Com a abolição gradual do sistema conteudista, pensar hoje
em aumentar as horas de aula é quase criminoso
Está todo o mundo tonto. Esse negócio de educação deficiente
deu pano para todas as mangas. No redemoinho dos perdidos, o simplismo é
"afundante".
O Pisa e testes que tais -que não parecem com o Enem, em
vários sentidos, superior a eles- passaram a ser o padrão-ouro para se medir a
escola. Aqui e mundo afora.
Falei por algum tempo com o ministro da Educação da
Dinamarca, no ano passado, e fiquei perplexo ao descobrir que a sua meta era
subir no ranking do Pisa. Não bastava ter obtido um dos melhores resultados do
mundo -ele era cobrado pela sociedade dinamarquesa para melhorar a posição na
listagem.
O Brasil, há poucos anos, passou a se medir assim também.
Como consequência, todos perguntam como fazer para subir no ranking (estamos na
53ª posição). Ora, descobrindo o que fazem as melhores escolas do mundo serem
um sucesso.
Viramos súditos das respostas simplórias. Todos fazem
estudos que demonstram que professores melhores e mais tempo em sala de aula
dão resultado melhor. Como a questão de professores melhores é subjetiva, de
uma "ululância" vexante, e que leva tempo (uma ou duas décadas) para
se consertar, parte-se para o segundo item.
Assim, começa a grita pela escola integral e por mais tempo
na sala de aula. Como se torturar a meninada com mais horas monótonas e mal
pensadas fosse resultar em aprendizado duradouro. Que bobagem!
Isso não passa de um clichê, que serve para dar aos pais e
aos políticos a sensação, idealizada, de que algo está sendo feito. O custo é
altíssimo, e esse percentual a mais de PIB que iria custear um aumento de
jornada deveria ser usado na reforma curricular.
Gilberto Dimenstein falou de uma escola na Califórnia, a
Summit, que concede aos alunos dois meses, além das férias, para que escapem do
tal do currículo. Com isso, essa escola pública é muito superior -em notas- às
daquelas que aumentaram suas jornadas. Claro.
No mundo que está por vir, com currículos baseados na web e
abolição gradual do sistema conteudista, acrescentar horas de aula é quase um
ato criminoso.
Essa dinheirama precisa ser redirecionada a fim de preparar
as escolas para a revolução digital. Que, aliás, permitirá aos alunos surfarem
questões em casa, em vez de acorrentá-los às carteiras.
Todo esforço tem de ser no sentido de alforriar a meninada,
em lugar de achar maneiras de aumentar o "Febem-ismo". Com que mais
tempo em sala, mais decoreba e mais tortura, nosso pequenos
"guantanamistas" aparentarão melhorar.
Mas terão apenas se rendido, catatonicamente -como fazem os
coreanos que se suicidam depois- à pobre conclusão dos que "pensam" o
ramo: "se está ruim assim, vamos dobrar o mal e ver se melhora".
Quanta preguiça macunaímica!
RICARDO SEMLER, 52, é empresário. Foi scholar da Harvard Law
School e professor no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Escreveu
dois livros ("Virando a Própria Mesa" e "Você Está Louco")
que venderam juntos 2 milhões de cópias em 34 línguas.
24 Oct 2011
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