domingo, 12 de dezembro de 2010

Forma da ausência

XII



Este quarto tornou-se um poço profundo.

O candeeiro é uma estrela pregada na água.

A cama infantil no seu lugar; os lençóis, por agora

lançam reflexos circulares

enquanto à superfície da toalha

as horas lentas, imponderáveis, caem como fetos

de palha,

nela traçando círculos invisíveis. Ninguém fala

no interior - e se falasse ninguém ouviria. Quando

um copo

tomba, cai sem fazer ruído na palma do silêncio.

Não se quebra.

Sozinho, dissolvido da na água, o antigo grito da

separação

torna o poço mais sombrio e mais profundo.

Yannis Ritsos. poemas. Selecção e Trad. de Egito Gonçalves. Prefácio de Carlos Porto. 1ª ed. Fevereiro, 1984. Editora Limiar., p.36

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