sábado, 13 de setembro de 2014

A taça


Uma taça cheia, bem lavrada,
Segurava e apertava nas mãos ambas,
Ávido sorvia do seu bordo doce vinho
Para, a um tempo, afogar mágoa e cuidado.
Entrou o Amor e achou-me sentado,
E sorriu discreto e sábio,
Como que lamentando o insensato:
«Amigo, eu conheço um vaso inda mais belo,
Digno de nele mergulhar a alma toda;
Que prometes, se eu to conceder
E to encher de outro néctar?»
E com que amizade ele cumpriu a palavra!
Pois ele, Lida, com suave vénia
Te concedeu a mim, há tanto desejoso.
Quando estreito o teu amado corpo
E provo dos teus lábios fidelíssimos
O bálsamo de amor longo tempo guardado,
Feliz digo eu então ao meu espírito:
Não, um vaso tal, a não ser o Amor,
Nenhum deus o formou ou possuiu!
Formas assim não as forja Vulcano
Cos martelos finos e sensíveis!
Pode Lieu em frondosos outeiros
P'los seus faunos mais velhos e sagazes
Fazer pisar as uvas escolhidas
E ele mesmo presidir ao fermentar secreto:
Bebida assim não há desvelo que lha dê!

- Johann Wolfgang von Goethe, em "Canções". in: "Poemas" Goethe (Antologia).. [tradução de Paulo Quintela]. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1958.

Der Becher

Einen wohlgeschnitzten vollen Becher
Hielt ich drückend in den beyden Händen,
Sog begierig süßen Wein vom Rande,
Gram und Sorg’ auf Einmal zu vertrinken.
Amor trat herein und fand mich sitzen,
Und er lächelte bescheidenweise,
Als den Unverständigen bedauernd.
„Freund, ich kenn’ ein schöneres Gefäße,
Werth die ganze Seele drein zu senken;
Was gelobst du, wenn ich dir es gönne,
Es mit anderm Nektar dir erfülle?“
O wie freundlich hat er Wort gehalten,
Da er, Lida, dich mit sanfter Neigung
Mir, dem lange sehnenden, geeignet!
Wenn ich deinen lieben Leib umfasse,
Und von deinen einzig treuen Lippen
Langbewahrter Liebe Balsam koste,
Selig sprech’ ich dann zu meinem Geiste:
Nein, ein solch Gefäß hat außer Amorn
Nie ein Gott gebildet noch besessen!
Solche Formen treibet nicht Vulcanus
Mit den sinnbegabten, feinen Hämmern!
Auf belaubten Hügeln mag Lyäus
Durch die ältste, klügste seiner Faunen
Ausgesuchte Trauben keltern lassen,
Selbst geheimnißvoller Gährung vorstehn:
Solchen Trank verschafft ihm keine Sorgfalt!

- Johann Wolfgang von Goethe, in "Goethes Schriften". Achter Band, G. J. Göschen. 1789.


http://www.elfikurten.com.br/2014/07/johann-wolfgang-von-goethe.html

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