Uma taça cheia, bem
lavrada,
Segurava e apertava
nas mãos ambas,
Ávido sorvia do seu
bordo doce vinho
Para, a um tempo,
afogar mágoa e cuidado.
Entrou o Amor e
achou-me sentado,
E sorriu discreto e
sábio,
Como que lamentando o
insensato:
«Amigo, eu conheço um
vaso inda mais belo,
Digno de nele
mergulhar a alma toda;
Que prometes, se eu to
conceder
E to encher de outro
néctar?»
E com que amizade ele
cumpriu a palavra!
Pois ele, Lida, com
suave vénia
Te concedeu a mim, há
tanto desejoso.
Quando estreito o teu
amado corpo
E provo dos teus
lábios fidelíssimos
O bálsamo de amor
longo tempo guardado,
Feliz digo eu então ao
meu espírito:
Não, um vaso tal, a
não ser o Amor,
Nenhum deus o formou
ou possuiu!
Formas assim não as
forja Vulcano
Cos martelos finos e
sensíveis!
Pode Lieu em frondosos
outeiros
P'los seus faunos mais
velhos e sagazes
Fazer pisar as uvas
escolhidas
E ele mesmo presidir
ao fermentar secreto:
Bebida assim não há
desvelo que lha dê!
- Johann Wolfgang von
Goethe, em "Canções". in: "Poemas" Goethe (Antologia)..
[tradução de Paulo Quintela]. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1958.
Der Becher
Einen wohlgeschnitzten vollen Becher
Hielt ich drückend in den beyden Händen,
Sog begierig süßen Wein vom Rande,
Gram und Sorg’ auf Einmal zu vertrinken.
Amor trat herein und fand mich sitzen,
Und er lächelte bescheidenweise,
Als den Unverständigen bedauernd.
„Freund, ich kenn’ ein schöneres Gefäße,
Werth die ganze Seele drein zu senken;
Was gelobst du, wenn ich dir es gönne,
Es mit anderm Nektar dir erfülle?“
O wie freundlich hat er Wort gehalten,
Da er, Lida, dich mit sanfter Neigung
Mir, dem lange sehnenden, geeignet!
Wenn ich deinen lieben Leib umfasse,
Und von deinen einzig treuen Lippen
Langbewahrter Liebe Balsam koste,
Selig sprech’ ich dann zu meinem Geiste:
Nein, ein solch Gefäß hat außer Amorn
Nie ein Gott gebildet noch besessen!
Solche Formen treibet nicht Vulcanus
Mit den sinnbegabten, feinen Hämmern!
Auf belaubten Hügeln mag Lyäus
Durch die ältste, klügste seiner Faunen
Ausgesuchte Trauben keltern lassen,
Selbst geheimnißvoller Gährung vorstehn:
Solchen Trank verschafft ihm keine Sorgfalt!
- Johann Wolfgang von Goethe, in "Goethes Schriften". Achter
Band, G. J. Göschen. 1789.
http://www.elfikurten.com.br/2014/07/johann-wolfgang-von-goethe.html
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