domingo, 12 de dezembro de 2010

As mulheres

As mulheres estão muito distantes. As suas rou-

pas, o cheiro de «Boa Noite».

Pousam o pão na mesa para que não se sinta

como estão ausentes.

É então que nos sentimos culpados. Levantamo-nos

da cadeira e dizemos:

«Estás muito cansada hoje » ou então «Deixa, eu

acendo o candeeiro».

Quando pegamos no fósforo ela volta-se lenta-

mente

e dirige-se para a cozinha com uma aplicação

inexplicável. As costas

são uma pequena colina de amargura carregada

de mortos sem fim,

os mortos da família, os mortos dela e a nossa

morte.

Ouvem-se-lhe os passos a afastar latas velhas,

ouvem-se as travessas a chorar na banca, depois

ouve-se

o comboio que transporta os soldados para a

frente.





Yannis Ritsos. poemas. Selecção e Trad. de Egito Gonçalves. Prefácio de Carlos Porto. 1ª ed. Fevereiro, 1984. Editora Limiar., p.85

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