Escadas de caracol
Sempre
São misteriosas; conturbam...
Quando as desce, a gente
Se desparafusa...
Quando a gente as sobe
Se parafusa
– o peito
estreito –
o teto descendo
Descendo descendo como nas histórias de imortal horror !
Mas de que jeito,
Mas como pode ser.
Morrer cair rolar por uma escada de parafuso ?
Além disso não têm, pelo dizem nenhuma acústica...
Oh ! Não há como as escadarias daqueles antigos
edifícios públicos
Para ser assassinado...
Porém não fiques tão eufórico,
– nem tudo são rosas:
Há,
No sonho das velhas casas de cômodos onde moras,
Passos que vêm subindo degrau por degrau em
direção ao teu quarto
E 'sabes' que é um fantasma chamejante e fosfóreo
– o corpo todo feito de inconsumíveis labaredas verdes !
O melhor
Mesmo
É fechar os olhos
E pensar numa outra coisa...
Pensa, pensa
– o quanto antes !
Naquelas podres escadas de madeira das casas pobres
– escurinho dos teus primeiros aconchegos...
Pensa em cascatas de risos
Escada a baixo
De crianças deixando a escola...
Pensa na escada do poema
Que tu
comigo
vem descendo
agora...
(Hoje em dia todas as escadas são para descer)
Mas não ! Este poema não é
Nenhum
Abrigo
Antiaéreo...
Ah, tu querias que eu te embalasse !?
Eu estava, apenas, explorando uns abismos...
Mário Quintana
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