A Revolução Francesa contribuiu para a queda do Sacro
Império em 1806. Uma nova unificação política só foi possível em 1871, graças
ao progresso econômico registrado a partir de meados do século 19.
O impacto da Revolução Francesa – que em 1789 proclamou
Liberté, Egalité, Fraternité na França, eliminando a ordem social feudal e
promovendo a separação de poderes – foi o que faltava para fazer desmoronar o
Sacro Império Romano de Nação Germânica. Os ideais revolucionários ouvidos na
França não chegaram a se alastrar na Alemanha devido à estrutura federalista do
império. Mas as ofensivas militares desencadeadas pela revolução tiveram amplo
efeito sobre a região.
A Prússia e a Áustria resolveram intervir nos acontecimentos
do país vizinho e acabaram provocando uma contraofensiva das tropas
revolucionárias. Atacado pelo exército de Napoleão Bonaparte, que se
considerava herdeiro da Revolução Francesa, o Sacro Império sucumbiu
definitivamente, e a França anexou a margem esquerda do rio Reno.
Essa reorganização territorial deu-se às custas dos
principados menores e dos religiosos. Os estados de porte médio foram os
grandes beneficiados, unindo-se em 1806 na Liga Renana (ou Confederação do
Reno), sob o protetorado francês. No mesmo ano, o imperador Francisco 2º
abdicou da coroa, pondo fim ao Sacro Império Romano de Nação Germânica. A
necessidade de expulsar os invasores franceses acabou dando asas ao espírito
nacional, e um novo movimento nacional culminou nas Guerras de Libertação.
A Alemanha, contudo, não ficou imune às grandes
transformações sociais vindas da França e acabou instituindo a sociedade
burguesa. Reformas, como a abolição da vassalagem, a liberdade profissional, a
autonomia municipal, a igualdade perante a lei e o serviço militar obrigatório,
foram implementadas inicialmente nos estados da Liga Renana e mais tarde também
na Prússia, dando continuidade à reforma judicial e outras obras avançadas
realizadas no século anterior por Frederico, o Grande (1740–1786), um legítimo
representante do despotismo esclarecido.
A Liga Alemã
Seguro-saúde para trabalhadores
Após a derrota de Napoleão, o Congresso de Viena (1814–1815)
estabeleceu uma nova ordem na Europa. Porém, as aspirações de muitos alemães a
um Estado nacional livre e homogêneo não se concretizaram. A Liga Alemã, que
substituiu o antigo império, era uma união de estados soberanos pouco coesos. O
único órgão, a Dieta de Frankfurt, não era um parlamento eleito, e sim um
congresso de delegados. A Liga Alemã só podia agir com o beneplácito das duas
grandes potências Prússia e Áustria. Nas décadas seguintes, a Liga reprimiu
todas as tentativas de unificação e liberdade.
O desenvolvimento econômico incipiente trazia modernidade,
contrariando essas tendências retrógradas. Em 1834, foi fundada a União
Alfandegária Alemã, que implantou um mercado nacional uniforme. Em 1835, foi
inaugurada a primeira estrada de ferro. Começava a industrialização. Com as
fábricas, formou-se uma nova classe operária fabril. No entanto, o forte crescimento
demográfico levou a um excedente de mão de obra. Como não havia legislação
previdenciária ou trabalhista, a massa dos operários vivia na miséria.
A Revolução de 1848
A revolução de fevereiro de 1848 na França teve eco imediato
na Alemanha, ao contrário do que acontecera com a Revolução Francesa. Em março,
insurreições populares em todos os estados da federação obrigaram os
amedrontados príncipes a fazerem grandes concessões. Em maio, reuniu-se a
Assembleia Nacional em Frankfurt. O arquiduque austríaco João foi eleito
regente do império.
O centro liberal, que visava a uma monarquia constitucional
com direito eleitoral limitado, era a força dominante na Assembleia. Contudo, a
excessiva fragmentação partidária dificultava o trabalho legislativo. A classe
política estava dividida entre a chamada "grande solução" e a
"pequena solução", ou seja, um império alemão com ou sem a Áustria.
