sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Vaidade

 (de Florbela Espanca)

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reune num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá deste mundo...bela
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho...E não sou nada!...



Pórtico



Aqui começa a nova caminhada.
Se a levar ao fim, darei louvores a Deus,
Como meu Pai, ao despegar
...Do dia ganho.
Não por haver chegado,
Mas ter acrescentado
Um palmo de ilusão ao meu tamanho.

de Miguel Torga


IV - HOMENAGEM A OLAVO BILAC




IV

Como a floresta secular, sombria,
Virgem do passo humano e do machado,
Onde apenas, horrendo, ecoa o brado
Do tigre, e cuja agreste ramaria

Não atravessa nunca a luz do dia,
Assim também, da luz do amor privado,
Tinhas o coração ermo e fechado,
Como a floresta secular, sombria...

Hoje, entre os ramos, a canção sonora
Soltam festivamente os passarinhos.
Tinge o cimo das árvores a aurora...

Palpitam flores, estremecem ninhos, . .
E o sol do amor, que não entrava outrora,
Entra dourando a areia dos caminhos.

Olavo Bilac

1

“Entra dourando a areia dos caminhos”
O sol se transformando em guia e fonte,
Reinando sobre a linha do horizonte
Guiando os tantos pássaros aos ninhos.
Forrando a terra em áurea maravilha
Azulejado céu se torna imenso,
E quando neste brilho paro e penso,
Minha alma em luzes fartas também trilha
Seguindo cada raio na manhã
Deveras tão fantástica que vejo,
Iridescentes lumes num lampejo,
E a vida recomeça o seu afã.
E tendo sob os olhos tal beleza,
Verseja dentro em mim a natureza.

2

“E o sol do amor, que não entrava outrora,”
Ao perceber distante dos meus olhos
Jardim que agora entranha-se em abrolhos
Enquanto esta aridez tudo devora.
Encontro sob os raios deste sol
Sobeja maravilha que, infinita
Deveras transformando uma desdita
Traçando em minha vida, este farol.
Percebo que se emana dentro da alma
Prismático e sem par, raro espetáculo,
Não tendo mais sequer qualquer obstáculo,
Imensa claridade já me acalma,
Excelso dia, eu sinto me tocando,
Num ar suave e manso, claro e brando...

3

“Palpitam flores, estremecem ninhos,”
Envoltos pela intensa claridade
Tornando bem mais bela a realidade,
Não tendo mais meus dias tão sozinhos,
Permito-me sonhar e em cada sonho
Deveras se pressente um Paraíso,
O passo destemido e mais preciso,
Num raro amanhecer que ora componho,
E vendo-te tão bela em luzes fartas,
Rondando a minha mente, fantasias,
E enquanto com prazeres tu me guias
As dores e os temores; já descartas.
Seguindo cada passo rumo à paz
Que amor, sem ter limite; quer e traz.

4

“Tinge o cimo das árvores a aurora’
Derrama sobre a Terra em áureos tons,
E os pássaros entoam vários “C
Enquanto a Natureza se decora.
Pudesse ter deveras a certeza
Do quanto se faz raro este momento,
Teria pelo menos um alento,
Gerando dentro em mim tal fortaleza
Que nada impediria o meu caminho
Aonde se pensara em dor e tédio,
O amor se demonstrando este remédio
Trazendo a paz aonde ora me aninho.
Seguindo cada passo desta luz,
O brilho em teu olhar se reproduz...

5

“Soltam festivamente os passarinhos”
Vagando por diversas direções,
Nos cantos mais fantásticos me expões
Belezas que se espalham nos caminhos,
E quando me percebo mais feliz
Vivendo desta forma, sem temores,
Sabendo em meu canteiro tantas flores
E nelas farto amor que me bendiz.
Tomado por carinhos, sigo em frente
Deixando no passado a dor imensa,
E quando tenho em ti a recompensa,
O mundo se transforma, num repente.
E sinto neste céu tal festival
De um canto mavioso, sem igual...

6

“Hoje, entre os ramos, a canção sonora”
Dos pássaros trazendo na alvorada
A imagem tão sobeja quão dourada
Nesta manhã divina que se aflora.
Mergulho em cada raio fulgurante
Que emana-se tomando todo o espaço
E quando neste sol divino eu traço
Porquanto em tal beleza se agigante
O sonho mais audaz e a divindade
Trazendo para tantos, luz e vida
A história noutras eras já perdida
Agora de esperança enfim se invade.
Tornando bem mais belo o meu jardim,
Derrama maravilhas sobre mim...

7

“Como a floresta secular, sombria”
A vida se mostrara em árdua cor,
E tendo tão somente o desamor,
A sorte a cada corte desafia,
E eu tento vislumbrar alguma sorte
Diversa da que tanto me maltrata,
A vida se por vezes é ingrata
Sem ter sequer quem mesmo nos conforte,
Percebo ainda ao longe num relance
O brilho deste sol que se aproxima
E nele com certeza nova estima
Tocando minha pele em belo alcance.
Lançando o meu olhar neste horizonte
Permito que este amor, novo, desponte...

8

“Tinhas o coração ermo e fechado”
Depois dos vendavais e tempestades,
A vida traz correntes, frias grades,
Porquanto ainda vivo o teu passado,
Mas quando nos meus braços te entregaste
Mudando a direção dos ventos, vi
Que toda esta pujança havia em ti
Gerando com a dor raro contraste,
Bebendo cada gota deste encanto,
Já não se vê mais dores no caminho,
E quando nos teus braços eu me aninho,
Um pássaro liberto, enfim, eu canto.
E sei que tu também segues tranqüila
Na glória que este amor, raro, destila...

9

“Assim também, da luz, o amor privado”
Jamais encontraria amanhecer
E tendo mais distante algum prazer
A dor já dominando rumo e Fado.
Pudesse ter nas mãos a minha sorte
Não haveria tanto sofrimento,
E quando nos teus braços eu me alento
Encontro quem deveras me conforte,
Trazendo lenitivo às tantas dores
Mudando a direção, em paz prossigo,
E tendo neste amor um raro abrigo,
Seguindo cada passo aonde fores,
As flores renascendo no canteiro,
Num sol sobejo e claro, verdadeiro...

10

“Não atravessa nunca a luz do dia,”
A sombra do que fora desamor
Ao mesmo tempo em ti percebo a cor
Que o coração deveras já recria
Matizes tão diversos da emoção
Alheias fantasias do passado,
Agora ao ver meu rumo ensolarado,
Jamais conhecerei a solidão.
Vestindo de ilusão meu peito eu sigo
Enfrentando as tempestas mais vorazes
E quanto mais amor, querida trazes
Maior a sensação de imenso abrigo.
Não deixe que este encanto finde, pois,
É dele ora o futuro de nós dois...

11

“Do tigre, e cuja agreste ramaria”
As garras com os ramos misturados
Caminhos que pensara abençoados
Transformam a beleza em agonia.
A fera se mostrando atocaiada
Floresta impenetrável, desamores,
Aonde se pensara colher flores,
A morte sendo assim anunciada.
Vencido pelo medo, nada tenho
Somente este vazio dentro da alma,
Nem mesmo uma alegria inda me acalma,
Pois sinto quão é frágil tal empenho.
Do tigre, da floresta, do terror,
O fim do que pensara eterno amor...

12

“Onde apenas, horrendo, ecoa o brado”
Da fera que prepara-se em espreita
A sorte malfadada não aceita
Destino pelos deuses já traçado.
O peso do viver se acumulando
Vergastas me cortando dia a dia,
Aonde se pensara em fantasia,
Em tempo mais suave, ameno e brando
Imenso temporal ora aproxima
E deixa em polvorosa a Natureza,
Lutando contra a intensa correnteza,
Sem ter sequer o sonho que redima,
Prepara-se o final da minha história
Deveras dolorida e merencória...

13

“Virgem do passo humano e do machado”
Florestas dentro da alma mais ferozes,
Jamais ouvindo enfim dos sonhos vozes,
Amor há tanto tempo abandonado.
Vivendo sem saber sequer ternura,
O corte se prepara a cada instante,
E o que pudera ser mais deslumbrante
Transforma qualquer brilho na loucura
Que doma e não permite a caminhada
Daquele que se fez um eremita,
A sorte se transforma na desdita,
Jamais reconhecendo uma alvorada,
A negritude imensa do arrebol,
Impede o brilho farto de algum sol.

14

“Como a floresta secular, sombria,”
Minha alma se perdendo em turvas águas
Trazendo tão somente frias mágoas
Do que vivera outrora em fantasia.
Não tendo com certeza a boa sorte
Que tanto desejara quem sonhava,
Apenas nos meus olhos, fogo e lava,
Seguindo cada passo sem suporte.
Pressinto assim o fim do sonho e então
Depois da tempestade sem bonança
Restando algum resquício de esperança,
Quem sabe novos dias me trarão
Após o sofrimento e o desprazer,
O sol num belo e claro amanhecer!


BRASIL




Pátria de emigração
É num poema que te posso ter...
A terra – possessiva inspiração
E os rios – como versos a correr.

Achada na longínqua meninice,
Perdida na perdida juventude,
Guardei-a como pude
Onde podia:
Na doce quietude
Da força represada da poesia.

