Li recentemente uma biografia de Serge Gainsbourg publicada
no Brasil pela editora Barracuda (Um Punhado de Gitanes, da inglesa Sylvie
Simmons). Serge Gainsbourg, estrela da canção francesa, ator, diretor,
desenhista, escritor, compositor e figura carimbada dos anos 60, 70 e 80, era
um cara pra lá de talentoso.
E peculiar, muito peculiar... Um sujeito tímido, cheio de
manias, o feio-bonito que arrasou o coração das mulheres que valiam a pena na
época (entre as suas conquistas famosas, Brigitte Bardot e a lindíssima Jane
Birkin, com quem Serge viveu por 13 anos e teve uma filha).
Um Punhado de Gitanes é a história da trajetória musical de
Gainsbourg; mas, também, é um arrazoado de narrativas incríveis, de aventuras e
máximas que fazem a gente fechar o livro de bom humor, perguntando-se por que,
afinal de contas, não se vive a vida com um grau a mais de maluquice. Talvez
porque nos falte gênio – coisa que Serge tinha para dar e vender...
Ele, que fumou cada minuto da sua vida (andava sempre com um
fortíssimo Gitane aceso), que aprendeu a beber no exército e encheu a cara até
morrer, que foi apaixonado pela neta de Tolstói, sua colega num curso de artes,
que via filmes pornográficos com Salvador Dalí, que comprou um Rolls-Royce
prateado apenas para fumar seus Gitanes dentro do carro, pois Serge nunca
aprendeu a dirigir – ele era um gênio que chegou a compor para todas as grandes
cantoras da cena musical da época, enquanto lançava um ou dois discos próprios
por ano.
De todas as doideiras de Gainsbourg, a que mais me
impressionou foi o seu fanatismo estético. Tinha absoluta mania de arrumação, e
na sua casa da Rue de Verneuil, cujas paredes pretas ele copiou da casa do
próprio Dalí, nada nunca podia ser mudado de lugar. Habitava-se um cenário
milimetricamente pensado por Serge, e eram proibidos os vestígios de vida
humana nas salas, nos quartos e até mesmo no banheiro. Bilhetes, moedas, cabelo
na escova, sapato ao lado da cama, bolsa sobre a cadeira?
Pecados que deixavam Serge absolutamente furioso. As
crianças só podiam brincar num único cômodo, de portas fechadas. Serge dizia
que a sua mente era tão atravancada, tão cheia de ideias, de notas musicais e
de imagens, que o exterior obrigatoriamente precisava estar sempre em perfeita
ordem. A família Gainsbourg sofreu um pouco com isso, imaginem... Mas, de fato,
Serge podia dar-se às maiores maluquices: poucos artistas foram tão prolíficos
quanto ele.
LETICIA WIERZCHOWSKI - FSP. 29 Sep 2011
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