Morro diante o Sol e
diante o vento e diante as crianças que disputam o cão, morro
numa manhã que não pode vir a ser nenhum poema; só triste e verde e
interminável
é essa manhã...O meu pai e a minha mãe estão na ponte e julgam
que eu venho da cidade e não me trazem senão
as suas primaveras destroçadas em grandes cestos e vêem-me -
e não me vêem, porque
eu morro diante do Sol.
Um dia não verei mais os bosques, e a erva
há-de colher a tristeza da minha irmã. O arco da porta
ficará negro e o céu já não será
inatingível
para os meus desesperos...Num dia hei-de
ver tudo e a muitos enxugar os olhos
de manhã cedo...
Estou então de novo debaixo dos jasmins e
vejo como o jardineiro dispõe os mortos nos alegretes...
Morro diante do Sol.
Estou triste, porque há sempre dias que não voltam mais...A parte
nenhuma.
Thomas Bernhard. Na Terra e no Inferno. Trad. e introdução José A. Palma Caetano. Assírio & Alvim, 2000, p. 123
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