sábado, 31 de maio de 2014

Árbol azul




Cuando tus ojos se encuentran con mi soledad
El silencio se convierte en frutas
Y el sueño en temporal
Se entreabren puertas prohibidas
Y el agua aprende a sufrir.

Cuando mi soledad se encuentra con tus ojos
El deseo sube y se derrama
A veces marea insolente
Ola que corre sin fin
O savia cayendo gota a gota
Savia más ardiente que un tormento
Comienzo que nunca se cumple.

Cuando tus ojos y mi soledad se encuentran
Me entrego desnuda como la lluvia
Generosa como un seno soñado
Tierna como la viña que madura el sol
Múltiple me entrego
Hasta que nazca el árbol de tu amor
Tan alto y rebelde
Tan rebelde y tan mío
Flecha que vuelve al arco
Palmera azul clavada en mis nubes
Cielo creciente que nada detendré.

© Joumana Haddad
(Traducido por Joumana Haddad)

sexta-feira, 30 de maio de 2014

WATER, IT NO GET ENEMY

To ba fe lo weh omi lo- malo (Yoruba)
If you wan go wash- water you go use

Toba fe sobeh omi lo- malo
If you wan cook soup- water you go use

To ri ba ngbona omi lero lero
If your head be hot- water it cool am

Tomo ba ngagda omi lo- malo
If your child dey grow- water you go use

If water kill your child- water you go use
Tobi ba bwi nao homi lo- malo

Ko sohun tole se ko ma lomi- o
Nothing without water (repeat this couplet)

(CHORUS) WATER, IT NO GET ENEMY - (AFTER EACH LINE)
Oh me a water-o
No go fight am, unless you wan die
I say water No get enemy
No go fight am, unless you wan die
O me a water-o
O they talk of Black-man power
O they talk of Black power, I say
I say water No get enemy
No go fight am, unless you wan die
I say water No get enemy
I say water No get enemy
O me a water-o
O me a water-o

Fela Kuti


quinta-feira, 29 de maio de 2014

PLATERO E EU

«PLATERO E EU», poema/prosa de Juan Ramón Jiménez

[COMO «O PRINCIPEZINHO» e «O VELHO E O MAR», ESTE LIVRO TAMBÉM É PARA MIM, UMA PEQUENA JÓIA DA LITERATURA]

EXCERTO

Platero é pequeno, peludo, suave; tão macio, que dir-se-ia todo de algodão, que não tem ossos. Só os espelhos de azeviche dos seus olhos são duros como dois escaravelhos de cristal negro. Deixo-o solto, e vai para o prado, e acaricia levemente com o focinho, mal as roçando, as florinhas róseas, azuis-celestes e amarelas... Chamo-o docemente: «Platero», e ele vem até mim com um trote curto e alegre que parece rir em não sei que guizalhar ideal...Come o que lhe dou. Gosta das tangerinas, das uvas moscatéis, todas de âmbar, dos figos roxos, com sua cristalina gotita de mel...E terno e mimoso como um menino, como uma menina...; mas forte e seco como de pedra. Quando nele passo, aos domingos, pelas últimas ruelas da aldeia, os camponeses, vestidos de lavado e vagarosos, param a olhá-lo:— Tem aço...Tem aço. Aço e prata de luar, ao mesmo tempo."
“A lua vem connosco, redonda, enorme, pura. Nos prados sonolentos vêem-se, vagamente, não sei que cabras negras, entre os silvados… Alguém se esconde, discreto, ao passarmos… Sobre o vale, uma imensa amendoeira, nívea de flor e de luar, confundida a copa com uma nuvem branca, cobiça o caminho asseteado de estrelas de Março… Um odor penetrante de laranjas… Humidade e silêncio… A azinhaga das Bruxas…
- Platero, que… frio!
Platero, não sei se com o seu medo ou com o meu, trota, entra no regato, pisa a lua e fá-la em pedaços. É como se um enxame de rosas de cristal enlaçasse, querendo retê-lo, o seu trote…E Platero trota, encosta a cima, a garupa encolhida como se alguém o perseguisse, sentindo já a tepidez suave da aldeia que se avizinha…”
Juan Ramón Jiménez Mantecón (Moguer, 23 de Dezembro de 1881 — San Juan, 29 de Maio de 1958) poeta. Recebeu o Nobel de Literatura em 1956.

"Para mim, o importante na poesia é a qualidade da eternidade que um poema poderá deixar em quem o lê sem a ideia de tempo".

Marisa  Soveral 

John Fitzgerald Kennedy

John Fitzgerald Kennedy (Brookline, 29 de Maio de 1917 — Dallas, 22 de Novembro de 1963), 35° presidente dos Estados Unidos (1961–1963), é considerado uma das grandes personalidades do século XX.
Eleito em 1960, Kennedy tornou-se o segundo mais jovem presidente do seu país, depois de Theodore Roosevelt. Foi presidente de 1961 até ao seu assassinato em 1963. Durante o seu governo houve a Invasão da Baía dos Porcos, a Crise dos mísseis de Cuba, a construção do Muro de Berlim, o início da Corrida espacial, a consolidação do Movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos e os primeiros eventos da Guerra do Vietname.
O presidente Kennedy morreu assassinado em Dallas, Texas. O ex-fuzileiro naval Lee Harvey Oswald foi preso e acusado do assassinato, mas foi morto dois dias depois, por Jack Ruby e por isso não foi julgado. A Comissão Warren concluiu que Oswald agiu sozinho no assassinato. No entanto, o Comité da Câmara sobre Assassinatos descobriu em 1979, que talvez tenha havido uma conspiração em torno do acontecido. Este tópico foi debatido e há muitas teorias sobre o acontecimento.

