domingo, 12 de dezembro de 2010

Elegia IX - Outonal

Nenhuma beleza de Primavera ou Verão em tal graça

Como a que descobri numa face Outonal.

As jovens Belezas forçam-nos ao amor: isso é Violação;

Esta apenas aconselha, e não lhe podemos escapar.

Se fosse vergonha amar, não seria vergonha aqui

Onde a Afeição toma o nome de Reverência.

Foram-lhe os primeiros anos a Idade de Ouro? É verdade,

Mas ela agora é ouro bem martelado e sempre novo.

Aquele foi o seu tempo tórrido e inflamador,

Este é o seu temperado clima Tropical.

Olhos belos, quem vos pedir mais fogo que o emanado,

É porque, febril, deseja a pestilência.

Não chamem campas a estas rugas; se campas fossem

Seriam as do amor, porque ele não está noutro lugar.

Porém o amor não jaz aqui morto, mas aqui se senta

Consagrado a esta trincheira, como um Anacoreta;

E aqui até que a morte dela, que será a dele, chegue

Não cavará uma Campa, mas erigirá um Túmulo.

Aqui habita; e apesar de viajar por todo o lado

Com Estadão, é ainda aqui a sua residência fixa:

Aqui onde está calma a Tarde, não o meio-dia ou a noite,

Sem voluptuosidades, porém toda deleite.

Todas as palavras dela, próprias a todos os ouvintes

Seja no Folgar, seja em Conselho, podemos seguir.

Este é o madeiro do amor, a juventude os seus arbustos;

Ali ele, como vinho em Junho, faz ferver o sangue,

Que depois se tempera, quando o nosso gosto

E apetite de outras coisas é passado.

O estranho amor Lídio de Xerxes, o Plátano,

Foi amado pela idade, e porque nenhum era maior,

Ou então porque, sendo jovem, a natureza lhe abençoou

A juventude com a glória da idade, a Esterilidade.

Se amamos as coisas há muito procuradas, a Idade é algo

Que levamos cinquenta anos a conquistar.

Se as coisas são transitórias, e cedo se corrompem,

A Idade será mais amável nos seus últimos dias.

Mas não nomeiam Faces Invernais, de pele flácida,

Descarnadas como um saco vazio, antes a bolsa da alma;

Cujos Olhos buscam luz de dentro, pois tudo aqui é sombra;

Cujas bocas são buracos, mais gastos do que feitos;

Em que um a um cada dente partiu para vários lugares

A fim de lhes humilhar as almas na Ressurreição:

Não me nomeiem essas Cabeças mortas viventes,

Porque estas não são Anciãs, mas Antigas.

Odeio extremos; porém antes preferia ficar

Com Tumbas do que Berços;para passar um dia.

Dado que tal é o movimento natural do amor, possa ainda

O meu amor abrandar, e viajar monte abaixo

Nunca a suspirar atrás de belezas em crescimento. Assim,

Irei definhando no fluxo dos que se dirigem para casa.







John Donne in Elegias Amorosas. Edição bilingue. Trad. Helena Barbas. Assírio & Alvim, 1997.,pp49/51

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