Uma mudança no tempo do coração
Resseca-lhe a umidade; um estampido dourado
Ecoa na tumba glacial.
Uma mudança no território das veias
Transforma a noite em dia; o reflexo solar do sangue
Ilumina os vermes ainda vivos.
Uma mudança nos olhos dissimula
Os ossos da cegueira; e o ventre
Mergulha na morte como a transpiração da vida.
A escuridão no tempo dos olhos
É a metade de sua luz; o mar profundo
Irrompe numa terra sem peixes.
A semente que dos flancos engrendra uma floresta
Divide ao meio seu fruto, e a metade
Goteja devagar no vento adormecido.
O tempo da carne e dos ossos
Torna-se úmido e seco; o vivo e o morto
Se movem como dois espectros diante dos olhos.
Uma mudança no tempo do mundo
Transforma um espectro no outro; cada criança
No útero da mãe repousa em sua dupla sombra.
Uma mudança arrasta a lua para o sol,
Caem da pele as cortinas em farrapos;
E o coração renuncia aos próprios mortos.
Dylan Thomas
Trad. Ivan Junqueira.
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