domingo, 12 de dezembro de 2010

Sua Putidade o Crimertídaco

Esse filho de quem nem pode chamar-se bem uma puta,

persegue-me, arranha-me, arrepela-me, cospe

sempre ao meu lado, e nos lugares aonde

julga que eu passei. Filho, como é,

do que nem pode chamar-se bem

uma puta, vive de cuspir, de arrepelar

de arranhar, de perseguir as sombras

que ele julga serem as de quem não passa

nos becos onde a mãe o deu à luz,

depois de untada a vida com lubrificante

que lhe ficou, brilhantina, agarrado ao cabelo,

e a mãe, logo que o viu, lhe calçou

meias verdes e lhe comeu o imbigo.

Filho do que, de puta, nem por prenha basta

para gerar um esterco assim tão penteado,

tão crítico, tão de meias verdes,

tão arrotantemente porco nas regueifas que

do cachaço ascendem ao tutano encefálico,

julga suinamente que não há lugares,

nem seres humanos, livres de presença

de Sua Putidade. Há.

Exactamente as pessoas e os lugares aonde

ser filho da puta é ser filho da puta,

com ou sem regueifas nas ideias

ou verdura nas meias,

ou brilhantina uterina

de quem lambido foi em sua mãe

antes de nascer para cri-mer-tí-da-co.





3 de Agosto de 1962

Jorge de Sena in Dedicácias. Guerra e Paz, Editores, 2010., pp.29

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