quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Cidades opressivas




SÃO PAULO - Depressão, ansiedade, medo de sair de casa, hipocondria, paranoia, pânico. Multiplicam-se os nomes de sintomas mentais associados ao estilo de vida nas metrópoles, embora essa seja uma discussão antiga.
Na passagem do século 19 para o 20, o debate urbanístico passou a incorporar o tema. Era como se as decisões de construção e reforma das cidades pudessem influenciar a saúde mental dos habitantes.
O medo de lugares públicos, nessa crítica, era vinculado à desfiguração dos espaços tradicionais, em favor de uma arquitetura homogeneizadora, de largas avenidas, praças a perder de vista, edifícios monumentais e arranha-céus. Um programa que ficou caricato em Brasília e nas nações socialistas.
Na maioria das grandes cidades, contudo, não há predomínio tão claro de um ou outro modo de construir e planejar. Vários deles convivem no mesmo espaço, como heranças justapostas de circunstâncias históricas diversas.
"Medianeras", filme do argentino Gustavo Taretto que entrou em cartaz neste mês, nos lembra como tal mescla de estilos -temperada com desleixo urbanístico, corrupção e escassez de recursos- atinge paroxismos em metrópoles periféricas. Buenos Aires foi a retratada, mas poderia ter sido São Paulo ou a Cidade do México.
A cidade confusa, atulhada de construções e feia, argumenta o roteiro, empurra habitantes para a solidão e os distúrbios psicológicos.
As novíssimas tecnologias das comunicações, segundo o filme, exacerbaria os sintomas mentais e a recusa dos espaços públicos. Do trabalho aos relacionamentos, das compras ao entretenimento, quase tudo, afinal, se pode fazer em casa.
Como a crítica às reformas urbanas no passado, lamentos antitecnológicos atuais recrutam fraca evidência científica e muita ideologia regressista. A experiência de viver em São Paulo indica, ao contrário, que nunca se saiu tanto às ruas.


VINICIUS MOTA -  12 Sep 2011 

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