schmidt
Esta é rua da vida. E a vida se revela,
a rua sem pudor, completamente nua.
Mas, mostrando-se nua, a vida não é bela
e não é boa a vida através desta rua.
O convite que sai da entreaberta janela
tem a fascinação indizível da sua
promessa de pecado ! E, atraída por ela,
a sombra do homem pelas portas se insinua...
Marítimos gingando o corpo forte e suado,
malandros de chinelo, asiáticos franzinos,
toda esta malta vil que o homem detesta
vem deixar, nesta rua, um pouco do passado;
vem cumprir, nesta rua, os seus torvos destinos
para que possa haver a nossa rua honesta !
Cid Silveira(1910)
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