Muitos viram em Kennedy um ícone das esperanças e aspirações americanas, e em algumas pesquisas no país ele ainda é valorizado como um dos melhores presidentes da história da nação.

John F. Kennedy

29 de mayo de 1917
Nacimiento de John F. Kennedy
Casado con Jacqueline Bouvier, el matrimonio Kennedy se convirtió en un referente mediático de comienzos de los años sesenta

Tal día como hoy del año 1917 nació en Brookline (Massachusetts) quien habría de convertirse en un mito de la política estadounidense, John Fitzgerald Kennedy. Congresista y senador por el partido Demócrata, John F. Kennedy se convirtió en 1960 en el presidente más joven de Estados Unidos y el primero en ser católico. Político de gran carisma, supo conjugar a la perfección la toma de decisiones con la proyección mediática de su figura como presidente. Su corto mandato estuvo marcado en el ámbito internacional por la Guerra Fría (con episodios como la Crisis de los Misiles de Cuba de 1962) y en el doméstico por el desarrollo de los derechos civiles. El 22 de noviembre de 1963, mientras recorría las calles de Dallas en un coche descubierto con su esposa, fue abatido por varios disparos. Su asesinato continua siendo hoy objeto de todo tipo de conjeturas.

O Anti-Lázaro


(Nicanor Parra)

Morto não se levante dessa tumba
o que você ganharia ressuscitando?
seria uma façanha
e depois
a rotina de sempre
não lhe convém velho não lhe convém
o orgulho o sangue a avareza
a tirania do desejo sexual
as dores causadas pela mulher
o enigma do tempo
as arbitrariedades do espaço
pense bem morto pense bem
já esqueceu como eram as coisas?
ao menor empecilho você explodia
em xingamentos a torto e a direito
tudo lhe incomodava
você já não aturava
nem a própria sombra por companhia
memória fraca velho memória fraca!
seu coração era um monte de escombros
– estou citando seus próprios escritos –
e não restava nada de sua alma
para que voltar então ao inferno de Dante?
para reprisar toda a comédia?
que divina comédia que nada
fogos de artifício – miragens
isca para ratos gulosos
isso sim seria um disparate
felicidade é isso cadáver felicidade é isso
em seu sepulcro não falta nada
e você pode rir dos peixes coloridos
alô – alô está me ouvindo?
quem não preferiria
o amor da terra
às carícias de uma triste prostituta
ninguém de posse dos 5 sentidos
salvo tenha pacto com o diabo
dorme aí homem dorme aí
sem os aguilhões da dúvida
amo e senhor de seu próprio ataúde
na quietude da noite perfeita
livre da rosa e do espinho
como se nunca tivesse estado desperto
não ressuscite por motivo algum
não tem por que ficar nervoso
como disse o poeta
você tem toda a morte pela frente



Sunrise


On the dark-blue sky
The dawn burst red.
In golden glow, spry
Sun rose from its bed.
When sun-light came back,
By the sky reflected,
It met on its track,
New rays just projected.
And when bright-gold, blended rays
Spilled, suddenly lighting earth’s face,
The blue hue of a new day
Spread around the sky’s surface.


Sergei Yesenin (1895 - 1925)

1453: Constantinopla é tomada pelos turcos


No dia 29 de maio de 1453, as tropas do sultão Mehmed, o Conquistador, tomaram Constantinopla. Ele pretendia transformar a cidade na capital de um império otomano. Mehmed rebatizou o antigo centro da cristandade ortodoxa para Istambul. O cristianismo não foi proibido, mas a religião oficial passou a ser o islamismo.
No ano 395, o império romano se dividiu e sua parte oriental tornou-se o centro do poder. A capital era Bizâncio, um centro comercial da Antiguidade localizado no estreito de Bósforo, que foi rebatizada posteriormente como Constantinopla pelo imperador Constantino, o Grande. O círculo cultural do império bizantino era greco-romano e a religião era a cristã por imposição do imperador, convertido ao cristianismo. Isso durou mais de um milênio. Até que, em 1453, tribos turcas das estepes da Ásia Menor tomaram a cidade.
Paz enganadora
"Os osmanlis eram inicialmente bastante pacíficos e não chamaram a atenção dos bizantinos. Segundo mostram as pesquisas mais recentes, os osmanlis eram até muito úteis aos bizantinos, pois se dedicavam à pecuária e contribuíam para o abastecimento de Constantinopla", conta o professor Peter Schreiner, especialista da Universidade de Colônia.

A paz temporária era enganadora. Para uma cidade medieval, Constantinopla era gigantesca, chegando a ter 300 mil habitantes. Mas a megalópole enfraqueceu-se ao longo dos séculos e sua população caiu para apenas 30 mil habitantes. O império começava a se esfacelar.
Segundo Schreiner, "essas fragilidades foram consequência da tomada de Constantinopla pelos cruzados em 1204: o império bizantino se desfez em inúmeros pequenos impérios, cuja fraqueza militar foi notada pelos osmanlis".

