as mãos da febre
entram em volúpia nos corpos desalojados. moldam crianças nos rostos, acendem
labaredas nos olhos.
caçadora-irmã dos
lobos que saltam das veias, a febre faz o medo afiar-se num outro espaço ôntico
e os pés estremecerem numa casa de novos partos.
os membros de bronze
fundido agarram as horas pela nuca em banhos de gelo suado. querem alcançar o
escadote que leva para além das clepsidras.
a febre devora os
náufragos. envolve num estranho carnaval aqueles que perderam todas as máscaras
e se esqueceram de tirar a gargantilha.
as patas da febre
sulcam trilhos infernais na voz. aurora boreal estilhaçada no corpo, corrompida
em fios quentes de tecer infernos e outras místicas alcovas.
mas a febre não é
vermelha, a febre é negra como a boca dos velhos. a febre faz os dentes medirem
o vazio entre as estrelas.
Abre a boca pássaro cego (de María Ramos; trad. de Alberto Augusto Miranda)
Nenhum comentário:
Postar um comentário