sexta-feira, 31 de maio de 2019


Violências brasilianas

   Recentemente um morador de rua foi espancado e torturado por jovens da classe media de uma cidade do interior de SP. A agressão foi registrada por câmeras da cidade e testemunhas. Os agressores alegaram estar brincando com a vitima. Por esses motivos esse espetáculo de brutalidade foi transmitido pela televisão para todo o país. Apesar da grande repercussão, esses fatos acontecem com frequência. Recentemente outro grupo agrediu de forma brutal e deliberada um jovem na Avenida Paulista ao saírem da “balada”. Nesse caso, consta que a motivação seria porque o agredido era ou parecia ser homossexual. Desde o assassinato do índio pataxó Galdino em Brasília em 1997 que a sociedade assiste, entre atônita e indignada, a manifestações de violência cometidas por jovens perguntando-se, qual a razão disso tudo? Na mesma proporção que sobram argumentos, teorias e especialistas para explicá-las faltam ações para combate-las, impedi-las ou inibi-las. Entre aqueles que sustentam que a causa seja a "falta de Deus no coração das pessoas" e os que clamam pela redução da maioridade penal existem mais determinações do que supõe a moralidade mass media e o legalismo autoritário. Entre esses extremos orbitam os paladinos do discurso politicamente correto que se arrogam defensores e representantes dos excluídos e/ou vitimas - terceiro setor, movimentos sociais, políticos. Do ponto de vista objetivo, porem, suas iniciativas quase sempre oscilam entre o assistencialismo paternalista/clientelista e a cidadania tutelada.

   Embora as ocorrências de violência acima citadas sejam distintas, elas têm muito mais em comum do que a violência consumada. Com efeito, muito embora a psicanálise, desde Freud, sustente que o sujeito, quando envolvido pela massa, seja capaz de realizar atos que individualmente não faria, o fundamento dessas ocorrências de violência no Brasil estão alem das subjetividades, da impunidade legal e da moral cristã. Por trás dessas explicações e/ou justificativas espreita uma racionalidade que consiste em uma forma de sociabilidade que caracteriza a organização dessa sociedade, portanto, trata-se de um problema político, posto que determine o lugar dos sujeitos na sociedade, em outras palavras, relações de poder. Historicamente, conforme sustentam Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro, entre outros, a colonização deveu-se a "corajosa iniciativa particular" do português, que "concorrendo às sesmarias, dispôs-se a vir povoar e defender militarmente, como era exigência real.” Assim, destacam que a sociedade portuguesa, "estreitamente vinculada à ideia de escravidão em que mesmo os filhos são apenas os membros livres desse organismo inteiramente subordinado ao patriarca”, caracteriza-se por um tipo de “dominação tradicional” inexorável a regras e a racionalidade exteriores, universalizantes e impessoais o que, por sua vez, resulta em um processo de socialização autoritário e violento. A democratização brasileira (88) introduziu novos atores, agentes, direitos, valores, procedimentos, instituições no interior do Estado e na sociedade como requisito do Estado de Direito, indispensável à democracia e o exercício da cidadania. Entretanto, do ponto de vista objetivo, constata-se que o constitucionalismo nominal não se adequou ao processo social e as leis, embora tenham validade jurídica, seguem de modo inverso, do papel para a realidade!
Considerando o processo histórico brasileiro que caracteriza a sociedade e, que é a sociedade que condiciona o individuo e não o contrário, fica mais fácil entender as determinações tanto para as manifestações de violência quanto para as iniciativas que buscam combate-la, em termos de relações sociais que determinam padrões de conduta, valores e conceitos/idéias. Arrisco-me ainda a apontar um traço, talvez recalcado, sem duvida resquício do autoritarismo recente e que combinado às características peculiares do nosso processo histórico determinam uma tendência perversa, tanto no modo como essa questão é abordada quanto à forma como elas ocorrem. Trata-se do desprezo, de ambos os lados. As duas faces da moeda de uma moralidade, preconceituosa, hipócrita, reacionária e autoritária. Desprezo que podemos perceber na negação do outro que se manifesta de modo sutil – porem não menos perverso – no não reconhecimento da igualdade enquanto sujeito portador de direitos, autônomo, livre, dotado de valores, historia e cultura/tradições próprias. O outro lado do desprezo é o da política deliberada de encarceramento e extermínio das classes desfavorecidas. Trata-se das duas faces de uma mesma moeda que caracteriza os valores da nossa burguesia e que se oferece aos excluídos: a cruz ou a espada. De fato, esse tipo de desprezo estava na essência do nazismo. Não se trata do tripé político: totalitarismo, nacionalismo, anti-semitismo. Trata-se da racionalidade da sociedade nazista – pretensa superioridade física, intelectual, espiritual e moral da raça ariana. Esse tipo de racionalidade verifica-se nas nos valores e iniciativas dessa nossa classe media e elites – nos seus valores estéticos, na sua obsessão autoritária asséptica, na inclinação a apoiar as iniciativas autoritárias estatais que buscam cada vez mais regular e cercear os direitos individuais e, sobretudo, no desprezo aberto ou velado pelo outro. O desprezo expresso nas diversas negações – direitos, autonomia, liberdade, cultura - encontra o seu limite na negação a vida, como no caso do índio Galdino. De fato, essa brutalidade nada mais é do que um sintoma dessa pretensa superioridade manifesta em um sentimento de desprezo que encontra a sua realização por meio, de um lado, do ódio e de outro, da compaixão. Ambos são autoritários e tem a mesma origem. Essa pretensa superioridade apóia-se na certeza da razão (verdade) e da conivência do sistema – Estado e sociedade. É bom que se diga, o autoritário é sempre um homem da certeza! Na medida em que o Estado e a sociedade, por meio de um processo de formação – e não apenas informação – para a democracia e a cidadania é que transformaremos essa realidade. Porque a educação deve estar a serviço da sociedade, do bem comum, e não apenas do individuo ou do mercado. Porque conforme dizia Paulo Freire, “se a educação não transforma a sociedade, tampouco a sociedade muda sem ela.”

   Para finalizar, Aristóteles explica que só existem dois tipos de virtude: a que vem da educação e a que vem do habito e, esta ele chama de ética - do grego Ethos. Conforme nos falte à primeira, nosso processo histórico demonstra o tipo de ética que temos, resta saber se é está a que queremos.


Mario Miranda Antonio Junior
Sociólogo – FESPSP
Pós em Direitos Humanos – USP (incompleto)

Bilbliografia para consulta

Aristoteles - Ética a Nicômaco
Gilberto Freyre - Casa Grande e Senzala
Sergio Buarque de Holanda - Raízes do Brasil
Raymundo Faoro - Os Donos do Poder
Sigmund Freud - Reflexões sobre tempos de guerra e morte
Erich Fromm - O Medo a Liberdade (Psicologia do Nazismo)


quarta-feira, 29 de maio de 2019

EL LABERINTO



Zeus no podría desatar las redes
de piedra que me cercan. He olvidado
los hombres que antes fui; sigo el odiado
camino de monótonas paredes
que és mi destino.

Rectas galerías
que se curvan en círculos secretos
al cabo de los años. Parapetos
que ha agrietado la usura de los días.

En el pálido polvo he descifrado
rastros que temo. El aire me ha traído
en las cóncavas tardes un bramido
o el eco de un bramido desolado.

Sé que en la sombra hay Otro, cuya suerte
es fatigar las largas soledades
que tejen y destejen este Hades
y ansiar mi sangre y devorar mi muerte.

Nos buscamos los dos. Ojalá fuera
éste el último día de la espera.


JORGE LUIS BORGES 

LA NECESIDAD DEL SILENCIO




El dramaturgo ha explicado que silencio en el teatro es «la más conflictiva de sus palabras» ya que puede «enfrentarse a todas las demás. Sucede que en el teatro, arte de la palabra pronunciada, el silencio se pronuncia […], puede pensarse y su historia relatarse atendiendo al combate entre la voz y su silencio. Sucede que en el escenario basta que un personaje exija silencio para que surja lo teatral; basta que, al entrar un personaje en escena, otro enmudezca; basta que uno, requerido a decir, se obstine en callar. Si el silencio es parte de la lengua, lo es, y determinante, del lenguaje teatral».

Juan Mayorga ha destacado la necesidad del silencio en el terreno de la interpretación y la comunicación cotidiana: «El silencio nos es necesario para un acto fundamental de humanidad: escuchar las palabras de otros. También para decir las propias. El silencio, frontera, sombra y ceniza de la palabra, también es su soporte. Por eso, lo que hablan bien dominan, tanto como la palabra, el silencio, estructurado fundamental del discurso, cuya arquitectura, atractivo e incluso sentido dependen en buena parte del saber callar. Los elocuentes saben que, si la sigue o la precede un silencio, el valor de una palabra se transforma».

LA CONVIVENCIA DE LA VOZ Y EL SILENCIO

A juicio del escritor, «hay en el escenario un combate físico entre la voz y su silencio. […] Silencio y voz laten cada uno en el otro. El silencio despierta el deseo de voz y la voz el del silencio. Quizá de la tensión del silencio surja la voz o la tensión de esta haga aparecer aquel».

«La materialidad de la voz y de su silencio basta para contradecir a quien reduzca el teatro a su literatura. En el escenario se expone inmediatamente algo irreducible a aquello que en el texto puede leerse. Se exponen el hablar y el callar como acciones radicales de la existencia humana. Cuando un actor pronuncia palabras, no solo nos ofrece lo que esas significan, sino, también y antes, el hablar mismo. Entre los sonidos del mundo hay el de la voz humana y el de su silencio», señaló el nuevo académico.

DESDE LAS TRAGEDIAS GRIEGAS

Según Juan Mayorga, los griegos «ya exploraron las formas fundamentales del silencio» no solo en el teatro; también ha recordado los versos del canto III de la Iliada «donde Homero relata que, la víspera del combate, solo los príncipes hablan, mientras los soldados no parecen tener voz en el pecho».

El académico ha desgranado las tragedias donde el silencio guarda una relación esencial: «Hemos podido leer y ver los silencios de Tiresias ante Edipo […] y de Hipólito ante Teseo […]. Y merecería por sí solo un discurso el silencio de los mensajeros antes de transmitir las noticias de que son portadores».

Su intervención ha continuado con otros ejemplos de Federico García Lorca en La casa de Bernarda Alba: «el que Bernarda impone en su casa, silencio de sangre, es un silencio antiguo. Viene de la vieja tragedia. Procede de aquel que en Tebas dicta Creonte y que una muchacha desafía anunciando, al precio de su vida, una comunidad en la que no solo el tirano hable Hay en el diálogo de Hemón con su padre réplicas que podrían haberse pronunciado en la casa de Bernarda, y Adela tiene gesto de Antígona cuando rompe el bastón de la dominadora».

MAESTRO DE LA PALABRA

La académica de la RAE, Clara Janés, ha sido la encargada de dar la bienvenida, en nombre de la corporación, al nuevo académico. En su intervención se ha referido a Juan Mayorga como «un maestro, no solo en vestir y desnudar la palabra, sino en dotarla de un trayecto, un acompañamiento, y un doble, y de la astucia necesaria para que, una vez dicha, se dirija a despertar aquella otra palabra no formulada, pero no menos inmediata».

dramaturgo y doctor en Filosofía Juan Mayorga (Madrid, 1965)

Fuente: http://www.rae.es/noticias/juan-mayorga-ingresa-en-la-rae-para-ocupar-la-silla-m

Texto completo del discurso de ingreso en la RAE:http://www.asale.org/sites/default/files/Discurso_ingreso_Mayorga.pdf
WordPress.com


sábado, 25 de maio de 2019

FÁBRICA DO POEMA



Waly Salomão

sonho o poema de arquitetura ideal
cuja própria nata de cimento encaixa palavra por
palavra,
tornei-me perito em extrair faíscas das britas
e leite das pedras.
acordo.
e o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.
acordo.
o prédio, pedra e cal, esvoaça
como um leve papel solto à mercê do vento
e evola-se, cinza de um corpo esvaído
de qualquer sentido.
acordo,
e o poema-miragem se desfaz
desconstruído como se nunca houvera sido.
acordo!
os olhos chumbados
pelo mingau das almas e os ouvidos moucos,
assim é que saio dos sucessivos sonos:
vão-se os anéis de fumo de ópio
e ficam-se os dedos estarrecidos.

sinédoques, catacreses,
metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros
sumidos no sorvedouro.
não deve adiantar grande coisa
permanecer à espreita no topo fantasma
da torre de vigia.
nem a simulação de se afundar no sono.
nem dormir deveras.
pois a questão-chave é:
sob que máscara retornará o recalcado?

(mas eu figuro meu vulto
caminhando até a escrivaninha
e abrindo o caderno de rascunho
onde já se encontra escrito
que a palavra “recalcado” é uma expressão
por demais definida, de sintomatologia cerrada:
assim numa operação de supressão mágica
vou rasurá-la daqui do poema.)

pois a questão-chave é:
sob que máscara retornará?


«Há momentos em que por meio de uma única palavra, uma
única rima, o escritor de um poema encontra uma forma de
chegar onde ninguém nunca esteve antes, ou ainda, onde
nem ele esperava chegar um dia. Aquele que escreve um
poema o faz, acima de tudo, porque escrever versos é um
extraordinário acelerador da consciência, do pensamento, da
compreensão do universo. Aquele que experimenta essa
aceleração uma vez não consegue mais abandonar a chance
de repetir essa experiência, caindo na dependência do
processo, como outros o fazem com drogas e álcool. Aquele
que se encontra nesse tipo de dependência da linguagem é,
acredito eu, o que chamamos de poeta.»

 Joseph Brodsky, poeta russo, ganhador do Nobel em 1987..

(Fonte : microjornal de poesia Fluxos)

esbulho das aposentadorias


O assalto e roubo da previdência não é só o maior projeto do atual (des)governo, é o único projeto nacional, um projeto desestruturante, a extorsão de recursos públicos e poupanças dos trabalhadores, diretamente em favor dos capitais financeiros e fundos de capitalização privados, muitos no exterior e em paraísos fiscais. Só aumentará o desemprego e a crise econômica, ao diminuírem a massa salarial e adiarem as novas contratações. Keynes ao contrário, o Estado desinveste, retira a demanda, extrai mais-valia absoluta dos trabalhadores, ao aumentarem o tempo de trabalho em muitos anos e sem compensação, só com perdas, ao adiarem as aposentadorias dos atuais trabalhadores e impedirem o ingresso de jovens, de novos trabalhadores no mercado de trabalho formal. E o Guedes fala do plano de se mandar do país, com ou sem o esbulho das aposentadorias.
RCO

As mais antigas famílias de Curitiba e região


1 – Descendentes dos principais fundadores, conquistadores e povoadores das vilas de Paranaguá, São Francisco do Sul, Curitiba, Guaratuba e Morretes. Linhas genealógicas principais do Capitão-Mor e Povoador de Curitiba, Mateus Martins Leme.
2 – Sobrenome presente na região desde a virada dos séculos XVII-XVIII e com sesmarias pioneiras na família, em varonia e com o mesmo sobrenome. Tradição latifundiária e escravocrata. Famílias com muitos escravizados e sempre combatendo os ameríndios locais. Escravistas até 1888. Sobrenome frequente de origem portuguesa e utilizado por diferentes camadas étnicas e sociais.
3 – Homens da família com estatuto de “homens bons”, ocupantes dos cargos nas câmaras das vilas, juízes, vereadores e com patentes de oficiais, nas ordenanças locais ao longo de todo século XVIII e na Guarda Nacional no XIX.
4 – Com a Independência, o Império e a República também passam a ocupar cargos nos legislativos provinciais, estaduais, nacionais, deputados, senadores, nos poderes executivos, no sistema judicial, nas forças armadas, muitos com presença e serviço na Capital Nacional, antes no Rio de Janeiro e depois em Brasília.
5 – Há muitas gerações no 1% mais rico, ou próximo. Profissionais liberais (advogados, médicos, engenheiros), políticos, oficiais superiores e generais, empresários, altos funcionários, cartorários, mídia, proprietários há várias gerações.
6 – Nomes de dezenas de logradouros, ruas, avenidas, praças, escolas, hospitais, equipamentos coletivos, prédios públicos em diversos municípios.
7 – Foram casados com mulheres de famílias igualmente antigas, descendentes do senhoriato do período colonial, ou no século XX casam com mulheres de famílias de imigrantes europeus recentes e em ascensão, sempre na Santa Madre A Igreja Católica, a Igreja dos antepassados, a única que transmite a condição de “nobreza da terra” para as novas gerações e seus herdeiros “legítimos”. Parentes de padres do passado.
8 – Apoiaram todos os golpes, movimentos e governos conservadores ou reacionários nos últimos séculos.
9 – Poucos intelectuais, escritores e doutores em ciência, tecnologia e inovação.
10 - Poucas famílias com varonias e sobrenomes originários da virada dos séculos XVII-XVIII. O complexo Gomes de Oliveira, Oliveira Cercal, Oliveira Borges do qual eu pertenço. Miranda Coutinho, Rocha Loures, Guimarães, Ribas, Amaral, Siqueira Cortes, Munhoz outras do final do século XVIII: Marques dos Santos, Macedo, Santos Pacheco Lima, Oliveira Franco, Rebello, Sotto Maior, início do XIX: Camargo, Braga. Se alguém tiver mais nomes e com história familiar antiga anterior ao século XIX poderá completar.
RCO


desastre bolsonaresco.


Um governo de figuras caricatas, culturalmente, humanisticamente e educacionalmente limitadas e menores, como o de Bolsonaro, já deu errado desde antes de começar, o tempo só aumenta o tamanho do equívoco e o custo do prejuízo para a imensa maioria. Como o bolsonarismo foi ideologicamente produzido pela direita composta por militares, juízes, pastores evangélicos, policiais, jornalistas, empresários, basta analisar o ministério e o parlamento, a sua queda estará associada à profunda e merecida desmoralização de todas estas categorias a curto e médio prazos. O pós-bolsonaro, entendido também como o fora do vice-subalterno Mourão, deve ser um momento de pós-direita no Brasil e uma oportunidade histórica para a modernização institucional e reorganização de todas as instituições militares, de segurança, o sistema judicial, a grande mídia, o empresariado parasitário e todos responsáveis pela produção ideológica do desastre bolsonaresco.
RCO

Una noche




Constantino Cavafis

El cuarto era pobre y vulgar,
oculto en los altos de una taberna equívoca.
Desde la ventana se veía la calleja,
sucia y estrecha. Desde abajo
llegaban las voces de algunos obreros
que jugaban a las cartas y se divertían.

Y allí en la cama humilde, ordinaria,
poseí el cuerpo del amor, poseí los labios
voluptuosos y rojos de la embriaguez;
rojos de tal embriaguez, que también ahora
cuando escribo, ¡después de tantos años!,
en mi casa solitaria, me embriago nuevamente.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Ulia




Vivía una vez en este mundo una criatura maravillosa. Hoy todos la han olvidado, y también olvidaron su nombre y hasta su rostro. Tan sólo mi abuela recuerda a esa criatura maravillosa y me contó sobre ella, sobre cómo era.

Según mi abuela, la criatura se llamaba Ulia y era una niña. Todos los que veían a la pequeña Ulia sentían en su corazón que les remordía la conciencia, porque Ulia era de rostro tierno y en él se reflejaba una auténtica bondad, aunque entre quienes la miraban no todos eran honrados ni bondadosos.

Tenía ojos grandes y claros, y todos podían ver hasta el fondo de sus ojos, descubrir que allí, en el fondo mismo, estaba lo principal, lo más valioso del mundo, y todo el mundo quería penetrar con la mirada los ojos de Ulia y hallar en sus profundidades lo más importante y venturoso para sí… Pero Ulia parpadeaba y nadie conseguía vislumbrar qué había en lo hondo de sus ojos diáfanos. Y cuando volvían a mirar al interior de los ojos de la niña, y empezaban a comprender lo que allí veían, Ulia parpadeaba de nuevo y al final les era imposible comprender qué había en el fondo de aquellos ojos.

Sólo un hombre llegó a ver hasta el fondo mismo de los ojos de Ulia y vio lo que expresaban. Ese hombre se llamaba Demian y vivía de comprar barato el trigo a los campesinos en años de buena cosecha y venderlo caro en años de hambruna. De ahí que fuera rico y estuviera siempre bien provisto. Demian vislumbró su propia imagen en las remotas profundidades de los ojos de Ulia, y no se vio tal como aparecía a los ojos de los demás, sino como era en realidad: con una gran boca codiciosa y la mirada feroz. El alma oculta de Demian se reflejaba claramente en su rostro. Y Demian, al verse, se fue de aquel pueblo y nadie oyó hablar de él por mucho tiempo, hasta el punto de que empezaron a olvidarlo.

Los ojos de Ulia reflejaban sólo la auténtica verdad. Si una persona cruel tenía un rostro agraciado y llevaba ricas ropas, en los ojos de Ulia se mostraba deforme y toda cubierta de llagas.

Pero la propia Ulia no sabía que sus ojos reflejaban la verdad. Era todavía pequeña e inconsciente. Otras personas no habían tenido tiempo de mirarse en sus ojos, pero todos la contemplaban con deleite y pensaban en lo bueno que era vivir, puesto que existía en este mundo alguien como ella.

Ulia no sabía quiénes habían sido sus padres. La encontraron un verano al pie de un pino, junto al pozo del camino. Había nacido hacía unas semanas. Yacía en la tierra envuelta en un manto de lana y miraba callada el cielo con sus grandes ojos de color cambiante: a veces eran grises, a veces azul celeste, otras negros.

Gente buena recogió a la niña y una familia aldeana sin hijos la adoptó y la bautizó con el nombre de Uliana. Fue así como Ulia vivió toda su temprana infancia en la isba de sus padres adoptivos.

Cuando dormía, lo hacía con los ojos entornados, como si no quisiera dejar de mirar. Al amanecer, cuando empezaba a clarear, en sus ojos se reflejaba todo lo que pasaba por delante de la ventana. Ulia dormía en un banquillo y la temprana claridad del día iluminaba su rostro. Las ramas del sauce que crecía al pie de la ventana, las nubes que resplandecían bajo los tímidos rayos del primer sol, las aves de paso: todo existía una vez en el exterior, y por segunda vez se encendía en el fondo de los ojos de Ulia, aunque en ella aquellas nubes, los pájaros y las hojas del sauce eran mejores, más diáfanos y alegres que la imagen que veían los demás.

Sus padres adoptivos adoraban tanto a la pequeña Ulia que su añoranza los despertaba por las noches. Salían entonces de la cama, se acercaban a Ulia y en la oscuridad contemplaban largamente a aquella hija ajena que se había vuelto más querida que una propia. Les parecía ver un brillo en sus ojos entreabiertos, y la pobre isba se llenaba de bienestar en ese momento, como en los días de fiesta de su lejana juventud.

-Seguro que Ulia morirá joven -decía su madre con voz queda.

-Calla, no menciones la muerte -decía el padre-. ¿Por qué iba a morirse tan pequeña?

-Los que son así no viven mucho -volvía a decir la madre-. Sus ojos no se le cierran cuando duerme.

En su aldea se tenía la creencia de que los niños que dormían con los ojos entornados morían temprano.

Cuántas veces su madre había querido bajar los párpados de Ulia, pero su esposo no le permitía tocarla por temor a que la asustara. Durante el día, Ulia jugaba con cachivaches por los rincones de la casa o trasvasaba agua de una vasija de barro a una de hierro; hasta en esos momentos, su padre se cuidaba de tocar a la niña, como si temiera lastimar su pequeño cuerpo.

Cabellos claros crecían en la cabecita de Ulia formando bucles, como si el viento hubiera entrado en ellos para quedarse allí, inmóvil. Lo mismo en el sueño que en la vigilia, el dulce rostro de Ulia miraba atentamente hacia alguna parte y parecía atribulado. A sus padres se les antojaba que Ulia quería preguntarles algo que le preocupaba, pero que no lo hacía porque aún no sabía hablar.

Su padre llamó a un médico para que visitara a la niña. Quizá, pensaba su padre, siente algún dolor que el médico podría aliviar. El médico auscultó a la niña y dijo que todo se le pasaría cuando creciera.

-¿Y por qué la gente la quiere tanto? -preguntó su padre al médico-. ¡Preferiría que no fuera tan buena!

-Es un capricho de la naturaleza -respondió el médico.

Esto enfadó a sus padres.

-¡Vaya capricho! -dijeron-. Porque no es ningún juguete caprichoso, sino un ser vivo.

Las demás personas seguían tratando de atisbar en los ojos de Ulia, para verse allí como eran en realidad. Quizás alguno lo logró, pero no lo confesó y contó que no le había dado tiempo de verse porque Ulia había parpadeado.

Todos supieron que los ojos de Ulia cambiaban de color. Cuando miraba lo bueno: el cielo, una mariposa, una vaca, una flor, alguna niña pobre que pasaba, sus ojos se encendían con luz diáfana, pero cuando observaba algo que encerrara maldad, oscurecían volviéndose impenetrables. Sólo en lo más hondo de los ojos de Ulia, en su centro mismo, había siempre un color claro e invariable, que reflejaba la verdad acerca de la persona o de la cosa que miraba. No lo que veían todos desde fuera, sino lo que permanecía oculto e invisible en el interior.

Cuando Ulia cumplió dos años, empezó a hablar. Lo hacía bien, aunque rara vez, y eran pocas las palabras que sabía. En el campo y las calles de la aldea veía lo mismo que todos veían y entendían. No obstante, Ulia se asombraba sin cesar de lo que veía y a veces gritaba de miedo y lloraba señalando lo que miraba.

«¿Qué pasa? ¿Qué pasa, Ulia? -preguntaba su padre, y la cogía en brazos sin entender la causa de su alarma-. ¿Por qué me miras así? Es el rebaño, que vuelve al patio. Yo estoy aquí, contigo.»

Ulia miraba asustada al padre, como si fuera un extraño al que nunca hubiera visto. Aterrada, se tiraba al suelo y huía de él. Del mismo modo le temía a su madre y se escondía de ella.

Sólo en la oscuridad, donde sus ojos no veían, Ulia se mantenía serena.

Al despertar por la mañana, Ulia enseguida quería escapar del hogar. Se refugiaba en la oscuridad del gavillero o en el campo, donde había un barranco con una caverna arenosa. Allí permanecía sentada en la oscuridad hasta que sus padres la encontraban. Y cuando su padre o su madre la cogían en brazos, la apretaban contra su cuerpo y la besaban en los ojos, Ulia rompía a llorar de espanto y toda ella temblaba, como si la agarraran lobos y no sus padres, que la acariciaban.

Cuando Ulia veía a una tímida mariposa aleteando sobre la hierba, se alejaba de ella gritando y su corazón asustado seguía latiendo con fuerza durante mucho rato. Pero más que a nada Ulia temía a una vieja, a mi abuela, que era tan vieja que hasta las otras viejas le llamaban abuela. Ella rara vez visitaba la isba de Ulia, pero cuando iba, siempre obsequiaba a la niña con una galleta de harina blanca, o con un terrón de azúcar, o bien con unas manoplas para el frío que había tejido durante cuarenta largos días, o con cualquier otra cosa que pudiera servirle a Ulia. Mi abuela, que era muy anciana, decía que ya debía estar muerta, porque le había llegado su hora, pero que ahora no podía morirse: en cuanto se acordaba de Ulia, su débil corazón volvía a respirar y a latir como si fuera joven; su cariño por Ulia la mantenía viva porque sentía por ella compasión y alegría.

Ulia, en cambio, al ver a mi abuela, rompía a llorar, no le quitaba de encima sus ojos nublados y temblaba de miedo.

-¡No ve la verdad! -decía mi abuela-. Ve el mal en lo bueno, y el bien en lo malo.

-¿Y por qué, entonces, sus ojos reflejan sólo la verdad? -preguntaba su padre.

-¡Por eso mismo! -seguía mi abuela-. En ella brilla la verdad toda, pero no comprende esa luz y todo lo entiende al revés. Su vida es peor que la de una ciega. Hasta sería mejor que lo fuera.

«Quizá la anciana esté en lo cierto -pensaba entonces su padre-. Ulia ve lo malo como bueno, y lo bueno le parece malo.»

A Ulia no le gustaban las flores, nunca las tocaba. En cambio, juntaba en su falda negra basura del suelo y se iba a algún rincón oscuro a jugar sola; se dedicaba a palpar la basura con los ojos cerrados. No era amiga de los demás niños de la aldea y se escondía de ellos en la casa.

-¡Me dan miedo! -gritaba Ulia-. Son horrorosos.

Su madre apretaba entonces la cabecita de Ulia contra su pecho, como si quisiera esconder a la niña y darle sosiego en su corazón.

Y los niños de la aldea no eran malcriados, todo lo contrario: eran bondadosos, de rostros claros. Se acercaban a Ulia y le sonreían sin malicia.

Su madre no entendía qué temía Ulia y qué cosa tan terrible veían sus maravillosos y desdichados ojos.

-No temas, Ulia -decía su madre-, no le temas a nada mientras yo esté aquí, contigo.

Ulia miraba a su madre y volvía a gritar:

-¡Tengo miedo!

-Pero ¡quién te asusta, si soy yo!

-¡Te temo a ti, eres horrible! -decía Ulia, y cerraba los ojos para no verla.

 Nadie sabía lo que Ulia veía, y ella misma no podía decirlo, porque el pánico se lo impedía.

En la aldea vivía otra niña que tenía cuatro años y que se llamaba Grusha. Fue la única con la que Ulia empezó a jugar y con la que se encariñó. Grusha tenía el rostro alargado, por lo que la apodaban «cabeza de potrica», y tenía muy mal genio. Ni siquiera amaba a sus padres, y había dicho que pronto se iría bien lejos de su casa y nunca volvería, porque allí vivían mal, mientras que ella viviría bien en otra parte. Ulia acariciaba el rostro de Grusha y le decía que era guapa; miraba con admiración la cara de enfado y tristeza de su amiga, como si tuviera ante sí a una niña noble y cariñosa, de bello semblante. Pero una vez Grusha miró sin querer al interior de los ojos de Ulia y llegó a verse en ellos, tal como era en realidad. Gritó horrorizada y corrió a su casa. Desde entonces Grusha se volvió más noble de corazón y dejó de enfadarse con sus padres y de decir que se sentía mal con ellos. Y cuando le entraban ganas de ser mala, recordaba su horrible imagen en los ojos de Ulia, se asustaba de sí misma y volvía a recuperar dulzura y docilidad.

Aunque a Ulia le entristecía que las flores y los rostros de las personas bondadosas le parecieran horribles, era como todos los niños pequeños: comía su pan, bebía su leche y crecía. La vida avanzaba deprisa y pronto Ulia cumplió los cinco años, luego los seis y después los siete.

Por aquel entonces regresó a la aldea aquel mujik, Demian, que hacía mucho se había marchado con rumbo desconocido. Regresó pobre y humilde, se puso a labrar la tierra como todo el mundo y vivió como un hombre de bien hasta su vejez. Incluso quiso llevarse a Ulia a su casa como hija adoptiva, porque estaba viejo y solo, pero los padres adoptivos de Ulia no accedieron. No podían vivir sin Ulia desde que se la habían llevado a su casa.

A partir de los cinco años, Ulia dejó de gritar y de huir espantada. Sólo entristecía cuando veía a una persona de alma noble y bella, ya fuera mi vieja abuela o cualquier otra persona de buen corazón. Lloraba con frecuencia. Sin embargo, en lo profundo de sus grandes ojos seguía reflejándose la verdadera imagen de la persona a la que miraba. Pero no veía la verdad, sino algo falso. Y petrificados por el asombro, sus ojos confiados y tristes observaban el mundo entero sin comprender lo que veían.

Cuando Ulia cumplió siete años, sus padres adoptivos le explicaron quiénes eran ellos en realidad. Le dijeron que no se sabía dónde vivían sus padres legítimos y ni siquiera si estaban vivos. Se lo contaron de una manera razonable; querían que la niña supiera la verdad por ellos y no que se la dijera otra persona. Porque algún extraño le contaría algún día lo mismo, pero no lo harían corno es debido y podrían lastimar a la niña.

-¿Y ellos también son horrorosos? -preguntó Ulia sobre sus padres legítimos.

-No, no son horribles -repuso el padrastro-. Te trajeron al mundo y deben ser tus seres más queridos.

-No ves la verdad, hijita -suspiró su madre adoptiva-. Tienes los ojos enfermos.

Desde entonces, Ulia entristeció aún más. Corría el verano y Ulia decidió que cuando llegara el otoño dejaría la aldea para ir a buscar a sus padres verdaderos, los que la habían dejado abandonada.

Pero no había pasado aún el verano cuando llegó a la aldea una campesina que calzaba alpargatas y cargaba un morral de pan. Era evidente que venía de lejos y estaba extenuada. Se sentó al pie del pozo del camino junto al que crecía un viejo pino, observó el árbol, luego se puso en pie y palpó la tierra en torno al pino, como si buscara allí algo dejado mucho tiempo atrás y ya olvidado. La mujer se cambió de calzado, se acercó a la isba en la que vivía Demian y se sentó bajo la ventana.

Nadie pasaba, la gente trabajaba en el campo, así que la peregrina permaneció largo tiempo sola. Después, una niña salió de uno de los patios. Vio a la desconocida y se acercó a ella.

-No me das miedo -dijo la niña con sus grandes ojos que irradiaban luz cristalina.

La peregrina observó a la niña, la cogió de la mano, luego la abrazó y la apretó contra su cuerpo. La niña no se asustó ni gritó. Entonces la mujer besó a la niña en un ojo y luego en el otro y estalló en llanto: había reconocido a su hija, por los ojos, por el pequeño lunar en el cuello, por todo su cuerpo y por cómo temblaba su propio corazón.

-Yo era joven y necia, te abandoné -dijo la mujer-. Ahora he venido a buscarte.

Ulia se apretujó contra el pecho cálido y blando de la mujer y se adormeció.

-Soy tu madre -dijo la mujer, y volvió a besar los ojos entornados de Ulia.

El beso de su madre sanó los ojos de Ulia. Desde ese día empezó a ver el mundo a la luz del sol igual como lo veían los demás. Miraba dulcemente con sus ojos grises claros y a nadie temía. Y veía todo como debía ser. Lo bello y positivo que hay en el mundo dejó de parecerle horrible y espantoso, y tampoco la crueldad y la maldad le parecían bellas, como le sucedía cuando vivía sin su madre legítima.

Pero desde entonces nada volvió a aparecer en el fondo de sus ojos; la misteriosa imagen de la verdad desapareció. A Ulia no le dio pena que la verdad hubiera dejado de brillar en sus ojos, y tampoco su madre se entristeció al saberlo.

«La gente no necesita ver la verdad -dijo su madre-. Ya la saben y, el que no la sabe, aunque la vea, no la cree…»

Por aquella época murió mi abuela y no pudo contarme más sobre Ulia. Sólo mucho tiempo después, en cierta ocasión, vi a Ulia con mis propios ojos. Se había convertido en una hermosa muchacha, tan bella, que era mucho más de lo que la gente se atreve a desear. Por eso no dejaban de mirarla, aunque sus corazones permanecían indiferentes.

FIN

Andréi Platónov

Amada




¡El duro son de hierro tornaré melodía
para cantar tus ojos! -violetas luminosas-
la noche de tu negra cabellera y el día
de tu sonrisa, pura más que las puras rosas.

Tú vienes con el alba y con la primavera
espiritual, con toda la belleza que existe,
con el olor de lirio azul de la pradera
y con la alondra alegre y con la estrella triste.

La historia de mi alma es la del peregrino
que extraviado una noche en un largo camino
pidió al cielo una luz… y apareció la luna;

pues, estaba de un viejo dolor convaleciente,
y llegaste lo mismo que una aurora naciente,
en el momento amargo y en la hora oportuna.

Libro del amor,
1915-1917

Medardo Ángel Silva___Ecuador

 

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Um governo de recordes



Até onde posso ver, o atual governo está batendo todos os recordes.

Já tivemos ministros da Educação de todos os feitios, inclusive péssimos: ultra-autoritários, como Francisco Campos e Gama e Silva, ou ignorantes, como Mendoncinha. Tivemos Suplicy de Lacerda, notório inimigo dos estudantes, defensor da educação como forma de adestramento. Tivemos negocistas como Jorge Bornhausen. Tivemos Cristovam Buarque, de notável incapacidade administrativa e vazio de ideias. Sofremos o longo reinado de Paulo Renato, adepto da ideia de que educação é, em primeiro lugar, despesa. Era também um grande amigo do ensino privado, como vários outros, entre eles Cid Gomes. Poucos são aqueles de quem se pode dizer que estiveram sempre, sem vacilo, ao lado da educação pública, gratuita e emancipadora. Mas um lunático agressivo como Weintraub nos coloca em outro patamar. Perto dele, qualquer outro se torna um erudito iluminista. Incapaz de sustentar um argumento, inimigo da lógica mais elementar, com um conhecimento do mundo que parece alimentado exclusivamente por youtubers de extrema-direita, repleto de ódio ao saber, de preguiça intelectual e de ressentimento pela academia, atormentado por bizarras visões conspiratórias: só neste governo alguém assim poderia ocupar um cargo.

O ministério da Justiça era, na ditadura, o espaço por excelência dos algozes da democracia, de Gama e Silva a Alfredo Buzaid e Armando Falcão. Pois Moro não deve a nenhum deles em termos de desprezo pela democracia e ainda acrescenta a suprema incompetência em matéria de Direito, a inigualável desfaçatez e a vocação serviçal.

Pelo ministério da Economia - ou da Fazenda, o nome muda - passaram monumentos de arrogância: Roberto Campos, Delfim Netto, Zélia Cardoso de Mello. Nenhum é páreo para Guedes. Passaram muitos próceres de projetos de destruição do povo brasileiro, chegando a Joaquim Levy. Guedes põe todos no chinelo. Até um recorde considerado imbatível, que pertencia a Mailson da Nóbrega, o da incompetência na gestão da economia, está sob ameaça. Como escreveu Luis Nassif, é "um ministro sem a menor noção do mundo real, movendo-se exclusivamente pela ideologia".

Um criminoso ambiental no Ministério do Meio Ambiente. Uma apóstola do machismo no Ministério da Mulher. Um alienado delirante, que anuncia que seu objetivo maior é a submissão plena do Brasil aos Estados Unidos, no Itamarati. Uma ministra da Agricultura cujo projeto é nos envenenar a todos. Um Onyx Lorenzoni na Casa Civil. O maior plantel de militares saudosos de uma ditadura que já chegou ao poder em um país formalmente democrático.

E, na presidência, o que todos sabemos.
Luis Felipe Miguel

sexta-feira, 10 de maio de 2019


Os nazifascistas do Mossad matam os líderes da resistência semita da Palestina, e os agentes anglicanos do M-16 monitoram nordestinos africanos islamizados que disputam os postos de trabalho garantidos pela Sua Majestade, a Fraude, cujo mais novo dos netos estraçalha crianças e velhos [o custo de cada míssil sustentaria famílias do terceiro mundo por décadas] para viabilizar as reservas energéticas do ocidente no qual mergulham os jatos das companhias aéreas que transportam celebridades capazes de fazer girar em torno de trilhões de dólares por ano para que você possa ser sedado em sua tela LCD depois de oito horas de serviço, quem sabe, numa multinacional com isenção fiscal igual aos paraísos onde convivem o dinheiro das igrejas, dos ditadores de esquerda, dos de direita e do estado por dentro do estado.
Rezam alguns intelectuais que os indígenas possuem inferior capacidade cognitiva haja visto que eles desconhecem a mega valorizada cultura helênica. É dificil perceber, mas minha ascendência traz uma forte influência indígena e, creio eu, talvez seja por isso que sua boca profira juras de amor enquanto seus olhos as neguem com furor.
Como diz um certo Barão de Münchhausen, a primeira vítima da guerra é a verdade.

Ricardo Pozzo

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Circuito fechado


   Ricardo Ramos

Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço. Relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos, jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia. Água. Táxi, mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.

*Ricardo Ramos nasceu em Palmeira dos Índios, em 1929, ano em que o pai Graciliano Ramos exercia a função de prefeito. Formado em Direito, destacou-se como homem da propaganda, professor de comunicação, jornalista e escritor em São Paulo. Sua obra literária é extensa: contos, romances e novelas, e representa, com destaque, a prosa contemporânea da literatura brasileira. (Fonte)

Las muñecas



Es un gran armario de madera de nogal, simple, vertical, al mismo tiempo pesado y elegante, casi un símbolo de la digna estabilidad; por otra parte está siempre cerrado. Por dentro, el armario está dividido con estantecitos, y en cada uno de estos estantes vive una escritora; en realidad son las viejas muñecas que se volvieron escritoras solamente por obra de la inacción, la oscuridad y el aburrimiento. Por esa razón todas llevan trajes coloridos, a menudo los trajes de alguna región o provincia, y la cabeza ligeramente desproporcionada respecto al cuerpo, demasiado aplanada, demasiado en punta o simplemente demasiado voluminosa; salvo una poetisa que la tiene pequeñísima, y esto hace reír mucho a las demás, como si tener la cabeza pequeña fuese más gracioso que tenerla grande.

De todas formas, y como el armario no se abre nunca, y los estantes no permiten otra comunicación que la habitual entre los presos, por medio de golpecitos dados en un sistema convencional, poco a poco casi todas las muñecas se han dedicado a la literatura, y así se volvieron novelistas, poetisas, críticas literarias, críticas teatrales y consultoras de editoriales. Allí dentro todo es un continuo repiqueteo: cada una quiere hacer oír a las otras sus propias obras. Pero éstas son, de más está decirlo, obras de muñecas. Está la novelista con gafas que después de diez años de trabajo consiguió escribir esta novela, titulada Huelga: "Hacía frío. Los obreros hacían huelga. Sobre el más frío el más joven murió de huelga". Está la dramaturga de vanguardia que cada año presenta la misma comedia en un acto, titulada El otro: "ANA: Dame un beso, Edgardo. EDGARDO: No puedo, amo a otro". Está la chica teatral que cada semana redacta su veredicto: "Brava la Breva en el papel de Briva". Y está la poetisa de la cabeza pequeña, la más prolífica de todas, que una vez al mes rehace, cambiando la rima, la misma lírica:
Pobres
los
Pobres.

En la oscuridad, convencidas de su importancia, las muñecas de la cabeza desproporcionada se mueven, toman posturas, amenazan a los gobiernos extranjeros si éstos quisieran seguir persistiendo en el error, y pasan todo el día transmitiéndose sus propias composiciones. En vano, porque ninguna de ellas quiere escuchar lo que escriben las otras, y por otra parte no todas manejan el mismo sistema convencional de golpecitos, así que sus esfuerzos caen inexorablemente en el vacío. A veces alguien se acerca al armario cerrado, acerca la oreja a las puertas de nogal, y comenta: "¡Pero este armario está lleno de ratones!" Por eso nadie quiere abrirlo.

FIN

Juan Rodolfo Wilcock

Biblioteca Digital Ciudad Seva

As “10 regras para escrever romances”


 Jonathan Frazen



Certa vez, colocamos por aqui algumas dicas de Gabriel García Márquez para escrever bem na internet. Escolhemos, agora, as "10 regras para escrever romances" colocadas por Jonathan Frazen - autor de Liberdade e As correções, e presença confirmada na FLIP de 2012. E você, caro leitor-escritor, concorda com o americano?



1 - O leitor é um amigo, e não um adversário ou um espectador.

2 - A ficção que não seja uma aventura pessoal do autor diante do que é assustador ou desconhecido não vale a pena ser escrita, para nada - a não ser por dinheiro.

3 - Nunca use a palavra "então" como conjunção - temos o "e" para esse propósito. Substituir "e" por "então" é uma não-solução preguiçosa ou surda para o problema do escritor com muitos "e"s na página.

4 - Escreva em terceira pessoa, a menos que haja uma "voz" realmente distinta do narrador mostrando-se irresistível.

5 - Quando a informação se torna livre ou muito acessível, pesquisas volumosas para o romance são desvalorizadas junto com ele.

6 - A ficção autobiográfica mais pura possível requer, ainda assim, invenções puras. Ninguém jamais escreveu uma história mais autobiográfica que "A Metamorfose".

7 - Você enxerga mais se mantendo num lugar do que perseguindo algo.

8 - É bastante duvidoso que qualquer pessoa com conexão de internet no seu local de trabalho esteja escrevendo um bom romance.

9 - Verbos interessantes raramente são muito interessantes.

10 - Você tem que amar antes de poder ser implacável.

(Originalmente publicado no The Guardian)

A palavra


 Plabo Neruda

... Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam ... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ... Amo tanto as palavras ... As inesperadas ... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem ... Vocábulos amados ... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... Persigo algumas palavras ... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema ... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as ... Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda ... Tudo está na palavra ... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu ... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que ,se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes ... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada ... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos ... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras*, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca. mais,se viu no mundo ... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.

*Butifarra: espécie de chouriço ou lingüiça feita principalmente na Catalunha, Valência e Baleares. (N. da T.)

Pablo Neruda, em "Confesso que vivi"


El banquete





Con dos meses de anticipación, don Fernando Pasamano había preparado los pormenores de este magno suceso. En primer término, su residencia hubo de sufrir una transformación general. Como se trataba de un caserón antiguo, fue necesario echar abajo algunos muros, agrandar las ventanas, cambiar la madera de los pisos y pintar de nuevo todas las paredes.

Esta reforma trajo consigo otras y (como esas personas que cuando se compran un par de zapatos juzgan que es necesario estrenarlos con calcetines nuevos y luego con una camisa nueva y luego con un terno nuevo y así sucesivamente hasta llegar al calzoncillo nuevo) don Fernando se vio obligado a renovar todo el mobiliario, desde las consolas del salón hasta el último banco de la repostería. Luego vinieron las alfombras, las lámparas, las cortinas y los cuadros para cubrir esas paredes que desde que estaban limpias parecían más grandes. Finalmente, como dentro del programa estaba previsto un concierto en el jardín, fue necesario construir un jardín. En quince días, una cuadrilla de jardineros japoneses edificaron, en lo que antes era una especie de huerta salvaje, un maravilloso jardín rococó donde había cipreses tallados, caminitos sin salida, una laguna de peces rojos, una gruta para las divinidades y un puente rústico de madera, que cruzaba sobre un torrente imaginario.

Lo más grande, sin embargo, fue la confección del menú. Don Fernando y su mujer, como la mayoría de la gente proveniente del interior, sólo habían asistido en su vida a comilonas provinciales en las cuales se mezcla la chicha con el whisky y se termina devorando los cuyes con la mano. Por esta razón sus ideas acerca de lo que debía servirse en un banquete al presidente, eran confusas. La parentela, convocada a un consejo especial, no hizo sino aumentar el desconcierto. Al fin, don Fernando decidió hacer una encuesta en los principales hoteles y restaurantes de la ciudad y así pudo enterarse de que existían manjares presidenciales y vinos preciosos que fue necesario encargar por avión a las viñas del mediodía.

Cuando todos estos detalles quedaron ultimados, don Fernando constató con cierta angustia que en ese banquete, al cual asistirían ciento cincuenta personas, cuarenta mozos de servicio, dos orquestas, un cuerpo de ballet y un operador de cine, había invertido toda su fortuna. Pero, al fin de cuentas, todo dispendio le parecía pequeño para los enormes beneficios que obtendría de esta recepción.

-Con una embajada en Europa y un ferrocarril a mis tierras de la montaña rehacemos nuestra fortuna en menos de lo que canta un gallo (decía a su mujer). Yo no pido más. Soy un hombre modesto.

-Falta saber si el presidente vendrá (replicaba su mujer).

En efecto, había omitido hasta el momento hacer efectiva su invitación.

Le bastaba saber que era pariente del presidente (con uno de esos parentescos serranos tan vagos como indemostrables y que, por lo general, nunca se esclarecen por el temor de encontrar adulterino) para estar plenamente seguro que aceptaría. Sin embargo, para mayor seguridad, aprovechó su primera visita a palacio para conducir al presidente a un rincón y comunicarle humildemente su proyecto.