Em 1453, o sultão Mehmed 2° invadiu Constantinopla. Ele sonhava com um império otomano mundial e Constantinopla deveria ser sua capital. Mehmed logrou executar duas ações surpreendentes. Em primeiro lugar, mandou fundir um novo tipo de canhão, os maiores do mundo na época. Com eles, a muralha da cidade foi destruída.

Depois, postou 70 navios de guerra diante do porto. Numa ação noturna, suas tropas levaram os navios do mar para o porto através de uma estreita faixa de terra. O imperador Constantino, descendente do lendário primeiro imperador cristão, viu então sua cidade cair nas mãos dos turcos.
Kritobulos de Imbros descreveu a reação do imperador: "Quando viu que os inimigos o acuavam e entravam gloriosamente na cidade, através das brechas na muralha, ele teria dito suas últimas palavras: 'A cidade está sendo conquistada e eu ainda vivo?' E pulou no meio dos inimigos, sendo massacrado".
Islamismo torna-se religião oficial
Das metrópoles europeias da época – Roma, Veneza e Gênova – não veio qualquer ajuda. Elas estavam inteiramente concentradas em suas próprias querelas, e há muito temp o império bizantino tinha deixado de ser interessante. O sultão Mehmed rebatizou o antigo centro dos cristãos ortodoxos: o que inicialmente era Bizâncio, depois Constantinopla, passou a se chamar Istambul.
A religião cristã não foi proibida, mas o islamismo tornou-se a religião oficial. Logo, os símbolos cristãos nas igrejas foram substituídos por símbolos islâmicos. E é nas igrejas que se pode, ainda hoje, buscar os resquícios daquela época.
Peter Schreiner afirma: "É na Hagia Sophia que se pode encontrar a maioria desses resquícios, pois foi a primeira a ser transformada em mesquita, logo depois da conquista pelos turcos. Nessa igreja existe ainda grande parte da ornamentação da época bizantina" .
O império otomano teve um apogeu que durou um século. E depois, durante cem anos, ele esfacelou-se paulatinamente. Com a Primeira Guerra Mundial, deixou de existir. Foi criada a moderna República da Turquia. O que permaneceu foi sua capital, cuja história registra os três nomes: Bizâncio, Constantinopla, Istambul.

Autoria Catrin Möderler (am)


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Gustavo Caso Rosendi

El verano estaba directamente relacionado
con aquellas mitocondrias.
¿Pero alguien sabía, realmente,
qué cosa era una mitocondria?.
Una verdadera mitocondria,
que se precie de tal, debería
contribuir en la energía,
en la felicidad de las personas.
¿Sería esa la verdadera causa
por la que corríamos sobre
aquel sendero que nos llevaba
a trepar los nísperos?.
Aquellos frutos, se parecían a la tarde.
Y nosotros, comiéndolos,
aprendíamos que otro sabor
existía en el mundo.
Algo indefinible. Algo que se iba.
Y de ninguna manera

podíamos alcanzar.

Quien se queda mucho consigo mismo, se envilece.
Las alturas guían, pero en las alturas.
Han dejado de engañarte, no de quererte. Y te parece que han dejado de quererte.
El mal no lo hacen todos, pero acusa a todos.
Una cosa, hasta no ser toda, es ruido, y toda, es silencio.
Las quimeras vienen solas y se van acompañadas.
El hombre, cuando sabe que es una cosa cómica, no ríe.
Te quiero como eres, pero no me digas cómo eres.
Hay sueños que necesitan reposo.
La confesión de uno humilla a todos.
Cerca de mí no hay más que lejanías.
De lo que tomo, tomo de más o de menos, no tomo lo justo. Lo justo no me sirve.
Cuando no se quiere lo imposible, no se quiere.
Convénceme, pero sin convicciones. Las convicciones ya no me convencen más.
El hombre quisiera ser un dios, sin la cruz.
Tanto universo, tanto universo para hacer funcionar un cerebro, un pobre cerebro.
Donde todos se lamentan, no se oyen lamentos.

Antonio Porchia (Conflenti, Catanzaro, Calabria, 1885- Vicente López, Buenos Aires, 1968), Antonio Porchia, Material de Lectura, Universidad Nacional Autónoma de México, México DF, 1988.


fonte :Antonio Arroyo Silva
Gustavo Caso Rosendi

Uno se lanza a escribir como si se tirara a un río.
Sólo basta una palabra para que el naufragio nos lleve al remolino.
Pero no se trata de saber nadar, sino, de saberse ahogado.

El último manotón es lo que cuenta.
Gustavo Caso Rosendi

Y llegará el día, hijo, en el que pronuncies
nuestros nombres como un bautismo de fuego.
Porque la Justicia irá creciendo desde esta panza;
se pondrá grande, alcanzará nuestra edad, y hasta la sobrepasará. Nombrará a cada víctima junto a su correspondiente asesino.
Estaremos ahí, hijo. Tu voz será más poderosa que una patada en una puerta, que un fusil, una capucha, una picana. Porque nos hemos amado para eso.
Nos hemos armado de vos.