Afinal, foi aprovada uma Constituição democrática, na qual
se tentava conjugar o velho com o novo. Ela previa que o governo prestasse
contas ao Parlamento. Como a Áustria insistisse em incorporar ao futuro império
todo o seu território, composto de mais de uma dúzia de povos, venceu a tese da
pequena solução.
A Assembleia Nacional ofereceu ao rei da Prússia, Frederico
Guilherme 4º, a coroa hereditária do Império Alemão. Mas o soberano não aceitou
a dignidade de imperador concedida por uma revolução. Em maio, fracassaram os
levantes populares que pretendiam impor a Constituição "de baixo para
cima". Selada a derrota da revolução alemã, a maioria das conquistas foram
anuladas e em 1850 foi restabelecida a Liga Alemã.
A ascensão de Bismarck
O grande progresso econômico registrado em meados do século
19 trabalhou a favor da unificação, tornando a Alemanha um país industrial, com
destaque para a indústria pesada e a construção de máquinas. Na vanguarda desse
desenvolvimento estava a Prússia.
A riqueza econômica, por sua vez, fortalecia a consciência
política da burguesia liberal. O Partido Progressista Alemão, fundado em 1861,
tornou-se a principal força no Parlamento da Prússia, opondo-se muitas vezes ao
governo.
Empossado em 1862 como chanceler, Otto von Bismarck aceitou
o desafio de governar contra o Parlamento e sem um orçamento por ele aprovado.
Para impor a cobrança de novas taxas, e assim financiar a reforma militar que
pretendia fazer, recorreu a medidas repressivas, como a censura da imprensa e a
restrição ao direito de reunião.
Os êxitos na política exterior compensaram a fraca posição
de Bismarck na política nacional. Ao vencer a guerra contra a Dinamarca (1864),
a Alemanha obteve os territórios de Schleswig e Holstein, no norte, passando a
administrá-los conjuntamente com a Áustria. O objetivo de Bismarck, contudo,
era anexar os dois ducados.
O conflito acabou levando a uma guerra contra a Áustria, que
saiu derrotada (1866). A Liga Alemã foi dissolvida e substituída pela Liga
Setentrional Alemã, que reunia todos os estados germânicos ao norte do rio
Meno, tendo Otto von Bismarck como chanceler (primeiro-ministro).
O 2º Império
Proclamação em
Versalhes em 1871
Completando a unificação da Alemanha no sentido da
"pequena solução", Bismarck conquistou a Alsácia e a Lorena, numa
guerra contra a França (1870–1871) deflagrada por um conflito diplomático.
Imbuídos de patriotismo, os estados do sul da Alemanha uniram-se à Liga
Setentrional Alemã, constituindo o 2º Império Alemão ou Reich. Em Versalhes, o
rei Guilherme 1º da Prússia foi proclamado imperador da Alemanha, no dia 18 de
janeiro de 1871.
A unidade alemã, portanto, não resultou da vontade do povo,
"de baixo para cima", mas de um pacto entre os príncipes, isto é,
"de cima para baixo" e com a supremacia esmagadora da Prússia. O
Parlamento do Império, o Reichstag, era eleito por sufrágio igualitário e tinha
apenas uma influência indireta no governo. O chanceler do Império, embora só
devesse prestar contas ao imperador, era obrigado a procurar apoio para a sua
política no Parlamento.
Não eram uniformes as leis eleitorais relativas às
representações populares dos diferentes estados no Reichstag. Em 11 estados,
existia o sistema eleitoral por classes, dependente dos impostos pagos pelo
eleitor e, em outros quatro, mantinha-se a representação por corporações. Com
maior tradição parlamentar, os estados do sul da Alemanha reformaram seu
direito eleitoral, adaptando sua legislação eleitoral à do Império.
Bismarck governou o Império por 19 anos, fortalecendo sua
posição na nova constelação de forças na Europa através de uma política de paz
e de alianças. Sua política nacional, porém, estava distante dessa sabedoria.
Bismarck combateu tendências democráticas por considerá-las inimigas do
Império.
Lutou contra a ala esquerda da burguesia liberal, contra os
políticos católicos e, principalmente, contra o movimento operário organizado,
que reprimiu durante 12 anos. Bismarck, de certa forma, terminou sendo vítima
do seu próprio sistema. A política personalista do jovem imperador Guilherme 2º
forçou-o à demissão em 1890.
Deutsche Welle
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