Minha geração cresceu buscando liberdade, bem diferente dos
adolescentes de hoje, que trocaram o idealismo por um notebook. Um jingle da
época dizia que liberdade era uma calça velha, azul e desbotada, mas isso era
apenas uma metáfora para uma liberdade que significava morar sozinho, trabalhar
e tomar as próprias decisões – os alicerces para a independência.
O tempo passou e nossa independência se adequou às
responsabilidades da vida adulta. Casamento, profissão, paternidade: nos
mantivemos livres, pero no mucho. A liberdade plena passou a ser exercitada
apenas em área restrita: dentro da nossa cabeça. Ainda podemos pensar o que
quisermos. Nosso poder de criatividade segue intacto. E incentivo para
exercitar o cérebro nunca faltou: livros, jornais e uma rede de informações que
cresce a cada dia.
No entanto, em vez de usar o cérebro como uma forma de
libertação, ficamos escravizados por ele. Muitos preferem segurança à
liberdade, e então criam um pacote de pensamentos repetitivos ao qual se
agarram por décadas, sem nem questionar, sem nem se dar conta de que talvez já
não pensem mais daquela maneira.
“Nunca vou conseguir fazer isso”, “Não fui feito para tal
coisa”, “Jamais financiarão essa minha ideia maluca”, “Meu pai não me
perdoaria”, “Fulana não vai mudar” são pensamentos recorrentes que impedem que
arrisquemos.
Não passa pela nossa cabeça que o pai perdoaria, sim, e que
ideias malucas podem encontrar incentivadores, e que só é impossível conseguir
aquilo que não ousamos tentar. Mas você topa pensar diferente do que pensava
antes? É esse o acordo.
Ninguém vai virar um Einstein ou um Steve Jobs por
desamarrar-se de suas crenças imutáveis. Mas há um ganho real em ser capaz de
abandonar os pensamentos de estimação, mesmo que considere estar traindo a si
mesmo. Ora, se as pessoas não conseguem nem mesmo manter suas juras de amor
eterno ao parceiro, por que precisam manter juras de amor eterno a um
pensamento estagnado?
Pode-se viajar pelo mundo, ir para um lado, para o outro,
mas quem continua pensando sempre igual, quem não reavalia suas convicções,
permanece imobilizado.
Abandonar uma postura, reposicionar-se, experimentar. Esse é
o verdadeiro espírito de liberdade que Steve Jobs deixou como herança, e esse
espírito é mais importante que a invenção de iPods, iPhones e iPads,
ferramentas modernas, mas que também são manuseadas por gente travada. Pensar
diferente não é criar ou usar tecnologia: é recriar-se e usar-se. E isso é
possível a qualquer um.
MARTHA MEDEIROS - 12 Oct 2011
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