(Para el querido poeta Julián Axat)
Gustavo Caso Rosendi

Llego a la casa. Estás en el suelo.
Te levanto, mientras recuerdo
la vieja película de Samson. Té con leche
y galletitas Lincoln. Era una tarde
lluviosa. Lucías, Lucía, un vestido floreado.
Tus uñas estaban pintadas con el tono
predominante de esas flores. ¿Rosas
chinas? ¿Anaranjadas, quizá?.
Te siento, te pongo un abrigo. Te paro;
se hace tarde. Caminamos con dificultad
de siameses en dirección al auto. Abro
la puerta y te siento. Quisiera tener
el pelo larguísimo, como antes.
Arrancamos. Recuerdo cuando
me cortabas el pelo
y yo lloraba, rabioso. Llegamos.
Alguien nos alcanza una silla de ruedas.
Te levanto y te siento. Te siento.
Esperamos. Nos atienden. Hay que seguir
ese pasillo y tomar el ascensor -sIempre
hay que seguir-.
Te levanto y te acuesto en una camilla
para los rayos x. Me acuerdo de ese
Superman entrado en quilos, al mediodía,
antes de la escuela. La máquina se mueve
y hace extraños sonidos. Vuelvo a levantarte.
Y a sentarte. Tus milanesas fueron
y serán, únicas. Iba a decirte esto,
pero callo. Una fractura. Tenés una fractura
en algún lugar, parece. No necesita
operación. Se cura sola, dijo el traumatólogo.
Pero yo no sé. Hace ya mucho tiempo que no sé.
Salimos. Te levanto y te siento.
Vuelvo a hacer lo mismo cuando, por fin,
llegamos a esa casa que era
nuestro hogar. Te beso y me voy.
Cuando tomo el camino Centenario,
acelero hasta 120 Km/h. Me acuerdo
de Meteoro y su bólido blanco;
me acuerdo del Toddy, que según vos,
me provocaba alergia. Un ojo rojo
me detiene. Miro los álamos
al costado del camino.
Un tren pasa detrás,

aullando como un viejo lobo.
"O face a face obriga a te confrontar com a diferença. Administrá-la com os sentimentos, elaborá-la. Um efeito colateral dessa dissociação é que se perdeu a vontade do trabalho 'bem feito' também nas relações. Perdemos a capacidade de nos relacionarmos com esmero." - Zygmunt Bauman

quarta-feira, 28 de maio de 2014

odes de horácio


"[...]
Prudente do futuro, ocultara um deus
o que há de vir na noite de bruma e breu
e ri se algum mortal se aflige
rumo ao nefasto. Mas tenhas calma
na lida do presente; que o mais se vai
seguindo o fluxo, ora pacífico
no seu canal ao mar Tirreno,
ora entre rochas debilitadas
que arrasta e tronco, gado, até mesmo o lar
num só tormento, e não sem algum clamor
da vizinhança em monte e bosque,
quando a feroz enxurrada irrita
as águas calmas. Há de ter mais poder,
ser mais alegre aquele que ao fim puder
dizer 'Vivi! O Pai já pode
vir pelo céu com as nuvens negras
ou puro sol, mas nunca removerá
aquelas coisas findas que ficarão,
nem poderá tornar desfeito
tudo que a fuga das horas trouxe.'
[...]"



trecho do penúltimo poema, 3.29.
fim de tese, aí vou eu.

trad : Guilherme Gontijo Flores

A relação entre literatura e guerra

A relação entre literatura e guerra é tão antiga quanto a história de cada uma destas manifestações humanas. Um dos textos fundadores da Literatura Ocidental é o relato de uma guerra: A Ilíada, de Homero. Em textos ainda mais antigos que sobreviveram a guerras posteriores – nas quais tudo se queimou, de casas a bibliotecas – escritores celebraram vitórias ou lamentaram derrotas. É o caso de Lamento pela Destruição de Ur, escrito há quatro mil anos e que descreve a devastação de uma das mais antigas cidades do mundo durante uma invasão estrangeira.

O papel do poeta épico era cantar as glórias de sua nação. São conhecidas as histórias de reis que levavam poetas a guerras para que seus feitos fossem imortalizados. No caso de derrotas, os poetas muitas vezes transformavam os acontecimentos em mitos de coragem e bravura, propagandas militaristas de caráter patriótico. No poema The Charge of the Light Brigade, de Alfred Tennyson, por exemplo, o massacre da cavalaria britânica numa batalha da Guerra da Crimeia é alçado a mito.

Essa relação cultural com o caráter bélico de impérios ainda era muito forte no início do século 20, e não foram poucos os autores que se lançaram à Primeira Guerra Mundial com fervor literário e patriótico. É o caso dos poetas britânicos Rupert Brooke e Siegfried Sassoon, do francês Guillaume Apollinaire e do alemão Ernst Stadler, que morreriam no conflito ou por ferimentos decorrentes dele. O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein, então em Oxford, partiria para as trincheiras acreditando que elas "fariam dele um homem". Era o tempo dos futuristas, que celebravam a guerra como a grande higiene do mundo.
Escrevendo em plena guerra

Nos poemas de Siegfried Sassoon, há uma transformação clara. Seus versos, que foram, desde o princípio, contra a percepção pública do conflito, influenciaram o grande poeta britânico da Primeira Guerra Wilfred Owen. Poemas seus como Dulce et Decorum Est e Anthem for Doomed Youth permanecem como monumentos contra aqueles crimes de megalomania imperial. Owen morreu em novembro de 1918, apenas uma semana antes do armistício.

