quarta-feira, 16 de setembro de 2009

PEQUENO BOSQUE DE VIDOEIROS DE ARKHIP KUINJI

Os vidoeiros esguios e húmidos
inclinados sobre o rio
o olhar de pé apenas ouve
não se afasta

A solidão dos troncos brancos
não alcançam os teus braços sem os ver chegar
e esta erva inundada de luz espera o teu corpo deitado
para mim
sem despedida.

Como saber de ti ou de mim?
Deslocar-me sem destino

não saberei, não saberei



O MENSAGEIRO DE BILL VIOLA

O homem mergulhado na primeira água
a mais simples, bombeada pelo coração
e limpa pelo sangue.

A carga de luz que acolheu no seu espírito
só lhe inspira a dor pura de cada dia
e ao emergir da água
sente a vida: o ar, o nascimento, o crescimento.
Descobre que o destino não pensa em ninguém
que apenas recebe na sua arte de receber

e assim dá vida e recebe a morte

Os olhos fecham para abrirem por dentro
onde a inteligência não se desloca
mas confia

ganha sentido

a sua visibilidade.



RETRATO DE UMA MÃE PALESTINIANA NA SKY NEWS*

No rosto desta mulher não há expressão
para felicidade ou tristeza

a parede que dividia foi derrubada


* depois de ter perdido o pai, marido e filho


EPISÓDIO DE VERÃO NUM RESTAURANTE EM COLOANE

Apontamos-lhe o dedo e nada sabe de nós.
Não vê num sinal a sua sorte
e ignora-o mais do que qualquer molécula H2O.

- Não é estranho que a aflição de um peixe
no prato da balança seja medida em números
ou no ponteiro o peso da morte acuse já um coração em despedida?

Um grito soa para lá da sua força e da sua natureza.
Um impulso saído da barbatana irrompe
no ar até ao chão
e a fuga afigura-se-lhe improvável.

Com um golpe fácil recebe a morte
rompe-se o fio de luz que o ligava à vida

por um interesse nada científico
e por inspiração de uma cozinheira


Vasco Ferreira Campos. Port.

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