quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O Homem


Mal das águas, ó Terra, te brotavam
Os cumes dos montes jovens, e cheirosas,
Exalando desejo, cheias de bosques verdes,
No cinzento deserto do Oceano


Surgiam as primeiras ilhas belas; e o olhar alegre
Do Deus do Sol contemplava as recém-nadas
Plantas, da sua eterna juventude
As filhas sorridentes, de ti nascidas.


Eis na mais bela das ilhas, onde sempre
O ar banhava de repouso manso o bosque,
Jazia entre cachos de uvas, após morna
Noite, na hora da manhã crepuscular


Nascido, ó Mãe Terra! O teu mais belo filho;-
E para Hélios, o pai, olha confiado
O menino, e desperto alegre, provando
Os doces bagos, para sua ama


A videira sagrada; e breve cresce; os animais
Receiam-no, pois é diferente deles
O homem; não é igual a ti nem ao pai,
Pois dentro dele, ousada e única,


Está unida, ó Terra! o seu orgulho o afasta
Do teu coração, e as tuas dádivas são
Em vão, e os teus laços ternos;
Pois algo busca de melhor, o indómito!


Do prado rescendente da sua margem tem
De partir o Homem pra a água sem flores,
E embora brilhe, como noite estrelada, o seu
Pomar de frutos de ouro, ele vai cavar


Cavernas nos montes, e rebusca na mina,
Longe da luz alegre de seu Pai, infiel
Também ao Deus do Sol, que não ama
Escravos e escarnece dos cuidados.


Pois mais livres respiram as aves do bosque,
Embora mais magnífico arqueje o peito do Homem,
E ele, que vê o escuro futuro, tem também
De ver a morte, entre todos sozinho ter-lhe medo.



E contra todos os que respiram usa o Homem
Armas em seu orgulho e medo eternos; no dissídio
Se consome, e a flor da sua paz,
Delicada, é breve e passageira.


Não é ele de todos os companheiros de vida
O mais infeliz? Mas mais fundo dilacera
O Destino, que tudo iguala e equilibra,
O peito inflamável do forte.


Hölderlin

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