Outros autores ingleses importantes foram Isaac Rosenberg – que morreu numa batalha também em 1918 e nos deixou textos assombrosos sobre a vida nas trincheiras –, e também Yvor Gurney e David Jones. Uma figura nem sempre associada ao conflito, por ter lutado na África, fez, no entanto, de parte de suas memórias da Primeira Guerra um dos mais conhecidos livros que relatam acontecimentos do período: T.E. Lawrence, o Lawrence da Arábia, e seu Sete Pilares da Sabedoria, publicado em 1922.

Entre os escritores germânicos, a guerra tornou-se a confirmação das profecias de destruição e apocalipse que os autores expressionistas vinham compondo há alguns anos. Gottfried Benn, que serviu na guerra como médico, havia publicado em 1912 seu primeiro livro, intitulado Morgue (Necrotério).

 poetas que lutaram e escreveram de forma desiludida durante o conflito
o austríaco Georg Trakl, também médico e que se suicidou em 1914, e ainda os alemães Ernst Stadler, Alfred Lichtenstein, August Stramm e Kurd Adler, todos mortos entre 1914 e 1916. Dos romances alemães sobre a Primeira Guerra Mundial, o mais conhecido é sem dúvida Im Westen nichts Neues (Nada de novo no front, 1929), de Erich Maria Remarque, que captura a transformação do entusiasmo juvenil de muitos soldados desiludidos com a realidade da guerra.

Em Zurique, os alemães Hugo Ball, Emmy Hennings, Walter Serner e Hans Arp lançaram sua campanha antimilitarista e suas críticas veementes à cultura bélica alemã em meio ao Cabaret Voltaire e ao Dadaísmo. Ludwig Wittgenstein levou à batalha o manuscrito de seu Tractatus Logico-Philosophicus. O texto, projetado inicialmente como um ensaio sobre lógica, ganharia seus questionamentos sobre a natureza do místico e de Deus durante a guerra e seus horrores, escreve a crítica norte-americana Marjorie Perloff no livro Wittgenstein´s Ladder, baseado na biografia monumental de Ray Monk para o pensador austríaco. 
Também neste clima de destruição, mesmo que longe dos campos de batalha, um dos maiores escritores do século 20 produziria textos como A metamorfose e O Processo: Franz Kafka.

O impacto pós-guerra e sua literatura
Muitos historiadores argumentam hoje que não se pode mais falar em Primeira e Segunda Guerra Mundial, mas numa única Grande Guerra. As consequências do conflito entre 1914 e 1918 foram sentidas para além dele. Na Guerra Civil decorrente da Revolução Russa de 1917, por exemplo, um batalhão de refugiados entraria, em muitos casos, numa Alemanha devastada pela guerra e pelas reparações impostas pelo Tratado de Versalhes.


As conturbações políticas da República de Weimar, que logo desembocariam no Regime Nazista e na Segunda Guerra, foram muito bem retratadas no grande romance alemão do período, Berlin Alexanderplatz (1929), de Alfred Döblin, e no trabalho de expressionistas que sobreviveram à Primeira Guerra, como Bertolt Brecht. A morte de vários expoentes das vanguardas europeias durante o conflito teria consequências drásticas para a arte do período entreguerras.

Deutsche Welle
 “A pessoa que sou é única, limitada a um nascer e a um morrer, presente a si mesma e que só à sua face é verdadeira, é autêntica, decide em verdade a autenticidade de tudo quanto realizar. Assim a sua solidão, que persiste sempre talvez como pano de fundo em toda a comunicação, em toda a comunhão, não é 'isolamento'. Porque o isolamento implica um corte com os outros; a solidão implica apenas que toda a voz que a exprima não é puramente uma voz da rua, mas uma voz que ressoa no silêncio final, uma voz que fala do mais fundo de si, que está certa entre os homens como em face do homem só. O isolamento corta com os homens: a solidão não corta com o homem. A voz da solidão difere da voz fácil da fraternidade fácil em ser mais profunda e em estar prevenida."

Virgílio Ferreira

O Estado Novo em Portugal

Em 28 de Maio de 1926, pôs fim à Primeira República portuguesa e implantou a ditadura, que trouxe Salazar e O Estado Novo.
A revolução começou em Braga, comandada pelo general Gomes da Costa, sendo seguida de imediato em outras cidades como Porto, Lisboa, Évora, Coimbra e Santarém. Consumado o triunfo do movimento, a 6 de Junho de 1926, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, Gomes da Costa desfila à frente de 13 mil homens, sendo aclamado pelo povo da capital.