E assim consigo ver-te
Como te sinto:
Na doirada moldura da lembrança,
O retrato da pura imensidade
A que dei a possível semelhança
Com palavras e rimas e saudade.


( Miguel Torga)

O Sul é meu país

A maioria dos sulistas não pensa assim ,só a minoria barulhenta, não é justo e honesto intelectualmente acusar paranaenses , catarinenses e gaúchos . Vocês que respondem acusando todos nos acabam fazendo o que a minoria quer espalhar a discórdia entre nós .Além de ser uma baita e reciproca ignorância , do preconceito. Nós paranaenses temos orgulho de sermos entre os estados do sul aquele com a maior população negra, também existem municípios do estado onde a maioria da população é mineira, paulista e nordestina. Temos entre nós racistas e até fascistas , mas somos brasileiros o céu sobre nossas cabeças é vasto , assim como o sol e a lua, não existem fronteiras para os paranaenses ou gaúchos , nós estamos em todo o Brasil, o Brasil é nosso assim como é de nordestinos, mineiros, paraenses e de tantos outros, inclusive daqueles que escolheram nossa família para também ser a deles, como os imigrantes de antes como de hoje.

O sul é parte do meu País, o Brasil .

Wilson Roberto Nogueira
Os gregos tinham esse ditado:
- Aquele que os deuses querem destruir, eles começam por fazê-lo enlouquecer.
Parece que assim funcionam as instituições, hoje, no Brasil.
Um a um, os poderes Executivo, Legislativo, Judiciário foram perdendo credibilidade.
A lista de seus erros e loucuras é enorme.
A própria referência do general Mourão II a um golpe se explica (não se justifica!) porque, na crise dos três poderes constitucionais, o Exército é uma instituição que tem certa credibilidade.
Mas, do jeito que as coisas vão, se ele se meter na política, será mais um a enlouquecer.
Que instituição sobrará? A Igreja??
Alguém pode imaginar a Igreja assumindo o poder? e se assim fosse, qual Igreja?
O que pode se fazer de concreto para parar essa autodestruição do país?



Renato Janine da Fonseca

Grande Amor


Grande amor, grande amor, grande mistério
Que as nossas almas trêmulas enlaça...
Céu que nos beija, céu que nos abraça
Num abismo de luz profundo e sério.
Eterno espasmo de um desejo etéreo
E bálsamo dos bálsamos da graça,
Chama secreta que nas almas passa
E deixa nelas um clarão sidéreo.
Cântico de anjos e de arcanjos vagos
Junto às águas sonâmbulas de lagos,
Sob as claras estrelas desprendido...
Selo perpétuo, puro e peregrino
Que prende as almas num igual destino,
Num beijo fecundado num gemido.



 Cruz e Sousa

ERRO DE PORTUGUÊS


Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português

Oswald de Andrade
"Contra a realidade social, VESTIDA e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama."

Oswald Andrade, final do Manifesto Antropófago


Estou triste, muito triste, confesso. Me sentindo fraco, impotente. Nós falhamos. 43% dos brasileiros querem intervenção militar. Querem, como escreveu Hobbes, abrir mão da sua liberdade em prol da segurança. A direita conservadora está fazendo seu papel. A culpa é nossa, da esquerda. Bolsonaro, num país sério, seria apenas motivo se chacota. Aqui, tem chances reais de ser chefe do executivo (se ainda pudermos falar em três poderes). É com lágrimas que olho para a minha filha e projeto o Brasil daqui a vinte anos. Não, não vislumbro possibilidades para sairmos desse lodo reacionário repleto de boçalidade. Um lodo onde a “moral e os bons costumes” são trajes para disseminar o mais rasteiro preconceito. Um lodo onde a noção de meritocracia é usada para justificar os abismos sociais. Um lodo onde a justiça é seletiva. Tivemos a chance de construir uma nação de verdade, mas infelizmente não fizemos. E hoje estamos perdidos. A maioria da esquerda, presa num looping, tenta provar a todo custo a inocência de Lula e replica como argumento as melhorias sociais promovidas por seu governo. Elas foram importantes, sem dúvida. Mas não secaram o pus da ferida. A forma de fazer política continuou a mesma, viciada, modorrenta; os lucros dos bancos atingiram os patamares mais altos da história; a educação de base, crítica e emancipadora, não foi prioridade. Eis o resultado: o Brasil mergulhado no niilismo. E ainda gastamos energia em embates facebookianos com eleitores de Dória e Bolsonaro (trogloditas por excelência) e tempo postando, para a nossa bolha vermelha, frases do tipo “onde estão as panelas?” e “coxinha é tudo burro”. Não, não é assim que mudaremos alguma coisa. Então qual é a saída, Matheus? Sinceramente não sei. Talvez, devamos “retirar o time de campo” e refazer a estratégia para tentar algo com substância daqui a alguns anos. Talvez...

Matheus Arcaro

terça-feira, 26 de setembro de 2017

O sangue das horas



Queixei-me de não ter pão
e a noite me disse não.
Mostrei-lhe a varanda nua
e a noite me trouxe a lua...
Você tem sede, não é ?
E a Noite me deu café.

São verdes como a esperança
as horas em que sou triste:
bem que existe não se alcança,
só cansa;
procuro o que não existe.

Se a dúvida me procura,
pondo a cerração do tédio
em minha existência obscura,
bebo esperança, remédio
para as feridas sem cura...

Que dúbio alvor de camélia
anda lá fora a flutuar ?
É noite que, de tão velha,
tão velha,
criou cabelos de luar...

A insônia do meu relógio
durante a noite passada
crivou-me o corpo, já enfermo,
de punhaladas sonoras...
Meus olhos são duas feridas
por onde escorre o sangue das horas.

Entre o passado e o porvir
aqueles peixes prata
não me deixaram dormir.
Tomei café sem parar.
Bebi treva em goles mudos...
Criei cabelo de luar.

in Poesia Brasileira do Século XX, Dos Modernistas à Actualidade, Dircção, Introdução e Notas de Jorge Henrique Bastos, Edições Antígona


Cassiano Ricardo Leite (n. em São José dos Campos (SP) a 26 de Jul de 1895; m. em 14 de Jan 1974 no Rio de Janeiro)


" Piñeyra trabalhou no governo Pinochet.O verniz democrático, não passa disso, sobrevivência e embuste político. Seja no período de excessão ou de abertura democrática a condução de politica economica não se alterou e seus reflexos sociais podem ser vistos na previdência social como agora na educação chilenas.O Chile viveu uma democracia tutelada pelos militares até a eleição de Bachelet, que representou um tapa na cara dos torturadores.A eleição desse homen de negócios representa a recondução do projeto político e sobretudo economico das elites conservadoras chilenas, um pinochetismo repajinado, menos truculento mas não por isso menos segregador de esperanças de toda a nação chilena em especial a classe mais desfavorecida no projeto neoliberal.""

Claudio Daniel 

Comunhão




Tal como o camponês, que canta a semear
A terra,
Ou como tu , pastor, que cantas a bordar
A serra
De brancura,
Assim eu canto, sem me ouvir cantar,
Livre e à minha altura.

Semear trigo e apascentar ovelhas
È oficiar à vida
Numa missa campal.
Mas como sobra desse ritual
Uma leve e gratuita melodia,
Junto o meu canto de homem natural
Ao grande coro dessa poesia.



 De: Miguel Torga

sábado, 16 de setembro de 2017

"No 150º aniversário de 'O Capital', ainda vale a pena ler Marx"


Principal obra do filósofo alemão é possivelmente uma das mais citadas mundo afora – mas não necessariamente a mais lida. Em entrevista à DW, jornalista econômico aponta os prós e contras do livro na era da globalização.

 Karl Marx

Karl Marx nasceu em Trier, na Alemanha, em 1818

Há exatos 150 anos era lançado O capital, de Karl Marx (1818-1883), um obra que hoje tem um status quase mítico. Com base em seu conteúdo – ou pelo menos em seu nome – travaram-se revoluções e ergueram-se sistemas político-sociais. Ainda hoje, o gigantesco retrato de Marx ocupa lugar de honra na principal praça de Pequim, ao lado de outros pensadores do comunismo. Mas que relevância ainda podem ter as ideias marxistas no mundo contemporâneo?

O jornalista alemão Bernd Ziesemer, autor do livro Karl Marx für jedermann (Karl Marx para todo o mundo), publicado em 2012, defende a tese que Marx pode ser visto como teórico pioneiro da globalização.
Em entrevista à DW, Ziesemer, que foi editor-chefe do jornal econômico Handelsblatt, considera, porém, que O capital se baseia num erro de raciocínio e não é necessariamente a obra marxista de leitura obrigatória.

DW: Em 2012 o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) publicou uma série com o fim de aproximar grandes economistas do cidadão comum. Quem ficou encarregado de Karl Marx foi justamente o senhor, um defensor do livre-mercado. Como isso ocorreu?

Bernd Ziesemer: "Há trechos em 'O Capital' em que Marx diz que vitória mundial do capitalismo fará desaparecer velhas tradições e resquícios feudalistas"

Bernd Ziesemer: Há dois motivos: na minha juventude eu não era liberal econômico, mas sim comunista, e na época lia Karl Marx com os óculos ideológicos de um esquerdista. Mais tarde, de fato, me desenvolvi como liberal e conservador e sempre tive a intenção de me ocupar dos livros que havia lido na juventude. E foi o que eu fiz. Na época, disse ao FAZ: "Provavelmente sou a única pessoa na Alemanha que leu as principais obras de Marx duas vezes."

Na China, aprendi na disciplina escolar Economia Política que o operário vende sua força de trabalho ao capitalista e recebe um salário em troca. A diferença entre o valor que ele gerou e o seu ordenado é a mais-valia. O capitalista tenta manter o salário tão baixo quanto possível, a fim de maximizar a mais-valia. Em algum momento, essa exploração fica tão insuportável que os operários se rebelam e derrubam o capitalismo. Isso vale como um resumo aproximado de O capital?

Pode-se dizer que sim, embora O capital seja uma obra incrivelmente ramificada. Mas a tese central é, de fato, que os trabalhadores são explorados, que a única saída é a revolução. Quando Karl Marx escreveu O capital, ele tinha duas metas: queria contradizer a economia clássica num ponto central, e queria dar ao movimento operário uma base teórica para a derrubada do capitalismo.

Durante toda a vida, Marx de fato esperou o colapso do capitalismo e profetizou a vitória do comunismo. Nenhum dos dois ocorreu. Qual foi seu erro de raciocínio?

Acho que toda a teoria dele se baseia num erro de raciocínio. Ele viu na mão de obra como a única fonte de valia, deixando de perceber que o capitalismo não funciona através da exploração dos trabalhadores, mas sim de um constante avanço tecnológico. No cerne de sua teoria, ele subestimou as outras fontes de riqueza, ou seja, a inovação, a iniciativa empresarial e o progresso tecnológico.


É interessante que há trechos em O Capital, ou também no Manifesto comunista, em que ele diz que a vitória mundial do capitalismo fará desaparecer todas as velhas tradições e resquícios feudalistas. Por isso avancei a tese que podemos entender Karl Marx como primeiro verdadeiro teórico da globalização.
Karl Marx teria sido melhor economista se não se visse um revolucionário praticante?

Ele praticamente viveu três vidas. A mais importante delas era, para ele, a de revolucionário. Em segundo lugar, foi economista, e em terceiro, filósofo. Durante o trabalho em O capital, que se prolongou por mais de dez anos, em algum momento ele notou que chegara a um beco sem saída, que não conseguia dar o grande lance. Não se deve esquecer que O capital foi planejado em três volumes, mas só o primeiro foi publicado durante a vida do autor. O segundo volume, Friedrich Engels conseguiu até certo ponto concluir, com base nos esboços preliminares. O terceiro é, na verdade, só um aglomerado de pensamentos formulados pela metade. Nesse sentido, não existe uma obra econômica conclusa de Karl Marx.

É verdade que Marx não tinha nem o dinheiro para enviar a primeira parte de O Capital ao editor pelo correio?

Correto. Em cartas a Engels, ele escreveu diversas vezes: o açougueiro está à porta e quer que as contas sejam pagas, e nós não temos um só shilling em casa. E se não me enviares dinheiro imediatamente, vou ter que ir para a prisão. Também ao escrever O capital, ele tinha bem pouco dinheiro à disposição. Sua situação econômica só mudou mais tarde, quando Engels recebeu a herança da família e praticamente concedeu uma espécie de pensão a Marx. Nos últimos anos de vida, Marx podia contar com um rendimento relativamente garantido, mas no meio tempo houve essas fases da mais amarga pobreza.


Primeira edição de "O capital", escrito numa época de penúria na vida de Marx

Ele certamente não poderia imaginar que, 150 anos depois da publicação de O capital, ainda seria reverenciado num país bem distante. O retrato de Marx continua pendurado na Praça da Paz Celestial de Pequim. Como o senhor vê o papel dele na China?

Acho que o marxismo chinês se desenvolveu, em grande parte, sem conhecimento preciso da obra de Karl Marx. A meu ver, nos primórdios do Partido Comunista da China, muitas das ideias marxistas não tiveram a menor influência; parte de suas obras nem havia sido traduzida. Minha impressão é que existe uma veneração a Karl Marx na China, mas que ela não se baseia num conhecimento difundido da obra dele.
Estudantes de economia devem ler O capital? Quão atual é Karl Marx?


Não é preciso ler Marx para ser um bom economista. A maioria de suas teorias ou ficou superada com o passar do tempo ou já era equivocada desde o início. No entanto ainda vale a pena ler Karl Marx, pois há um grande número de pensamentos interessantes. Se tem necessariamente que ser O capital, não sei, pois, sobretudo nos primeiros capítulos, é uma leitura bem árida e maçante. Na verdade, eu sempre recomendaria que se leia o Manifesto comunista, que é muito bem escrito e faz parte do cânon da literatura na Alemanha. Portanto eu o recomendaria mais do que O capital.

1916: Primeiro tanque de guerra em ação


Em 15 de setembro de 1916, um tanque de guerra foi usado pela primeira vez na história militar em uma frente de batalha, no norte da França.



 15 Sep 1916 Die ersten Panzer Mark I tank (C.19 Clan Leslie) (picture-alliance/Photoshot)

Tanque inglês em 15 de setembro de 1916

Em setembro de 1916, as tropas alemãs combatiam em Flers, na França, numa das batalhas mais sangrentas da Primeira Guerra Mundial, que deixou um saldo de mais de um milhão de soldados mortos. Durante a chamada Batalha do Somme, alemães e aliados enfrentaram-se durante semanas numa frente de combate de mais de 40 quilômetros de extensão.

Na luta por alguns metros de terreno, foram cavadas longas trincheiras, e cercas de arame farpado protegiam os soldados de ataques repentinos do inimigo. Trocas de tiros e ataques diretos alternavam-se, sem que nebhuma das partes conseguisse levar vantagem.

Na manhã do dia 15 de setembro de 1916, os alemães aguardavam os costumeiros ataques das tropas inglesas de infantaria. Para surpresa geral, no lugar de combatentes, surgiram à distância o que alguns soldados acreditaram tratar-se de tratores.

"Movidos por forças sobrenaturais"

Um correspondente de guerra relatou o fato da seguinte forma: "Sobre as crateras vinham dois gigantes. Os monstros aproximavam-se hesitantes e vacilantes, mas chegavam cada vez mais perto. Para eles, que pareciam movidos por forças sobrenaturais, não havia obstáculos. Os disparos das nossas metralhadoras e das nossas armas de mão ricocheteavam neles. Assim, eles conseguiram liquidar, sem esforço, os granadeiros das trincheiras avançadas".

O que os estupefatos alemães presenciaram era a ação dos primeiros tanques de guerra da história da humanidade – a nova arma que ingleses e franceses haviam construído em sigilo absoluto. Essa arma recebeu dos militares aliados o codinome tank, tanque em inglês, para que os inimigos pensassem em reservatórios de água ou de combustível, caso extravasasse alguma informação sobre o projeto secreto.

Os novos tanques de guerra desencadearam a situação mais fatídica ocorrida até então numa frente de combate. Os "monstros" superavam obstáculos, em função dos quais milhares de soldados tinham morrido antes. Armas, trincheiras ou cercas de arame farpado – nada conseguia deter os poderosos veículos.

 Die ersten Panzer Mark I Tank September 1916 (Imago/United Archives)

Tanque Mark 1º na batalha pela conquista de Flers e Courcelette

Um tanque inglês avariado foi descrito da seguinte forma pelos militares alemães que conseguiram tomá-lo: "Nos lados, ele tem chapa de blindagem de dois centímetros e meio de espessura e uma torre giratória de canhão, do formato de um ninho de andorinha. É dirigido através de uma peça traseira de articulação que pode ser movida para cima e para baixo. O veículo é tão pesado, que um vagão de trem sucumbiu sob o seu peso. Eles transportam muita munição, alimentos e uma gaiola com pombos-correio".

Os primeiros tanques eram consideravelmente lentos, perfazendo apenas seis quilômetros por hora, além de serem bastantes difíceis de manobrar. Dos 49 tanques de guerra da primeira geração, que foram usados em Flers, poucos retornaram a seus postos de origem.

Elogios à coragem alemã

Grande parte deles foi abandonada no caminho em função de panes no motor ou na esteira de rodagem ou acabou atolada em algum buraco ou lamaçal profundo. Nove tanques foram destruídos pelos alemães. Depois de superar o susto inicial, os soldados alemães passaram a atacar os tanques com granadas de mão e armas de fogo.

Segundo um correspondente de guerra inglês, "a coragem dos alemães era fora do comum. Ignorando o fogo das metralhadoras dos veículos, eles tentavam, com uma fúria desesperada, assaltar os tanques e matar sua tripulação. Eles se alçavam reciprocamente ao teto do tanque, procuravam escotilha ou fendas e atiravam com revólveres nas frestas".

O número consideravelmente alto de baixas dos tanques de guerra levou o Exército alemão a acreditar que a artilharia seria sempre superior à nova invenção, o que foi considerado um erro estratégico alguns anos mais tarde.

Enquanto franceses e ingleses trabalharam na melhoria da qualidade dos seus tanques, chegando a ter no último ano da guerra alguns milhares deles, os alemães só tinham produzido 45 unidades até então. Um desequilíbrio que se tornou cada vez mais visível e acelerou a derrota alemã na Primeira Guerra.

Autoria Rachel Gessat



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1861: Krupp aciona maior martelo de forja do mundo


No dia 16 de setembro de 1861, a Fundição Friedrich Krupp colocou em funcionamento "Fritz", apresentado como o maior martelo de forja do mundo e que se tornaria um símbolo da empresa.
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Em 1811, o negociante Friedrich Krupp, da cidade de Essen, fundou "uma fábrica para a produção do aço fundido inglês e de todos os artigos derivados". No início, sua fábrica só contava sete empregados, mas cresceu rapidamente, tornando-se logo a maior usina de aço alemã e, em seguida, de todo o mundo. O nome Krupp tornou-se praticamente sinônimo para ferro e aço.


Gustav Krupp

A ascensão teve, naturalmente, os seus motivos. O mais óbvio foi o fato de que, com a industrialização e a disseminação das ferrovias e das máquinas a vapor, aumentou rapidamente a demanda de produtos de ferro e de aço.

Mas também a qualidade dos produtos era convincente: a Krupp fabricava um tipo especial de aço fundido, que era resistente, mas bem maleável. Mas a produção era difícil, pois o aço só alcançava as características desejadas com uma forjadura intensa do bloco, "sob o martelo".

Músculo já não bastava

A imagem que vem de imediato à mente é de homens musculosos, que forjam com um martelo o bloco de aço sobre uma bigorna. Mas isso é uma ilusão.

Com as dimensões das peças produzidas – por exemplo, os eixos forjados de locomotivas, eixos cardã para máquinas, chapas espessas para a construção naval e similares – também as dimensões das ferramentas necessárias à sua produção tinham de crescer: a força dos músculos já não era mais suficiente, necessitava-se de aparelhagem pesada, que era movida por máquinas a vapor.

A firma Krupp, na época comandada por Alfred Krupp, filho do fundador, assumiu o desafio. Até o ano de 1850, Krupp passava as encomendas de grandes peças a forjas mecânicas externas. Em 1851, começou a funcionar a primeira forja a vapor própria.

Estes primeiros "martelos de cabo" (Stielhämmer) eram relativamente pequenos: num cabo robusto era presa a cabeça do martelo, com um peso de cinco toneladas. Sob o cabo, havia um cilindro a vapor que movimentava o martelo para cima, para que caísse, movido pelo próprio peso.

Esses martelos, com as suas construções simples mas pesadonas, foram utilizados durante cerca de vinte anos. Contudo, já no final da década de 50 do século 19, surgiu a necessidade de martelos ainda maiores e mais pesados, para que se pudessem forjar blocos de aço ainda mais pesados.

Maior martelo a vapor

Alfred Krupp, a quem os contemporâneos atestavam ousadia e também uma tendência aos excessos, construiu um novo tipo de martelo a vapor, de um tamanho jamais visto.

A armação de sólidas vigas de ferro tinha muitos metros de altura. Nela estava presa com grossas correntes o peso de queda, apelidado de "urso" (Bär): inicialmente, ele tinha uma massa de 30 toneladas, sendo elevada posteriormente para 50 toneladas. Esse monstruoso martelo a vapor ganhou o nome quase despretensioso de "Fritz". No dia 16 de setembro de 1861, ele começou a funcionar, sendo então o maior martelo de forja do mundo.

"Fritz" tornou-se legendário e foi um símbolo da capacidade de inovação e de desempenho da firma Krupp. Surpreendia sobretudo a precisão com que se podia operar um martelo aparentemente tão grotesco.

Um acontecimento foi muito relatado na época: numa visita à usina Krupp em 1877, o imperador alemão pôs o seu precioso relógio sobre a bigorna e o "urso" desceu… Naturalmente, nada aconteceu, pois o martelo foi parado, com enorme precisão, a poucos milímetros do vidro do relógio.

A época do "Fritz" também terminou. Mas ele ainda chegou a receber a companhia de um outro martelo menor, com o nome de "Max". E, além disso, tinham sido feitos planos para um martelo ainda maior, que se chamaria "Hércules" e teria um "urso" de 150 toneladas.

Esses planos nunca foram realizados: já em meados da década de 70 do século 19, sabia-se que as prensas hidráulicas seriam ferramentas muito mais apropriadas e de muito melhor desempenho para forjar grandes blocos de aço. Quando "Fritz" foi desmontado, em 1911, ele já era uma relíquia dos tempos passados.

Carsten Heinisch (am)


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1894: A POSSE DE PRUDENTE DE MORAES,A


AUSêNCIA ARROGANTE DE FLORIANO PEIXOTO

Num artigo escrito ha dias, contei o fato: Floriano Peixoto que era vice, acumulando com o Ministério da Guerra, derrubou o presidente Deodoro, assumiu no seu lugar. Sem comunicar a ninguém, ocupou o palácio presidencial, que era então no suntuoso, luxuoso, maravilhoso Itamaraty.
O caríssimo Edson Motta, citando conferencia antiga do respeitado Milton Temer, num texto magnifico, faz referencias aos dois personagens. Mas como eles foram vastamente importantes no governo inicial da Republica, muita coisa foi esquecida. Por exemplo: enquanto Deodoro e Floriano sem voto e sem povo, se apossavam do poder, Prudente era eleito diretamente Presidente do Senado.
Ficou 4 anos no cargo. O Senado (e a Câmara ) eram na Quinta da Boavista. Muito mais tarde mudou para uma transversal da Lavradio, e ha mais de 80 anos se chama rua do Senado. Depois foi para o Palácio Monroe, replica externa, apenas externa, do Capitólio. O "presidente" Geisel, mandou derruba-lo em 1976 e transforma-lo num estacionamento subterrâneo .
Floriano assumiu como se fosse ficar para sempre. Em 1894, Prudente foi eleito, não veio do palácio presidencial (que nem era em São Cristovão, e sim quase em frente á Central do Brasil), pois se não fora empossado, como estaria no palácio? Além do mais, os dois se atritaram e se hostilizaram, em virtude dos cargos que ocupavam.(Floriano sempre vetado pelo Senado).
Floriano não tomou a menor providencia para a transmissão, que aconteceu não em São Cristovão , mas na Praça da Republica. 15 de novembro, verão terrível, todos da casaca e cartola, chegando de Tilbury. Suando desesperadamente. Terminada a solenidade, foram a pé para o Itamaraty, que era do lado .E que só continuou palácio presidencial até l896. Prudente teve que ser operado com urgencia. Seu vice(sempre eles) comprou o Palácio do Catete e se mudou para lá, até á volta de Prudente, 8 meses depois.
Ainda existem contradições, equívocos, desacertos. Mas vou parar por aqui, chegando na parte em que o embaixador da Inglaterra "dá posse ao presidente do Brasil". È tão engraçado e despropositado que não é possível nem remendar. Só não conhecendo o personagem Prudente de Moraes, elegante, compreensível ,mas prezando acima tudo a autoridade. Em 1898, expulsou do Palácio do Catete(já na volta da operação)um Rotschild, que afrontosamente foi lhe cobrar a divida externa. Como se vê, são dois episódios diferentes, o que aconteceu de verdade, narrado aqui e o da conferencia do Milton Temer.

PS- Quanto ao fato de Floriano ir "para casa" de bonde, nessa época não existia bonde na região. Só começou em 1904, quando foi aberta a enorme  e  larguíssima  Avenida Central, que passou a se chamar Avenida Rio Branco em 1912,quando morreu o Barão chanceler
Obrigado e abraço discordante  mas não conflitante, para Edson e Temer.

Helio Fernandes

"Perder uma guerra, mesmo que seja uma batalha cultural, não faz bem ao organismo: eu era uma pessoa mais amável, antes de as nossas universidades se renderem a um suposto bem social e passarem a selecionar textos de leitura com base em origem racial, gênero, preferência sexual e filiações étnicas de Novos Autores, do passado e do presente, sem levar em conta o fato de eles saberem ou não escrever."

(BLOOM, Harold. "John Milton e o 'Paraíso perdido'". In: MILTON, John. Paraíso perdido. edição bilingue: tradução, posfácio e notas de Daniel Jonas; apresentação de Harold Bloom; ilustrações de Gustav Doré. São Paulo: Editora 34, 2015. p.10)

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

NOTAS SOBRE O ENSINO E A ARTE DE ESCREVER

         
§2.

Questiono se a didática educacional, incluindo, obviamente, as atividades de pensar, saber,ler e escrever ficariam prejudicadas pela abundância de informações
generalizadas e assistemáticas. Tempo e espaço fazem parte, inegavelmente, da nossa condição humana. Ou se adquire com clareza e profundidade um conhecimento específico – não confundam isso com especialização – ou não nos sobram tempo e espaço para obter os atributos desejáveis e necessários para uma formação humanística. O fluxo de informações incessantes no ensino assemelhar-se-ia às vozes ouvidas pelos esquizofrênicos, diante da pressão auditiva, saindo ilesas dos corpos, sem serem processadas. Não processar o conhecimento prejudica a instrução. Não adquirir um conhecimento interdisciplinar prejudica as ações e políticas. Ainda por cima, não se lê como se deveria. E o pior, não se escreve como se poderia. Não seria uma surpresa, hoje, ao lermos os discursos escritos pelos alunos de escolas superiores, construirmos a contraditória ilação de
que os autores nem mesmo teriam pensado para construir seu raciocínio.



Eduardo Ribeiro Toledo      

terça-feira, 12 de setembro de 2017

MIMESIS


MIMESIS - para Waldo Motta ( Ivo Xavier, Fabio Freire ):

Seguindo a linha da convergência e síntese do pensamento humano, descobri a seguinte relação.

METEXIS

Em suma, diz-se sobre "participação". Platão usou o termo para indicar uma das relações entre a realidade e as idéias (Parm, 132, d). A mesma concepção foi utilizada para descrever a mimesis e a imitação (Republica, 597, a). Note que, adiante, o termo foi utilizado por Gioberti para designar "o ciclo de retorno do mundo a Deus, retorno este que atinge seu ápice numa renovação final ou palingenesia" (Gioberti, Protologia, II). Gioberti então utiliza o termo "mimesis" para indicar o equivocado afastamento do mundo de Deus, além de, na minha opinião, pecar, com o perdão do pleonasmo, ao simplificar o assunto e dualizar a caracterização de um termo como diversos pares de coisas ou entes do mundo, como: o corpo é a mimesis e a alma é a metexis, a fêmea é a mimesis e o o macho a metexis... Gioberti, na minha opinião, partiu da premissa científica certa, para inferir conclusões não necessariamente correspondentes (não digo verdadeiras, tampouco menciono método dedutivo). Mas há precedentes... Achei a ponta do novelo...




 Eduardo Ribeiro Toledo               

sábado, 9 de setembro de 2017

La muñeca reina


I

Vine porque aquella tarjeta, tan curiosa, me hizo recordar su existencia. La encontré en un libro olvidado cuyas páginas habían reproducido un espectro de la caligrafía infantil. Estaba acomodando, después de mucho tiempo de no hacerlo, mis libros. Iba de sorpresa en sorpresa, pues algunos, colocados en las estanterías más altas, no fueron leídos durante mucho tiempo. Tanto, que el filo de las hojas se había granulado, de manera que sobre mis palmas abiertas cayó una mezcla de polvo de oro y escama grisácea, evocadora del barniz que cubre ciertos cuerpos entrevistos primero en los sueños y después en la decepcionante realidad de la primera función de ballet a la que somos conducidos. Era un libro de mi infancia -acaso de la de muchos niños- y relataba una serie de historias ejemplares más o menos truculentas que poseían la virtud de arrojarnos sobre las rodillas de nuestros mayores para preguntarles, una y otra vez, ¿por qué? Los hijos que son desagradecidos con sus padres, las mozas que son raptadas por caballerangos y regresan avergonzadas a la casa, así como las que de buen grado abandonan el hogar, los viejos que a cambio de una hipoteca vencida exigen la mano de la muchacha más dulce y adolorida de la familia amenazada, ¿por qué? No recuerdo las respuestas. Sólo sé que de entre las páginas manchadas cayó, revoloteando, una tarjeta blanca con la letra atroz de Amilamia: Amilamia no olbida a su amigito y me buscas aquí como te lo divujo.

Y detrás estaba ese plano de un sendero que partía de la X que debía indicar, sin duda, la banca del parque donde yo, adolescente rebelde a la educación prescrita y tediosa, me olvidaba de los horarios de clase y pasaba varias horas leyendo libros que, si no fueron escritos por mí, me lo parecían: ¿cómo iba a dudar que sólo de mi imaginación podían surgir todos esos corsarios, todos esos correos del zar, todos esos muchachos, un poco más jóvenes que yo, que bogaban el día entero sobre una barcaza a lo largo de los grandes ríos americanos? Prendido al brazo de la banca como a un arzón milagroso, al principio no escuché los pasos ligeros que, después de correr sobre la grava del jardín, se detenían a mis espaldas. Era Amilamia y no supe cuánto tiempo me habría acompañado en silencio si su espíritu travieso, cierta tarde, no hubiese optado por hacerme cosquillas en la oreja con los vilanos de un amargón que la niña soplaba hacia mí con los labios hinchados y el ceño fruncido.

Preguntó mi nombre y después de considerarlo con el rostro muy serio, me dijo el suyo con una sonrisa, si no cándida, tampoco demasiado ensayada. Pronto me di cuenta que Amilamia había encontrado, por así decirlo, un punto intermedio de expresión entre la ingenuidad de sus años y las formas de mímica adulta que los niños bien educados deben conocer, sobre todo para los momentos solemnes de la presentación y la despedida. La gravedad de Amilamia, más bien, era un don de su naturaleza, al grado de que sus momentos de espontaneidad, en contraste, parecían aprendidos. Quiero recordarla, una tarde y otra, en una sucesión de imágenes fijas que acaban por sumar a Amilamia entera. Y no deja de sorprenderme que no pueda pensar en ella como realmente fue, o como en verdad se movía, ligera, interrogante, mirando de un lado a otro sin cesar. Debo recordarla detenida para siempre, como en un álbum. Amilamia a lo lejos, un punto en el lugar donde la loma caía, desde un lago de tréboles, hacia el prado llano donde yo leía sentado sobre la banca: un punto de sombra y sol fluyentes y una mano que me saludaba desde allá arriba. Amilamia detenida en su carrera loma abajo, con la falda blanca esponjada y los calzones de florecillas apretados con ligas alrededor de los muslos, con la boca abierta y los ojos entrecerrados porque la carrera agitaba el aire y la niña lloraba de gusto. Amilamia sentada bajo los eucaliptos, fingiendo un llanto para que yo me acercara a ella. Amilamia boca abajo con una flor entre las manos: los pétalos de un amento que, descubrí más tarde, no crecía en este jardín, sino en otra parte, quizás en el jardín de la casa de Amilamia, pues la única bolsa de su delantal de cuadros azules venía a menudo llena de esas flores blancas. Amilamia viéndome leer, detenida con ambas manos a los barrotes de la banca verde, inquiriendo con los ojos grises: recuerdo que nunca me preguntó qué cosa leía, como si pudiese adivinar en mis ojos las imágenes nacidas de las páginas. Amilamia riendo con placer cuando yo la levantaba del talle y la hacía girar sobre mi cabeza y ella parecía descubrir otra perspectiva del mundo en ese vuelo lento. Amilamia dándome la espalda y despidiéndose con el brazo en alto y los dedos alborotados. Y Amilamia en las mil posturas que adoptaba alrededor de mi banca: colgada de cabeza, con las piernas al aire y los calzones abombados; sentada sobre la grava, con las piernas cruzadas y la barbilla apoyada en el mentón; recostada sobre el pasto, exhibiendo el ombligo al sol; tejiendo ramas de los árboles, dibujando animales en el lodo con una vara, lamiendo los barrotes de la banca, escondida bajo el asiento, quebrando sin hablar las cortezas sueltas de los troncos añosos, mirando fijamente el horizonte más allá de la colina, canturreando con los ojos cerrados, imitando las voces de pájaros, perros, gatos, gallinas, caballos. Todo para mí, y sin embargo, nada. Era su manera de estar conmigo, todo esto que recuerdo, pero también su manera de estar a solas en el parque. Sí; quizás la recuerdo fragmentariamente porque mi lectura alternaba con la contemplación de la niña mofletuda, de cabello liso y cambiante con los reflejos de la luz: ora pajizo, ora de un castaño quemado. Y sólo hoy pienso que Amilamia, en ese momento, establecía el otro punto de apoyo para mi vida, el que creaba la tensión entre mi propia infancia irresuelta y el mundo abierto, la tierra prometida que empezaba a ser mía en la lectura.

Entonces no. Entonces soñaba con las mujeres de mis libros, con las hembras -la palabra me trastornaba- que asumían el disfraz de la Reina para comprar el collar en secreto, con las invenciones mitológicas -mitad seres reconocibles, mitad salamandras de pechos blancos y vientres húmedos- que esperaban a los monarcas en sus lechos. Y así, imperceptiblemente, pasé de la indiferencia hacia mi compañía infantil a una aceptación de la gracia y gravedad de la niña, y de allí a un rechazo impensado de esa presencia inútil. Acabó por irritarme, a mí que ya tenía catorce años, esa niña de siete que no era, aún, la memoria y su nostalgia, sino el pasado y su actualidad. Me habla dejado arrastrar por una flaqueza. Juntos habíamos corrido, tomados de la mano, por el prado. Juntos habíamos sacudido los pinos y recogido las piñas que Amilamia guardaba con celo en la bolsa del delantal. Juntos habíamos fabricado barcos de papel para seguirlos, alborozados, al borde de la acequia. Y esa tarde, cuando juntos rodamos por la colina, en medio de gritos de alegría, y al pie de ella caímos juntos, Amilamia sobre mi pecho, yo con el cabello de la niña en mis labios, y sentí su jadeo en mi oreja y sus bracitos pegajosos de dulce alrededor de mi cuello, le retiré con enojo los brazos y la dejé caer. Amilamia lloró, acariciándose la rodilla y el codo heridos, y yo regresé a mi banca. Luego Amilamia se fue y al día siguiente regresó, me entregó el papel sin decir palabra y se perdió, canturreando, en el bosque. Dudé entre rasgar la tarjeta o guardarla en las páginas del libro. Las tardes de la granja. Hasta mis lecturas se estaban infantilizando al lado de Amilamia. Ella no regresó al parque. Yo, a los pocos días, salí de vacaciones y después regresé a los deberes del primer año de bachillerato. Nunca la volví a ver.



II

Y ahora, casi rechazando la imagen que es desacostumbrada sin ser fantástica y por ser real es más dolorosa, regreso a ese parque olvidado y, detenido ante la alameda de pinos y eucaliptos, me doy cuenta de la pequeñez del recinto boscoso, que mi recuerdo se ha empeñado en dibujar con una amplitud que pudiera dar cabida al oleaje de la imaginación. Pues aquí habían nacido, hablado y muerto Strogoff y Huckleberry, Milady de Winter y Genoveva de Brabante: en un pequeño jardín rodeado de rejas mohosas, plantado de escasos árboles viejos y descuidados, adornado apenas con una banca de cemento que imita la madera y que me obliga a pensar que mi hermosa banca de hierro forjado, pintada de verde, nunca existió o era parte de mi ordenado delirio retrospectivo. Y la colina... ¿Cómo pude creer que era eso, el promontorio que Amilamia bajaba y subía durante sus diarios paseos, la ladera empinada por donde rodábamos juntos? Apenas una elevación de zacate pardo sin más relieve que el que mi memoria se empeñaba en darle.

Me buscas aquí como te lo divujo. Entonces habría que cruzar el jardín, dejar atrás el bosque, descender en tres zancadas la elevación, atravesar ese breve campo de avellanos -era aquí, seguramente, donde la niña recogía los pétalos blancos-, abrir la reja rechinante del parque y súbitamente recordar, saber, encontrarse en la calle, darse cuenta de que todas aquellas tardes de la adolescencia, como por milagro, habían logrado suspender los latidos de la ciudad circundante, anular esa marea de pitazos, campanadas, voces, llantos, motores, radios, imprecaciones: ¿cuál era el verdadero imán: el jardín silencioso o la ciudad febril? Espero el cambio de luces y paso a la otra acera sin dejar de mirar el iris rojo que detiene el tránsito. Consulto el papelito de Amilamia. Al fin y al cabo, ese plano rudimentario es el verdadero imán del momento que vivo, y sólo pensarlo me sobresalta. Mi vida, después de las tardes perdidas de los catorce años, se vio obligada a tomar los cauces de la disciplina y ahora, a los veintinueve, debidamente diplomado, dueño de un despacho, asegurado de un ingreso módico, soltero aún, sin familia que mantener, ligeramente aburrido de acostarme con secretarias, apenas excitado por alguna salida eventual al campo o a la playa, carecía de una atracción central como las que antes me ofrecieron mis libros, mi parque y Amilamia. Recorro la calle de este suburbio chato y gris. Las casas de un piso se suceden monótonamente, con sus largas ventanas enrejadas y sus portones de pintura descascarada. Apenas el rumor de ciertos oficios rompe la uniformidad del conjunto. El chirreo de un afilador aquí, el martilleo de un zapatero allá. En las cerradas laterales, juegan los niños del barrio. La música de un organillo llega a mis oídos, mezclada con las voces de las rondas. Me detengo un instante a verlos, con la sensación, también fugaz, de que entre esos grupos de niños estaría Amilamia, mostrando impúdicamente sus calzones floreados, colgada de las piernas desde un balcón, afecta siempre a sus extravagancias acrobáticas, con la bolsa del delantal llena de pétalos blancos. Sonrío y por vez primera quiero imaginar a la señorita de veintidós años que, si aún vive en la dirección apuntada, se reirá de mis recuerdos o acaso habrá olvidado las tardes pasadas en el jardín.

La casa es idéntica a las demás. El portón, dos ventanas enrejadas, con los batientes cerrados. Un solo piso, coronado por un falso barandal neoclásico que debe ocultar los menesteres de la azotea: la ropa tendida, los tinacos de agua, el cuarto de criados, el corral. Antes de tocar el timbre, quiero desprenderme de cualquier ilusión. Amilamia ya no vive aquí. ¿Por qué iba a permanecer quince años en la misma casa? Además, pese a su independencia y soledad prematuras, parecía una niña bien educada, bien arreglada, y este barrio ya no es elegante; los padres de Amilamia, sin duda, se han mudado. Pero quizás los nuevos inquilinos saben a dónde.

Aprieto el timbre y espero. Vuelvo a tocar. Ésa es otra contingencia: que nadie esté en casa. Y yo, ¿sentiré otra vez la necesidad de buscar a mi amiguita? No, porque ya no será posible abrir un libro de la adolescencia y encontrar, al azar, la tarjeta de Amilamia. Regresaría a la rutina, olvidaría el momento que sólo importaba por su sorpresa fugaz.

Vuelvo a tocar. Acerco la oreja al portón y me siento sorprendido: una respiración ronca y entrecortada se deja escuchar del otro lado; el soplido trabajoso, acompañado por un olor desagradable a tabaco rancio, se filtra por los tablones resquebrajados del zaguán.

-Buenas tardes. ¿Podría decirme...?

Al escuchar mi voz, la persona se retira con pasos pesados e inseguros. Aprieto de nuevo el timbre, esta vez gritando:

-¡Oiga! ¡Ábrame! ¿Qué le pasa? ¿No me oye?

No obtengo respuesta. Continúo tocando el timbre, sin resultados. Me retiro del portón, sin alejar la mirada de las mínimas rendijas, como si la distancia pudiese darme perspectiva e incluso penetración. Con toda la atención fija en esa puerta condenada, atravieso la calle caminando hacia atrás; un grito agudo me salva a tiempo, seguido de un pitazo prolongado y feroz, mientras yo, aturdido, busco a la persona cuya voz acaba de salvarme, sólo veo el automóvil que se aleja por la calle y me abrazo a un poste de luz, a un asidero que, más que seguridad, me ofrece un punto de apoyo para el paso súbito de la sangre helada a la piel ardiente, sudorosa. Miro hacia la casa que fue, era, debía ser la de Amilamia. Allá, detrás de la balaustrada, como lo sabía, se agita la ropa tendida. No sé qué es lo demás: camisones, pijamas, blusas, no sé; yo veo ese pequeño delantal de cuadros azules, tieso, prendido con pinzas al largo cordel que se mece entre una barra de fierro y un clavo del muro blanco de la azotea.



III

En el Registro de la Propiedad me han dicho que ese terreno está a nombre de un señor R. Valdivia, que alquila la casa. ¿A quién? Eso no lo saben. ¿Quién es Valdivia? Ha declarado ser comerciante. ¿Dónde vive? ¿Quién es usted?, me ha preguntado la señorita con una curiosidad altanera. No he sabido presentarme calmado y seguro. El sueño no me alivió de la fatiga nerviosa. Valdivia. Salgo del Registro y el sol me ofende. Asocio la repugnancia que me provoca el sol brumoso y tamizado por las nubes bajas -y por ello más intenso- con el deseo de regresar al parque sombreado y húmedo. No, no es más que el deseo de saber si Amilamia vive en esa casa y por qué se me niega la entrada. Pero lo que debo rechazar, cuanto antes, es la idea absurda que no me permitió cerrar los ojos durante la noche. Haber visto el delantal secándose en la azotea, el mismo en cuya bolsa guardaba las flores, y creer por ello que en esa casa vivía una niña de siete años que yo había conocido catorce o quince antes... Tendría una hijita. Sí. Amilamia, a los veintidós años, era madre de una niña que quizás se vestía igual, se parecía a ella, repetía los mismos juegos, ¿quién sabe?, iba al mismo parque. Y cavilando llego de nuevo hasta el portón de la casa. Toco el timbre y espero el resuello agudo del otro lado de la puerta. Me he equivocado. Abre la puerta una mujer que no tendrá más de cincuenta años. Pero envuelta en un chal, vestida de negro y con zapatos de tacón bajo, sin maquillaje, con el pelo estirado hasta la nuca, entrecano, parece haber abandonado toda ilusión o pretexto de juventud y me observa con ojos casi crueles de tan indiferentes.

-¿Deseaba?

-Me envía el señor Valdivia. -Toso y me paso una mano por el pelo. Debí recoger mi cartapacio en la oficina. Me doy cuenta de que sin él no interpretaré bien mi papel.

-¿Valdivia? -La mujer me interroga sin alarma; sin interés.

-Sí. El dueño de la casa.

Una cosa es clara: la mujer no delatará nada en el rostro. Me mira impávida.

-Ah sí. El dueño de la casa.

-¿Me permite?...

Creo que en las malas comedias el agente viajero adelanta un pie para impedir que le cierren la puerta en las narices. Yo lo hago, pero la señora se aparta y con un gesto de la mano me invita a pasar a lo que debió ser una cochera. Al lado hay una puerta de cristal y madera despintada. Camino hacia ella, sobre los azulejos amarillos del patio de entrada, y vuelvo a preguntar, dando la cara a la señora que me sigue con paso menudo:

-¿Por aquí?

