O novo perfil do catolicismo brasileiro é marcado pelo êxodo
dos católicos "por convenção" e pelo surgimento de comunidades
dinâmicas
Na discussão sobre a redução do percentual de católicos no
país, reavivada pelo "Novo Mapa das Religiões no Brasil", da FGV,
frequentemente se imagina um passado em que a ampla maioria dita católica teria
o perfil que se espera do católico urbano atual. Mas o "catolicismo
popular" brasileiro é muito diferente disso.
Ele sempre foi mais um "cristianismo popular",
permeado por sincretismos e particularismos, em que a influência do magistério
romano foi muito relativa.
Por isso, a redução do percentual de católicos no país deve
ser lida como a explicitação de uma diversidade religiosa camuflada e o aflorar
de visões de mundo populares antes ocultas e recalcadas.
Entre os anos de 1991 e 2009, enquanto a porcentagem de
católicos caiu 15%, a dos "sem religião" aumentou apenas 2%; a de
evangélicos aumentou 10%.
Isso sugere que estamos num caminho diferente da Europa,
onde a religião vem perdendo espaço na sociedade, e mais próximo ao
norte-americano, onde há grande diversidade de religiões e estas permanecem
influentes na vida social.
A presença do fator religioso nas eleições de 2010 ilustra
essa tendência e mostra como ela poderá influenciar a relação entre religiões e
sociedade no futuro do Brasil.
Quanto ao catolicismo brasileiro, seu novo perfil é marcado
pelo êxodo dos católicos "por convenção" e pelo surgimento de um novo
polo dinâmico, representado principalmente pelos movimentos e pelas novas
comunidades.
Na arquidiocese de São Paulo, por exemplo, são reconhecidos
mais de 40 grupos, que variam de poucas dezenas de participantes em uma
paróquia a movimentos com centenas de pessoas, que já se ramificam na Europa e
nos EUA.
O laicato tem papel preponderante nessas organizações, que
contam com leigos consagrados à obra, muitos dos quais celibatários.
Contando, desde João Paulo 2º, com o apoio explícito do
Vaticano, conseguem uma síntese entre pluralidade e unidade. Com isso,
resolveram vários problemas do catolicismo do final do século 20, como a
necessidade de pluralismo interno, a autonomia dos leigos, a falta de padres e
o celibato.
No Brasil, seu grande desafio é formativo, pois se propõem à
exigente tarefa de conciliar renovação litúrgica, mística cristã,
evangelização, trabalho cultural e ação social.
Os dados indicam que continuaremos a ser, no futuro, um país
cristão, com um povo marcado pela religiosidade. Isso diz muito, mas deixa
muito ainda por dizer.
Fundamentalismo versus racionalidade, individualismo versus
solidariedade, bem comum versus clientelismo, essas são algumas das questões
que estão intimamente ligadas à forma como compreendermos e praticarmos nossas
opções religiosas no futuro.
FRANCISCO BORBA RIBEIRO NETO é coordenador do Núcleo Fé e
Cultura da PUC-SP, editor-assistente no Brasil da revista "Communio"
e um dos organizadores dos livros "Um Diálogo Latino-Americano: Bioética
& Documento de Aparecida" (Difusão, 2009) e "Economia e Vida na
Encíclica Caritas in Veritate" (Companhia Ilimitada, 2010).
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