Depois de 18 anos anos de uma república atribulada, com governos a sucederem-se a um ritmo alucinante (23 ministérios entre 1920 a 1926), a Primeira Guerra, que foi um desastre para os portugueses e uma grande crise económica.

fonte Marisa Soveral
«PERSONA NON GRATA»

Henry Alfred Kissinger (nascido Heinz Alfred Kissinger; Fürth, 27 de Maio de 1923) diplomata americano, de origem judaica, que teve um papel importante na política estrangeira dos Estados Unidos entre 1968 e 1976.
Kissinger foi conselheiro para a política estrangeira de todos os presidentes dos EUA de Eisenhower a Gerald Ford, sendo o secretário de Estado dos Estados Unidos, conselheiro político e confidente de Richard Nixon.
Em 1973 ganhou, com Le Duc Tho, o Prêmio Nobel da Paz, pelo seu papel na obtenção do acordo de cessar-fogo na Guerra do Vietname. Le Duc Tho recusou o prémio.
Ainda hoje é uma figura polémica e controversa, alguns dos críticos de Kissinger acusam-no de ter cometido crimes de guerra durante a sua longa estadia no governo como dar luz verde para a invasão indonésia de Timor (1975) e a golpes de estado no Chile e no Uruguai (1973). Kissinger usava de uma política tortuosa, em que parecia jogar com um "pau de dois bicos". Apesar de essas alegações ainda não terem sido provadas em uma corte de justiça, considera-se perigoso para Kissinger entrar em diversos países da Europa e da América do Sul.


João Calvino


João Calvino (Noyon, 10 de Julho de 1509 — Genebra, 27 de Maio de 1564,) teólogo cristão francês. Calvino teve uma influência muito grande durante a Reforma Protestante, uma influência que continua até hoje. Esta variante do Protestantismo viria a ser bem sucedida em países como a Suíça (país de origem), Países Baixos, África do Sul (entre os africânderes),Inglaterra, Escócia e Estados Unidos.
Calvino foi inicialmente um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Depois do seu afastamento da Igreja católica, este intelectual começou a ser visto, gradualmente, como a voz do movimento protestante, pregando em igrejas e acabando por ser reconhecido por muitos como "padre". Vítima das perseguições aos protestantes na França, fugiu para Genebra, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se definitivamente num centro do protestantismo Europeu e João Calvino permanece até hoje uma figura central da história da cidade e da Suíça .
Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha oito anos de idade. Lutero era dotado de uma retórica mais directa, por vezes grosseira, enquanto que Calvino tinha um estilo de pensamento mais refinado, de uma severidade clássica, que se identifica pela clareza do estilo.


GRANDE DAMA DE LÍNGUA AFIADÍSSIMA



Maria da Conceição Tavares sobre o Brasil

"Há avanço social, mas ele não conta para essa classe média. É verdade que ela não tem sofrido de desemprego. Mas, vendo os pobres se aproximarem da sua condição, ela tem a impressão de que está estagnada, decadente, perdendo posição relativa.

No fundo, estava acostumada a ser elite, e, quando vê os pobres subindo e sendo valorizados com exclusividade pelo discurso do governo, ao mesmo tempo em que ela perde o peso decisório, começa a se achar enxovalhada.

E, aí, a imprensa conservadora surfa. Ela não dá destaque a essas melhorias sociais. Publica quando não pode deixar de publicar, mas não dá destaque! Então, essa classe média, que o PT chama de udenista, se junta com essa grande imprensa.

Só que eles perdem a eleição de novo, o que só aumenta a sua irritação. É uma retórica que mistura preconceito, reacionarismo, incômodo com a manutenção de não ter alternância na marra, de postergação de seus interesses e de sua visão de mundo."

http://www.insightinteligencia.com.br/64/PDFs/pdf1.pdf



dica de Mescla Notícias

Contrastes


Ismael Silva

Existe muita tristeza
Na rua da alegria
Existe muita desordem
Na rua da harmonia

Analisando essa estória
Cada vez mais me embaraço
Quanto mais longe do circo
Mais eu encontro palhaço

Cada vez mais me embaraço
Analisando essa estória
Existe muito fracasso
Dentro do largo da Glória

Analisando essa estória
Cada vez mais me embaraço
Quanto mais longe do circo
Mais eu encontro palhaço


СОНЕТ
Переживи всех.
Переживи вновь,
Словно ониснег,
Пляшущий снег снов.
Переживи углы.
Переживи углом.
Перевяжи узлы
Между добром и злом.
Но переживи миг.
И переживи век.
Переживи крик.
Переживи смех.
Переживи стих.
Переживи всех.
Иосиф Бродский

SONETO

a experiência de todos.
Experimente outra vez, como se eles estão dançando, neve neve neve.
Experimente os cantos.
Canto de experiência.
Bandagem nós entre o bem e o mal.
Mas o MiG experiência.
Experiência e idade.
O grito de experiência.
Experiência do riso.
O verso de experiência.
Experiência de todos.


Joseph Brodsky 

Rainha Vitória


Vitória (Londres, 24 de Maio de 1819 – East Cowes, 22 de Janeiro de 1901), oriunda da Casa de Hanôver, foi rainha do Reino Unido de 1837 até a morte, sucedendo ao tio, o rei Guilherme IV. A incorporação da Índia ao Império Britânico em 1877 conferiu a Vitória o título de Imperatriz da Índia.
Vitória era filha do príncipe Eduardo, Duque de Kent e Strathearn, o quarto filho do rei Jorge III. Tanto o Duque de Kent como o rei morreram em 1820, fazendo com que Vitória fosse criada sob a supervisão da sua mãe alemã, a princesa Vitória de Saxe-Coburgo-Saalfeld.
Herdou o trono aos dezoito anos, depois de os três tios paternos terem morrido sem descendência legítima. O Reino Unido era já uma monarquia constitucional estabelecida, na qual o soberano tinha relativamente poucos poderes políticos directos. Em privado, Vitória tentou influenciar o governo e a nomeação de ministros. Em público tornou-se um ícone nacional e a figura que encarnava o modelo de valores rigorosos e moral pessoal.
Casou-se com o seu primo direito, o príncipe Alberto de Saxe-Coburgo-Gota, em 1840. Os seus nove filhos e vinte e seis dos seus quarenta e dois netos casaram-se com outros membros da realeza e famílias nobres por todo o continente europeu, unindo-as entre si, o que lhe valeu a alcunha de "a avó da Europa".
Após a morte de Alberto em 1861, Vitória entrou num período de luto profundo durante o qual evitou aparecer em público. Como resultado do seu isolamento, o republicanismo ganhou força durante algum tempo, mas na segunda metade do seu reinado, a popularidade da rainha voltou a aumentar.