La señora asiente y por primera vez observo que entre sus manos blancas lleva una camándula con la que juguetea sin cesar. No he vuelto a ver esos viejos rosarios desde mi infancia y quiero comentarlo, pero la manera brusca y decidida con que la señora abre la puerta me impide la conversación gratuita. Entramos a un aposento largo y estrecho. La señora se apresura a abrir los batientes, pero la estancia sigue ensombrecida por cuatro plantas perennes que crecen en los macetones de porcelana y vidrio incrustado. Sólo hay en la sala un viejo sofá de alto respaldo enrejado de bejuco y una mecedora. Pero no son los escasos muebles o las plantas lo que llama mi atención. La señora me invita a tomar asiento en el sofá antes de que ella lo haga en la mecedora.

A mi lado, sobre el bejuco, hay una revista abierta.

-El señor Valdivia se excusa de no haber venido personalmente.

La señora se mece sin pestañear. Miro de reojo esa revista de cartones cómicos.

-La manda saludar y...

Me detengo, esperando una reacción de la mujer. Ella continúa meciéndose. La revista está garabateada con un lápiz rojo.

-...y me pide informarle que piensa molestarla durante unos cuantos días...

Mis ojos buscan rápidamente.

-...Debe hacerse un nuevo avalúo de la casa para el catastro. Parece que no se hace desde... ¿Ustedes llevan viviendo aquí...?

Sí; ese lápiz labial romo está tirado debajo del asiento. Y si la señora sonríe lo hace con las manos lentas que acarician la camándula: allí siento, por un instante, una burla veloz que no alcanza a turbar sus facciones. Tampoco esta vez me contesta.

-...¿por lo menos quince años, no es cierto...?

No afirma. No niega. Y en sus labios pálidos y delgados no hay la menor señal de pintura...

-...¿usted, su marido y...?

Me mira fijamente, sin variar de expresión, casi retándome a que continúe. Permanecemos un instante en silencio, ella jugueteando con el rosario, yo inclinado hacia adelante, con las manos sobre las rodillas. Me levanto.

-Entonces, regresaré esta misma tarde con mis papeles...

La señora asiente mientras, en silencio, recoge el lápiz labial, toma la revista de caricaturas y los esconde entre los pliegues del chal.


IV

La escena no ha cambiado. Esta tarde, mientras yo apunto cifras imaginarias en un cuaderno y finjo interés en establecer la calidad de las tablas opacas del piso y la extensión de la estancia, la señora se mece y roza con las yemas de los dedos los tres dieces del rosario. Suspiro al terminar el supuesto inventario de la sala y le pido que pasemos a otros lugares de la casa. La señora se incorpora, apoyando los brazos largos y negros sobre el asiento de la mecedora y ajustándose el chal a las espaldas estrechas y huesudas.

Abre la puerta de vidrio opaco y entramos a un comedor apenas más amueblado. Pero la mesa con patas de tubo, acompañada de cuatro sillas de níquel y hulespuma, ni siquiera poseen el barrunto de distinción de los muebles de la sala. La otra ventana enrejada, con los batientes cerrados, debe iluminar en ciertos momentos este comedor de paredes desnudas, sin cómodas ni repisas. Sobre la mesa sólo hay un frutero de plástico con un racimo de uvas negras, dos melocotones y una corona zumbante de moscas. La señora, con los brazos cruzados y el rostro inexpresivo, se detiene detrás de mí. Me atrevo a romper el orden: es evidente que las estancias comunes de la casa nada me dirán sobre lo que deseo saber.

-¿No podríamos subir a la azotea? -pregunto-. Creo que es la mejor manera de cubrir la superficie total.

La señora me mira con un destello fino y contrastado, quizás, con la penumbra del comedor.

-¿Para qué? -dice, por fin-. La extensión la sabe bien el señor... Valdivia...

Y esas pausas, una antes y otra después del nombre del propietario, son los primeros indicios de que algo, al cabo, turba a la señora y la obliga, en defensa, a recurrir a cierta ironía.

-No sé -hago un esfuerzo por sonreír-. Quizás prefiero ir de arriba hacia abajo y no... -mi falsa sonrisa se va derritiendo-... de abajo hacia arriba.

-Usted seguirá mis indicaciones -dice la señora con los brazos cruzados sobre el regazo y la cruz de plata sobre el vientre oscuro.

Antes de sonreír débilmente, me obligo a pensar que en la penumbra mis gestos son inútiles, ni siquiera simbólicos. Abro con un crujido de la pasta el cuaderno y sigo anotando con la mayor velocidad posible, sin apartar la mirada, los números y apreciaciones de esta tarea cuya ficción -me lo dice el ligero rubor de las mejillas, la definida sequedad de la lengua- no engaña a nadie. Y al llenar la página cuadriculada de signos absurdos de raíces cuadradas y fórmulas algebraicas, me pregunto qué cosa me impide ir al grano, preguntar por Amilamia y salir de aquí con una respuesta satisfactoria. Nada. Y sin embargo, tengo la certeza de que por ese camino, si bien obtendría un respuesta, no sabría la verdad. Mi delgada y silenciosa acompañante tiene una silueta que en la calle no me detendría a contemplar, pero que en esta casa de mobiliario ramplón y habitantes ausentes, deja de ser un rostro anónimo de la ciudad para convertirse en un lugar común del misterio Tal es la paradoja, y si las memorias de Amilamia han despertado otra vez mi apetito de imaginación seguiré las reglas del juego, agotaré las apariencia y no reposaré hasta encontrar la respuesta -quizá simple y clara, inmediata y evidente- a través de los inesperados velos que la señora del rosario tiende en mi camino. ¿Le otorgo a mi anfitriona renuente una extrañeza gratuita? Si es así, sólo gozaré más en los laberintos de mi invención. Y la moscas zumban alrededor del frutero, pero se posan sobre ese punto herido del melocotón, ese trozo mordisqueado -me acerco con el pretexto de mis notas- por unos dientecillos que han dejado su huella en la piel aterciopelada y la carne ocre de la fruta. No miro hacia donde está la señora. Finjo que sigo anotando. La fruta parece mordida pero no tocada. Me agacho para verla mejor, apoyo las manos sobre la mesa, adelanto los labios como si quisiera repetir el acto de morder sin tocar. Bajo los ojos y veo otra huella cerca de mi pies: la de dos llantas que me parecen de bicicleta, dos tiras de goma impresas sobre el piso de madera despintada que llegan hasta el filo de la mesa y luego se retiran, cada vez más débiles, a lo largo del piso, hacía donde está la señora...

Cierro mi libro de notas.

-Continuemos, señora.

Al darle la cara, la encuentro de pie con las manos sobre el respaldo de una silla Delante de ella, sentado, tose el humo de su cigarrillo negro un hombre de espaldas cargadas y mirar invisible: los ojos están escondidos por esos párpados arrugados, hinchados, gruesos y colgantes similares a un cuello de tortuga vieja, que no obstante parece seguir mis movimientos. Las mejillas mal afeitadas, hendidas por mil surcos grises, cuelgan de los pómulos salientes y las manos verdosas están escondidas entre las axilas: viste una camisa burda, azul, y su pelo revuelto semeja, por lo rizado, un fondo de barco cubierto de caramujos. No se mueve y el signo real de su existencia es ese jadeo difícil (como si la respiración debiera vencer los obstáculos de una y otra compuerta de flema, irritación, desgaste) que ya había escuchado entre los resquicios del zaguán.

Ridículamente, murmuró: -Buenas tardes... -y me dispongo a olvidarlo todo: el misterio, Amilamia, el avalúo, las pistas. La aparición de este lobo asmático justifica un pronta huida. Repito "Buenas tardes", ahora en son de despedida. La máscara de la tortuga se desbarata en una sonrisa atroz: cada poro de esa carne parece fabricado de goma quebradiza, de hule pintado y podrido. El brazo se alarga y me detiene.

-Valdivia murió hace cuatro años -dice el hombre con esa voz sofocada, lejana, situada en las entrañas y no en la laringe: una voz tipluda y débil.

Arrestado por esa garra fuerte, casi dolorosa, me digo que es inútil fingir. Los rostros de cera y caucho que me observan nada dicen y por eso puedo, a pesar de todo, fingir por última vez, inventar que me hablo a mí mismo cuando digo:

-Amilamia...

Sí: nadie habrá de fingir más. El puño que aprieta mi brazo afirma su fuerza sólo por un instante, en seguida afloja y al fin cae, débil y tembloroso, antes de levantarse y tomar la mano de cera que le tocaba el hombro: la señora, perpleja por primera vez, me mira con los ojos de un ave violada y llora con un gemido seco que no logra descomponer el azoro rígido de sus facciones. Los ogros de mi invención, súbitamente, son dos viejos solitarios, abandonados, heridos, que apenas pueden confortarse al unir sus manos con un estremecimiento que me llena de vergüenza. La fantasía me trajo hasta este comedor desnudo para violar la intimidad y el secreto de dos seres expulsados de la vida por algo que yo no tenía el derecho de compartir. Nunca me he despreciado tanto. Nunca me han faltado las palabras de manera tan burda. Cualquier gesto es vano: ¿voy a acercarme, voy a tocarlos, voy a acariciar la cabeza de la señora, voy a pedir excusas por mi intromisión? Me guardo el libro de notas en la bolsa del saco. Arrojo al olvido todas las pistas de mi historia policial: la revista de dibujos, el lápiz labial, la fruta mordida, las huellas de la bicicleta, el delantal de cuadros azules... Decido salir de esta casa sin decir nada. El viejo, detrás de los párpados gruesos, ha debido fijarse en mí. El resuello tipludo me dice:

-¿Usted la conoció?

