SÃO PAULO - Depressão, ansiedade, medo de sair de casa,
hipocondria, paranoia, pânico. Multiplicam-se os nomes de sintomas mentais
associados ao estilo de vida nas metrópoles, embora essa seja uma discussão
antiga.
Na passagem do século 19 para o 20, o debate urbanístico
passou a incorporar o tema. Era como se as decisões de construção e reforma das
cidades pudessem influenciar a saúde mental dos habitantes.
O medo de lugares públicos, nessa crítica, era vinculado à
desfiguração dos espaços tradicionais, em favor de uma arquitetura
homogeneizadora, de largas avenidas, praças a perder de vista, edifícios
monumentais e arranha-céus. Um programa que ficou caricato em Brasília e nas
nações socialistas.
Na maioria das grandes cidades, contudo, não há predomínio
tão claro de um ou outro modo de construir e planejar. Vários deles convivem no
mesmo espaço, como heranças justapostas de circunstâncias históricas diversas.
"Medianeras", filme do argentino Gustavo Taretto
que entrou em cartaz neste mês, nos lembra como tal mescla de estilos
-temperada com desleixo urbanístico, corrupção e escassez de recursos- atinge
paroxismos em metrópoles periféricas. Buenos Aires foi a retratada, mas poderia
ter sido São Paulo ou a Cidade do México.
A cidade confusa, atulhada de construções e feia, argumenta
o roteiro, empurra habitantes para a solidão e os distúrbios psicológicos.
As novíssimas tecnologias das comunicações, segundo o filme,
exacerbaria os sintomas mentais e a recusa dos espaços públicos. Do trabalho
aos relacionamentos, das compras ao entretenimento, quase tudo, afinal, se pode
fazer em casa.
Como a crítica às reformas urbanas no passado, lamentos
antitecnológicos atuais recrutam fraca evidência científica e muita ideologia
regressista. A experiência de viver em São Paulo indica, ao contrário, que
nunca se saiu tanto às ruas.
VINICIUS MOTA - 12 Sep 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário