Em 15 de setembro de 1916, um tanque de guerra foi usado
pela primeira vez na história militar em uma frente de batalha, no norte da
França.
15 Sep 1916 Die ersten Panzer Mark I tank (C.19
Clan Leslie) (picture-alliance/Photoshot)
Tanque inglês em 15 de setembro de 1916
Em setembro de 1916, as tropas alemãs combatiam em Flers, na
França, numa das batalhas mais sangrentas da Primeira Guerra Mundial, que
deixou um saldo de mais de um milhão de soldados mortos. Durante a chamada
Batalha do Somme, alemães e aliados enfrentaram-se durante semanas numa frente
de combate de mais de 40 quilômetros de extensão.
Na luta por alguns metros de terreno, foram cavadas longas
trincheiras, e cercas de arame farpado protegiam os soldados de ataques
repentinos do inimigo. Trocas de tiros e ataques diretos alternavam-se, sem que
nebhuma das partes conseguisse levar vantagem.
Na manhã do dia 15 de setembro de 1916, os alemães
aguardavam os costumeiros ataques das tropas inglesas de infantaria. Para
surpresa geral, no lugar de combatentes, surgiram à distância o que alguns
soldados acreditaram tratar-se de tratores.
"Movidos por forças sobrenaturais"
Um correspondente de guerra relatou o fato da seguinte
forma: "Sobre as crateras vinham dois gigantes. Os monstros aproximavam-se
hesitantes e vacilantes, mas chegavam cada vez mais perto. Para eles, que
pareciam movidos por forças sobrenaturais, não havia obstáculos. Os disparos
das nossas metralhadoras e das nossas armas de mão ricocheteavam neles. Assim,
eles conseguiram liquidar, sem esforço, os granadeiros das trincheiras
avançadas".
O que os estupefatos alemães presenciaram era a ação dos
primeiros tanques de guerra da história da humanidade – a nova arma que
ingleses e franceses haviam construído em sigilo absoluto. Essa arma recebeu
dos militares aliados o codinome tank, tanque em inglês, para que os inimigos
pensassem em reservatórios de água ou de combustível, caso extravasasse alguma
informação sobre o projeto secreto.
Os novos tanques de guerra desencadearam a situação mais
fatídica ocorrida até então numa frente de combate. Os "monstros"
superavam obstáculos, em função dos quais milhares de soldados tinham morrido
antes. Armas, trincheiras ou cercas de arame farpado – nada conseguia deter os
poderosos veículos.
Die ersten Panzer Mark I Tank September 1916
(Imago/United Archives)
Tanque Mark 1º na batalha pela conquista de Flers e
Courcelette
Um tanque inglês avariado foi descrito da seguinte forma
pelos militares alemães que conseguiram tomá-lo: "Nos lados, ele tem chapa
de blindagem de dois centímetros e meio de espessura e uma torre giratória de
canhão, do formato de um ninho de andorinha. É dirigido através de uma peça
traseira de articulação que pode ser movida para cima e para baixo. O veículo é
tão pesado, que um vagão de trem sucumbiu sob o seu peso. Eles transportam
muita munição, alimentos e uma gaiola com pombos-correio".
Os primeiros tanques eram consideravelmente lentos,
perfazendo apenas seis quilômetros por hora, além de serem bastantes difíceis
de manobrar. Dos 49 tanques de guerra da primeira geração, que foram usados em
Flers, poucos retornaram a seus postos de origem.
Elogios à coragem alemã
Grande parte deles foi abandonada no caminho em função de
panes no motor ou na esteira de rodagem ou acabou atolada em algum buraco ou
lamaçal profundo. Nove tanques foram destruídos pelos alemães. Depois de
superar o susto inicial, os soldados alemães passaram a atacar os tanques com
granadas de mão e armas de fogo.
Segundo um correspondente de guerra inglês, "a coragem
dos alemães era fora do comum. Ignorando o fogo das metralhadoras dos veículos,
eles tentavam, com uma fúria desesperada, assaltar os tanques e matar sua
tripulação. Eles se alçavam reciprocamente ao teto do tanque, procuravam
escotilha ou fendas e atiravam com revólveres nas frestas".
O número consideravelmente alto de baixas dos tanques de
guerra levou o Exército alemão a acreditar que a artilharia seria sempre
superior à nova invenção, o que foi considerado um erro estratégico alguns anos
mais tarde.
Enquanto franceses e ingleses trabalharam na melhoria da
qualidade dos seus tanques, chegando a ter no último ano da guerra alguns
milhares deles, os alemães só tinham produzido 45 unidades até então. Um
desequilíbrio que se tornou cada vez mais visível e acelerou a derrota alemã na
Primeira Guerra.
Autoria Rachel Gessat
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