Ese pasado tan natural, que ellos deben usar a diario, acaba por destruir mis ilusiones. Allí está la respuesta. Usted la conoció. ¿Cuántos años? ¿Cuántos años habrá vivido el mundo sin Amilamia, asesinada primero por mi olvido, resucitada, apenas ayer, por una triste memoria impotente? ¿Cuándo dejaron esos ojos grises y serios de asombrarse con el deleite de un jardín siempre solitario? ¿Cuándo esos labios de hacer pucheros o de adelgazarse en aquella seriedad ceremoniosa con la que, ahora me doy cuenta, Amilamia descubría y consagraba las cosas de una vida que, acaso, intuía fugaz?

-Sí, jugamos juntos en el parque. Hace mucho.

-¿Qué edad tenía ella? -dice, con la voz aún más apagada, el viejo.

-Tendría siete años. Sí, no más de siete.

La voz de la mujer se levanta, junto con los brazos que parecen implorar:

-¿Cómo era, señor? Díganos cómo era, por favor...

Cierro los ojos. -Amilamia también es mi recuerdo. Sólo podría compararla a las cosas que ella tocaba, traía y descubría en el parque. Sí. Ahora la veo, bajando por la loma. No, no es cierto que sea apenas una elevación de zacate. Era una colina de hierba y Amilamia había trazado un sendero con sus idas y venidas y me saludaba desde lo alto antes de bajar, acompañada por la música, sí, la música de mis ojos, las pinturas de mi olfato, los sabores de mi oído, los olores de mi tacto... mi alucinación... ¿me escuchan?... bajaba saludando, vestida de blanco, con un delantal de cuadros azules... el que ustedes tienen tendido en la azotea...

Toman mis brazos y no abro los ojos.

-¿Cómo era, señor?

-Tenía los ojos grises y el color del pelo le cambiaba con los reflejos del sol y la sombra de los árboles...

Me conducen suavemente, los dos; escucho el resuello del hombre, el golpe de la cruz del rosario contra el cuerpo de la mujer...

-Díganos, por favor...

-El aire la hacía llorar cuando corría; llegaba hasta mi banca con las mejillas plateadas por un llanto alegre...

No abro los ojos. Ahora subimos. Dos, cinco, ocho, nueve, doce peldaños. Cuatro manos guían mi cuerpo.

-¿Cómo era, cómo era?

-Se sentaba bajo los eucaliptos y hacía trenzas con las ramas y fingía el llanto para que yo dejara mi lectura y me acercara a ella.

Los goznes rechinan. El olor lo mata todo: dispersa los demás sentidos, toma asiento como un mogol amarillo en el trono de mi alucinación, pesado como un cofre, insinuante como el crujir de una seda drapeada, ornamentado como un cetro turco, opaco como una veta honda y perdida, brillante como una estrella muerta. Las manos me sueltan. Más que el llanto, es el temblor de los viejos lo que me rodea. Abro lentamente los ojos: dejo que el mareo líquido de mi córnea primero, en seguida la red de mis pestañas, descubran el aposento sofocado por esa enorme batalla de perfumes, de vahos y escarchas de pétalos casi encarnados, tal es la presencia de las flores que aquí, sin duda, poseen una piel viviente: dulzura del jaramago, náusea del ásaro, tumba del nardo, templo de la gardenia: la pequeña recámara sin ventanas, iluminada por las uñas incandescentes de los pesados cirios chisporroteantes, introduce su rastro de cera y flores húmedas hasta el centro del plexo y sólo de allí, del sol de la vida, es posible revivir para contemplar, detrás de los cirios y entre las flores dispersas, el cúmulo de juguetes usados, los aros de colores y los globos arrugados, sin aire, viejas ciruelas transparentes; los caballos de madera con las crines destrozadas, los patines del diablo, las muñecas despelucadas y ciegas, los osos vaciados de serrín, los patos de hule perforado, los perros devorados por la polilla, las cuerdas de saltar roldas, los jarrones de vidrio repletos de dulces secos, los zapatitos gastados, el triciclo -¿tres ruedas?; no; dos; y no de bicicleta; dos ruedas paralelas, abajo-, los zapatitos de cuero y estambre; y al frente, al alcance de mi mano, el pequeño féretro levantado sobre cajones azules decorados con flores de papel, esta vez flores de la vida, claveles y girasoles, amapolas y tulipanes, pero como aquéllas, las de la muerte, parte de un asativo que cocía todos los elementos de este invernadero funeral en el que reposa, dentro del féretro plateado y entre las sábanas de seda negra y junto al acolchado de raso blanco, ese rostro inmóvil y sereno, enmarcado por una cofia de encaje, dibujado con tintes de color de rosa: cejas que el más leve pincel trazó, párpados cerrados, pestañas reales, gruesas, que arrojan una sombra tenue sobre las mejillas tan saludables como en los días del parque. Labios serios, rojos, casi en el puchero de Amilamia cuando fingía un enojo para que yo me acercara a jugar. Manos unidas sobre el pecho. Una camándula, idéntica a la de la madre, estrangulando ese cuello de pasta. Mortaja blanca y pequeña del cuerpo impúber, limpio, dócil.

Los viejos se han hincado, sollozando.

Yo alargo la mano y rozo con los dedos el rostro de porcelana de mi amiga. Siento el frío de esas facciones dibujadas, de la muñeca-reina que preside los fastos de esta cámara real de la muerte. Porcelana, pasta y algodón. Amilamia no olbida a su amigito y me buscas aquí como te lo divujo.

Aparto los dedos del falso cadáver. Mis huellas digitales quedan sobre la tez de la muñeca.

Y la náusea se insinúa en mi estómago, depósito del humo de los cirios y la peste del ásaro en el cuarto encerrado. Doy la espalda al túmulo de Amilamia. La mano de la señora toca mi brazo. Sus ojos desorbitados no hacen temblar la voz apagada:

-No vuelva, señor. Si de veras la quiso, no vuelva más.

Toco la mano de la madre de Amilamia, veo con los ojos mareados la cabeza del viejo, hundida entre sus rodillas, y salgo del aposento a la escalera, a la sala, al patio, a la calle.


V

Si no un año, sí han pasado nueve o diez meses. La memoria de aquella idolatría ha dejado de espantarme. He perdido el olor de las flores y la imagen de la muñeca helada. La verdadera Amilamia ya regresó a mi recuerdo y me he sentido, si no contento, sano otra vez: el parque, la niña viva, mis horas de lectura adolescente, han vencido a los espectros de un culto enfermo. La imagen de la vida es más poderosa que la otra. Me digo que viviré para siempre con mi verdadera Amilamia, vencedora de la caricatura de la muerte. Y un día me atrevo a repasar aquel cuaderno de hojas cuadriculadas donde apunté los datos falsos del avalúo. Y de sus páginas, otra vez, cae la tarjeta de Amilamia con su terrible caligrafía infantil y su plano para ir del parque a la casa. Sonrío al recogerla. Muerdo uno de los bordes, pensando que los pobres viejos, a pesar de todo, aceptarían este regalo.

Me pongo el saco y me anudo la corbata, chiflando. ¿Por qué no visitarlos y ofrecerles ese papel con la letra de la niña?

Me acerco corriendo a la casa de un piso. La lluvia comienza a caer en gotones aislados que hacen surgir de la tierra, con una inmediatez mágica, ese olor de bendición mojada que parece remover los humus y precipitar las fermentaciones de todo lo que existe con una raíz en el polvo.

Toco el timbre. El aguacero arrecia e insisto. Una voz chillona grita: ¡Voy!, y espero que la figura de la madre, con su eterno rosario, me reciba. Me levanto las solapas del saco. También mi ropa, mi cuerpo, transforman su olor al contacto con la lluvia. La puerta se abre.

-¿Qué quiere usted? ¡Qué bueno que vino!

Sobre la silla de ruedas, esa muchacha contrahecha detiene una mano sobre la perilla y me sonríe con una mueca inasible. La joroba del pecho convierte el vestido en una cortina del cuerpo: un trapo blanco al que, sin embargo, da un aire de coquetería el delantal de cuadros azules. La pequeña mujer extrae de la bolsa del delantal una cajetilla de cigarros y enciende uno con rapidez, manchando el cabo con los labios pintados de color naranja. El humo le hace guiñar los hermosos ojos grises. Se arregla el pelo cobrizo, apajado, peinado a la permanente, sin dejar de mirarme con un aire inquisitivo y desolado, pero también anhelante, ahora miedoso.

-No, Carlos. Vete. No vuelvas más.

Y desde la casa escucho, al mismo tiempo, el resuello tipludo del viejo, cada vez más cerca:

-¿Dónde estás? ¿No sabes que no debes contestar las llamadas? ¡Regresa! ¡Engendro del demonio! ¿Quieres que te azote otra vez?

Y el agua de la lluvia me escurre por la frente, por las mejillas, por la boca, y las pequeñas manos asustadas dejan caer sobre las losas húmedas la revista de historietas.

de Carlos Fuentes



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