RIO DE JANEIRO - Marshall McLuhan teria feito 100 anos outro
dia. Voltou subitamente às folhas, e seu livro "The Medium is the
Massage" está saindo numa nova tradução brasileira. Ótimo. Resta ver se
provocará nos garotos de hoje a impressão que nos causou quando o abrimos pela
primeira vez, em 1968, poucos meses depois que ele foi lançado em Nova York.
Na época, foi um choque. Aquele não era bem um livro, mas um
objeto do futuro -um show de imagens, palavras e recursos gráficos, para
veicular as ideias mais provocativas, sobre o conhecimento e a comunicação.
Tanto que McLuhan não era o único autor. Seu editor de arte, Quentin Fiore, o
coassinava.
Se tivéssemos que buscar referências para defini-lo,
teríamos de ir a filmes de Godard, como "Pierrot le Fou" e
"Alphaville", à revista "Esquire", ao jazz, à pop art, às
histórias em quadrinhos. Ou ao concretismo -não por coincidência, Décio
Pignatari era um de seus campeões no Brasil.
Quando se anunciou que, à falta de McLuhan, Quentin Fiore
estava vindo ao Rio, o frisson foi o mesmo. O ano era 1969. Fiore deu uma
palestra na Esdi (Escola Superior de Desenho Industrial), na Lapa, para um
auditório abarrotado. Na noite seguinte, levado por Pignatari, foi o centro de
uma reunião no apartamento de Ecila e José Lino Grünewald, em Copacabana.
Fiore tinha 50 anos e estava esperto. Encantou-se por uma
bela menina da Esdi, de 20 anos. Ela também gostou dele. Entusiasmado, Fiore
contou sobre como o livro tinha sido feito -ele, em seu estúdio em New
Hampshire; McLuhan, em Toronto. Não precisavam se encontrar. Os dois trocavam
textos, desenhos, fotos e layouts por um aparelho recém-criado, que transmitia
tudo. Algo chamado "fac simile". Ou seja, "The Medium is the
Massage" foi feito por intermédio do avô do fax. Não sabíamos, mas o meio
já era a mensagem.
RUY CASTRO - 08 Aug 2011
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