O seu reinado de 63 anos e 7 meses foi o mais longo, até à data, da história do Reino Unido e ficou conhecido como a Era Vitoriana. Foi um período de mudança industrial, cultural, política, científica e militar e ficou marcado pela expansão do Império Britânico.

O TERRORISTA, ELE OBSERVA


A bomba vai explodir no bar às treze e vinte.
Agora são só treze e dezesseis.
Alguns ainda terão tempo de entrar.
Alguns de sair.
O terrorista já cruzou para o outro lado da rua.
A distância o protege de qualquer perigo
e a vista, bom, é como no cinema:
Uma mulher de casaco amarelo, ela entra.
Um homem de óculos escuros, ele sai.
Uns jovens de jeans, eles conversam.
Treze e dezessete e quatro segundos.
Aquele cara mais baixo tem sorte, sai de lambreta,
Aquele mais alto entra.
Treze e dezessete e quarenta segundos.
Uma moça, ela passa com uma fita verde no cabelo.
Só que o ônibus a encobre de repente.
Treze e dezoito.
A moça sumiu.
Se foi tola de entrar ou não
vai se saber quando os carregarem para fora.
Treze e dezenove.
Parece que ninguém mais entra.
Aliás, um gordo careca sai.
Remexe os bolsos como se procurasse algo
e faltando dez segundos para as treze e vinte
volta para buscar a droga das luvas que perdeu.
São treze e vinte.
O tempo, como ele voa.
Deve ser agora.
Ainda não.
É agora.
A bomba, ela explode.
Wislawa Szymborska

Poeta polonesa, traduzida por Regina Przybycien

Poema publicado na revista Coyote #18

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''Confesso que, de minha parte, acho-a uma delícia. Adoro imensamente a democracia. Ela é incomparavelmente idiota e, por isto, tão divertida. Ela não exalta os parvos, os covardes, os oportunistas, os pilantras e os blefes? Sim, mas a tortura de vê-los subir na vida é compensada pela alegria de vê-los cair do galho. A democracia não é perdulária, extravagante e desonesta? É, como qualquer outra forma de governo: todas são inimigas dos homens decentes. Não são os velhacos que a dirigem? Sim, mas temos suportado esta velhacaria desde 1776 e continuamos sobrevivendo. A longo prazo, pode ser que que a velhacaria seja uma necessidade inerradicável de qualquer governo e até da própria civilização - ou que, no fundo, a civilização não passa de um colossal calote. Não sei. Só sei que, quando os sangue-sugas estão se dando bem, o espetáculo fica hilariante. Mas talvez eu seja um homem malicioso: quando se trata de sangue-sugas, minha simpatia por eles tende a ser tímida. O que me intriga é como um homem que é a favor deles e se sente como eles pode acreditar em democracia, e até se compadece quando os vê expostos como um bando de sacanas. Como um homem que é sinceramente democrata pode ser democrata?''
__H. L. Mencken; O Livro dos insultos.



Cuando el ahogo venía
él me visitaba, con su cara
ya gastada, irreconocible.
"Soy yo, no te asustes"
decía, mientras acariciaba
mi pelo transpirado.
Pero la bronca de los bronquios
no se apaciguaba.
-Existe una estrecha relación
entre la persona asmática
y lo injusto.-
Cuando al fin pude decirle
de que no volviera,
que las cosas eran así;
que aprendería a ser,
más o menos, un buen padre,
él ya no vino más.
Hasta que llegó el día
en que pude conocerlo.
"Soy yo, no te asustes"
le dije
acariciándole el pelo de la foto.
Un viento fresquísimo
atravesó el pinar

y sopló en la piedra.

Gustavo Caso Rosendi

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Henrik Johan Ibsen

Henrik Johan Ibsen (Skien, 20 de Março de 1828 — Cristiânia, 23 de Maio de 1906) dramaturgo norueguês, considerado um dos criadores do teatro realista moderno. Foi o maior dramaturgo norueguês do Século XIX. Foi também poeta e director teatral, sendo considerado um dos fundadores do modernismo no teatro . Entre os seus maiores trabalhos destacam-se Brand, Peer Gynt, Um Inimigo do Povo, Imperador e Galileu, Casa de Bonecas, Hedda Gabler, Espectros, O Pato Selvagem e Rosmersholm.

Marisa Soveral

NADA RETIENE BAJO SU LUZ



Ningún camino me pertenece
ni yo soy suyo para nada. ¿Quién atesora
migraciones de nubes a la orilla del viento?
Abro los días por la puerta del mar
y en las corrientes planto mi casa, bebo
los torbellinos.
La luna me comprende con estaciones de intimidad
y luego vamos cada quien, ella creciendo
con mi lumbre por dentro, yo con la capa
de los jinetes a pleno sueño.
Ondulaciones en la hierba, sé sus andanzas
de lluvia o sol, y el vencimiento de los árboles
muertos por hacha, y el corazón
abierto de las piedras.
Nada retiene bajo su luz, y así mi abrazo
rodea las cinturas de las espumas
y cuando nazco de raíz pienso en el aire
y el horizonte sobre mi mano.
Se me vuelve un tesoro
los días del universo.
Sus regalos destellan
por el instante de mi voz
y pronuncio la fuga de las arenas en mi puño
con júbilo las estrellas

y hago silencio.


ELEAZAR LEÓN (VENEZUELA, 1946-2009)
É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!
Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo.

"Fernando Pessoa"

EU E UMA VELHA NEGRA LUXURIOSA


Anos atrás uma haitiana
durante uma consulta de vudu
em Guantánamo
disse que voava sobre minha casa
através das noites
em forma de coruja
E assim foi
a partir daquele dia
ao longo de muitos anos
uma coruja sobrevoava minha casa
cantava tetricamente
e seguia voando apressada
Também começaram a aparecer extraterrestres
que durante as noites banhavam-se no mar em frente de casa
De vez em quando invadiam meu quarto
e a sala da vizinha
Até apareceu um deles
com o corpo de mexicano de Sonora
Nessa época descobri que minha mulher
Era uma bêbada insaciável e belicosa
e que eu também era um bêbado violento
com paixão assassina até às balas e punhais
Também descobri que não gosto de Shakespeare
e nada que seja canônico ou sirva de modelo
Detesto os teóricos da literatura
com suas normas e classificações bem ordenadas
Muito menos suporto a vida de casado
nem os governos autoritários e repressores
nem as sessões dos Alcoólicos Anônimos
Descobri que a vida é perigosa
quando se tem princípios próprios
sobretudo
quando se tem princípios próprios demais
e que minha geração sobrevive
agarrada ao desencanto e à fúria
e o melhor que se pode fazer é distanciar-se de tudo
e viver
numa pequena casa de frente para o mar
Uma casinha de madeira
onde o vento assobie pelas frestas
acompanhado de uma negra velha e luxuriosa
pervertida e desenfreada
Assim poderia chegar a um final aceitável
(nem pensar num final feliz)
De frente para o mar
com uma negra velha
suja e meio louca
como eu.
Pedro Juan Gutiérrez

poeta e escritor cubano
traduzido por Marcos Losnak
Poema publicado na revista Coyote #5
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ABISMO


Não vejo a flor. A flor exala perfume. O perfume desabrocha. Ali eu cavo a minha cova. Também não vejo a cova. Dentro da cova que não vejo sento-me. Deito-me. Novamente a flor exala perfume. A flor, não a vejo. O perfume desabrocha. Esqueço e mais uma vez cavo a minha cova ali. Não vejo a cova. Entro na cova que não vejo esquecendo-me da flor por um lapso. Deito-me de verdade. Aaah. Novamente a flor exala perfume. A flor que nem vejo, a flor que nem vejo.

Yi Sang
Poeta coreano, traduzido por Yun Jung Im
Poema publicado na revista Coyote #8
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VIDA EM RETIRO : ÚLTIMO OUTONO


lugar ermo : nenhuma pegada
de poucos me despeço : na entrada
dedos do poente : medito a sós
o coração rebrota : degustando a paz
jardim pleno : sem varrer : outono
na mão sopeso : galho de glicínias
em retiro : tantas folhas secas
piso minhas lembranças : ecos amarelos

Po Chü-i
tradução de Maurício Arruda Mendonça

na revista Coyote #5.

y el mundo--
qué sería del mundo
sin la naranja
que abajo le llora entre los eucaliptos
qué sería del mundo
sin que estés corriendo la cortina
para decirle adiós
y contigo se vaya a destejer el hilo
de los estambres
una noche cualquiera

©Antonio Arroyo Silva
III
Te fuiste con la niebla a engañar a tus ojos
buscando otra mirada.
Te fuiste con la luz a cazar mariposas
y cazaste tus ojos.
Felonía de ser: asumir el fulgor:
renegar de la sombra.

Antonio Arroyo Silva 

Caballo de la luz, El Vigía Editora, Santa Cruz de Tenerife, 2010.
Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma tranquilidade lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
- Álvaro de Campos [Heterônimo de Fernando Pessoa], (escrito em 24.06.1935), In Poesia, Assírio e Alvim, ed. Teresa Rita Lopes, 2002.
http://www.elfikurten.com.br/2013/01/fernando-pessoa-o-poeta-de-multiplos-eus_30.html

I love a Russian birch

I love a Russian birch.
Sometimes she's light,
but at other times she's sad.
In the white sundress,
kerchiefs in her pockets,
with beautiful clasps
and green earrings.
I love her standing over the river
in her festive mantle.
Sometimes she is bright and exuberant;
sometimes she's sad and crying.
I love the Russian birch.
She's always with her girlfriends
dancing in the spring
and kissing, as it happens.
She goes to where she'd want to
and sings at places nobody else does.
In the wind, she bows to her feet,
and bends, but does not break!


Alexander Prokofiev (1900 — 1971)