sábado, 13 de setembro de 2014

Uma trágica orgia de abelhas


Vi como uma orgia de abelhas
entrava na tua boca
e as sombras deixavam de estar erectas.
O meu coração perdeu a sua elasticidade.
A chuva de ouro
que deixaste no meu estômago
é ácido numa ferida
que nunca vi.
Agora és uma constelação
híbrida, congelada, cujo brilho
me provoca cataratas.
Tiveste a oportunidade de ver
como engendrava uma estação
com árvores alimentadas
de pirilampos,
um paraíso sem noites de sol,
pelo menos no teu sonho.
Agora o teu corpo fissurado pode ser
urinado pelos anjos.
A tua sombra deixou os seus genitais
para correr feridas de luz
no meu coração.
Vieram os gatos para cuidarem de ti,
mordendo as tuas bochechas inchadas,
não deixando que os gusanos
comam o inverno
que masturbou os nossos estômagos
olvidados numa árvore de outono.
Sim, as nossas vísceras ficaram
agarradas a uma árvore alimentada por pirilampos.
Lamento, cometi o erro de deixar que isto fosse
um sonho de um adolescente
que aprende a estudar astrologia
nas minhas feridas feitas
por uma faca de cortar oxidada.
As abelhas continuam a sua infância
na tua boca já masturbada pela noite de sol.

Patrícia Úbeda
(tradução de Alberto Augusto Miranda)

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