Um dos mantras preferidos daqueles que chegam aos 40 anos é:
os jovens de hoje não têm grandes ideais, eles não sabem o que fazem.
Há algo cômico em comentários dessa natureza, pois os que
tinham 18 anos no início dos anos 90 sabem muito bem como nossas maiores
preocupações eram: encontrar uma boa rave em Maresias (SP), aprender a comer
sushi e empregar-se em uma agência de publicidade. Ou seja, esses que falam dos
jovens atuais foram, na maioria das vezes, jovens que não tiveram muito o que
colocar na balança.
Por isso, devemos olhar com admiração o que jovens de todo o
mundo fizeram em 2011.
Em Túnis, Cairo, Tel Aviv, Santiago, Madri, Roma, Atenas,
Londres e, agora, Nova York, eles foram às ruas levantar pautas extremamente
precisas e conscientes: o esgotamento da democracia parlamentar e a necessidade
de criar uma democracia real, a deterioração dos serviços públicos e a exigência
de um Estado com forte poder de luta contra a fratura social, a submissão do
sistema financeiro a um profundo controle capaz de nos tirar desse nosso
"capitalismo de espoliação".
Mas, mesmo assim, boa parte da imprensa mundial gosta de
transformá-los em caricaturas, em sonhadores vazios sem a dimensão concreta dos
problemas. Como se esses arautos da ordem tivessem alguma ideia realmente
sensata de como sair da crise atual.
Na verdade, eles nem sequer têm ideia de quais são os
verdadeiros problemas, já que preferem, por exemplo, nos levar a crer que a
crise grega não seria o resultado da desregulamentação do sistema financeiro e
de seus ataques especulativos, mas da corrupção e da "gastança"
pública.
Nesse sentido, nada mais inteligente do que uma das pautas-chave
do movimento "Ocupe Wall Street". Ao serem questionado sobre o que
querem, muito jovens respondem: "Queremos discutir".
Pois trata-se de dizer que, após décadas da repetição
compulsiva de esquemas liberais de análise socioeconômica, não sabemos mais
pensar e usar a radicalidade do pensamento para questionar pressupostos,
reconstruir problemas, recolocar hipóteses na mesa. O que esses jovens
entenderam é: para encontrar uma verdadeira saída, devemos primeiro destruir as
pseudocertezas que limitam a produtividade do pensamento. Quem não pensa contra
si nunca ultrapassará os problemas nos quais se enredou.
Isso é o que alguns realmente temem: que os jovens aprendam
a força da crítica. Quando perguntam "Afinal, o que vocês querem?", é
só para dizer, após ouvir a resposta: "Mas vocês estão loucos".
Porém toda grande ideia apareceu, aos que temem o futuro,
como loucura. Por isso, deixemos os jovens pensarem. Eles sabem o que fazem.
VLADIMIR SAFATLE - 25 Oct 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário