Sábado à tarde, supermercado lotado. No caixa, paciência
para os carrinhos abarrotados, mas dessa vez precisei de uma dose extra. À
minha frente, ar aparvalhado, um jovem pai de família, forte e normal, esperava
imóvel seus produtos passarem no caixa. Em pé, olhar perdido, boca entreaberta,
fitava o vazio, só faltava o fio de baba.
Lembrava aquelas crianças carregadas junto com a família
para um lugar que não lhes interessa, distraídas, alheias. Nesse supermercado
existem empacotadores prestativos, mas eles não davam conta. Não custa ajudar,
ir organizando, embalando junto.
No comportamento passivo do meu companheiro de caixa,
impossível não evocar a figura do nobre, sendo vestido, banhado, alimentado e
conduzido nos braços de seus servos ou escravos, um eterno bebê. Quanto mais
evoluídos nos tornamos, caminhamos em direção à autonomia, prescindimos de
serviçais. É assim com as crianças, que aprendem a cuidar de si cada vez
melhor. Mas será que me comporto diferente quando consigo pagar um hotel mais
estrelado?
Quem não curte café na cama macia, toalhas limpas, massagem,
chofer? O que é um restaurante, senão ficar sentado enquanto o solícito garçom
se dedica a atender nossos caprichos? São ocasiões em que voltamos no tempo,
nas quais amar é maternar, cuidar. À vezes, ser independente exaure, queremos
um mimo.
Trabalhos associados aos cuidados maternos primários, nos
quais adultos adquirem privilégios de crianças, sempre foram desvalorizados.
Mulheres, pessoas socialmente desvalorizadas, escravos, ocuparam os bastidores
da nossa vergonha.
Na verdade, aquele que abre mão da autonomia também se
abstém da liberdade que ela proporciona, da intimidade, da privacidade. Mães,
pobres e escravos tornaram-se ralé da vida pública, escondidos no armário de
nossa carência afetiva, associados ao medo de ficar sozinhos. A infantilidade é
um segredo.
Entregar-se nos braços de alguma comodidade é uma delícia,
mas como exceção, descanso de guerreiro, conquista. É gostoso, um luxo que só é
tal se não for um hábito. Mas no dia a dia, a dependência é uma forma de
alienação, uma existência empobrecida.
Que dizer de alguém, aparentemente crescido, que precisa se
fazer adotar pelo primeiro empacotador franzino que encontra pela frente? Por
favor, supermercado não é spa, há adultos na fila!
DIANA CORSO - 12 Oct 2011
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