-Encantado (le contestó el presidente). Me parece una magnifica idea. Pero por el momento me encuentro muy ocupado. Le confirmaré por escrito mi aceptación.

Don Fernando se puso a esperar la confirmación. Para combatir su impaciencia, ordenó algunas reformas complementarias que le dieron a su mansión un aspecto de un palacio afectado para alguna solemne mascarada. Su última idea fue ordenar la ejecución de un retrato del presidente (que un pintor copió de una fotografía) y que él hizo colocar en la parte más visible de su salón.

Al cabo de cuatro semanas, la confirmación llegó. Don Fernando, quien empezaba a inquietarse por la tardanza, tuvo la más grande alegría de su vida.

Aquel fue un día de fiesta, salió con su mujer al balcón par contemplar su jardín iluminado y cerrar con un sueño bucólico esa memorable jornada. El paisaje, sin embargo, parecía haber perdido sus propiedades sensibles, pues donde quiera que pusiera los ojos, don Fernando se veía a sí mismo, se veía en chaqué, en tarro, fumando puros, con una decoración de fondo donde (como en ciertos afiches turísticos) se confundían lo monumentos de las cuatro ciudades más importantes de Europa. Más lejos, en un ángulo de su quimera, veía un ferrocarril regresando de la floresta con su vagones cargados de oro. Y por todo sitio, movediza y transparente como una alegoría de la sensualidad, veía una figura femenina que tenía las piernas de un cocote, el sombrero de una marquesa, los ojos de un tahitiana y absolutamente nada de su mujer.

El día del banquete, los primeros en llegar fueron los soplones. Desde las cinco de la tarde estaban apostados en la esquina, esforzándose por guardar un incógnito que traicionaban sus sombreros, sus modales exageradamente distraídos y sobre todo ese terrible aire de delincuencia que adquieren a menudo los investigadores, los agentes secretos y en general todos los que desempeñan oficios clandestinos.

Luego fueron llegando los automóviles. De su interior descendían ministros, parlamentarios, diplomáticos, hombre de negocios, hombre inteligentes. Un portero les abría la verja, un ujier los anunciaba, un valet recibía sus prendas, y don Fernando, en medio del vestíbulo, les estrechaba la mano, murmurando frases corteses y conmovidas.

Cuando todos los burgueses del vecindario se habían arremolinado delante de la mansión y la gente de los conventillos se hacía una fiesta de fasto tan inesperado, llegó el presidente. Escoltado por sus edecanes, penetró en la casa y don Fernando, olvidándose de las reglas de la etiqueta, movido por un impulso de compadre, se le echó en los brazos con tanta simpatía que le dañó una de sus charreteras.

Repartidos por los salones, los pasillos, la terraza y el jardín, los invitados se bebieron discretamente, entre chistes y epigramas, los cuarenta cajones de whisky. Luego se acomodaron en las mesas que les estaban reservadas (la más grande, decorada con orquídeas, fue ocupada por el presidente y los hombre ejemplares) y se comenzó a comer y a charlar ruidosamente mientras la orquesta, en un ángulo del salón, trataba de imponer inútilmente un aire vienés.

A mitad del banquete, cuando los vinos blancos del Rin habían sido honrados y los tintos del Mediterráneo comenzaban a llenar las copas, se inició la ronda de discursos. La llegada del faisán los interrumpió y sólo al final, servido el champán, regresó la elocuencia y los panegíricos se prolongaron hasta el café, para ahogarse definitivamente en las copas del coñac.

Don Fernando, mientras tanto, veía con inquietud que el banquete, pleno de salud ya, seguía sus propias leyes, sin que él hubiera tenido ocasión de hacerle al presidente sus confidencias. A pesar de haberse sentado, contra las reglas del protocolo, a la izquierda del agasajado, no encontraba el instante propicio para hacer un aparte. Para colmo, terminado el servicio, los comensales se levantaron para formar grupos amodorrados y digestónicos y él, en su papel de anfitrión, se vio obligado a correr de grupos en grupo para reanimarlos con copas de mentas, palmaditas, puros y paradojas.

Al fin, cerca de medianoche, cuando ya el ministro de gobierno, ebrio, se había visto forzado a una aparatosa retirada, don Fernando logró conducir al presidente a la salida de música y allí, sentados en uno de esos canapés, que en la corte de Versalles servían para declararse a una princesa o para desbaratar una coalición, le deslizó al oído su modesta.

-Pero no faltaba más (replicó el presidente). Justamente queda vacante en estos días la embajada de Roma. Mañana, en consejo de ministros, propondré su nombramiento, es decir, lo impondré. Y en lo que se refiere al ferrocarril sé que hay en diputados una comisión que hace meses discute ese proyecto. Pasado mañana citaré a mi despacho a todos sus miembros y a usted también, para que resuelvan el asunto en la forma que más convenga.

Una hora después el presidente se retiraba, luego de haber reiterado sus promesas. Lo siguieron sus ministros, el congreso, etc., en el orden preestablecido por los usos y costumbres. A las dos de la mañana quedaban todavía merodeando por el bar algunos cortesanos que no ostentaban ningún título y que esperaban aún el descorchamiento de alguna botella o la ocasión de llevarse a hurtadillas un cenicero de plata. Solamente a las tres de la mañana quedaron solos don Fernando y su mujer. Cambiando impresiones, haciendo auspiciosos proyectos, permanecieron hasta el alba entre los despojos de su inmenso festín. Por último se fueron a dormir con el convencimiento de que nunca caballero limeño había tirado con más gloria su casa por la ventana ni arriesgado su fortuna con tanta sagacidad.

A las doce del día, don Fernando fue despertado por los gritos de su mujer. Al abrir los ojos le vio penetrar en el dormitorio con un periódico abierto entre las manos. Arrebatándoselo, leyó los titulares y, sin proferir una exclamación, se desvaneció sobre la cama. En la madrugada, aprovechándose de la recepción, un ministro había dado un golpe de estado y el presidente había sido obligado a dimitir.

FIN

Julio Ramón Ribeyro, Peru

Biblioteca Digital Ciudad Seva


Uma mensagem imperial



 – Franz Kafka

O imperador – assim dizem – enviou a ti, súdito solitário e lastimável, sombra ínfima ante o sol imperial, refugiada na mais remota distância, justamente a ti o imperador enviou, do leito de morte, uma mensagem. Fez ajoelhar-se o mensageiro ao pé da cama e sussurrou-lhe a mensagem no ouvido; tão importante lhe parecia, que mandou repeti-la em seu próprio ouvido. Assentindo com a cabeça, confirmou a exatidão das palavras. E, diante da turba reunida para assistir à sua morte – haviam derrubado todas as paredes impeditivas, e na escadaria em curva ampla e elevada, dispostos em círculo, estavam os grandes do império –, diante de todos, despachou o mensageiro. De pronto, este se pôs em marcha, homem vigoroso, incansável. Estendendo ora um braço, ora outro, abre passagem em meio à multidão; quando encontra obstáculo, aponta no peito a insígnia do sol; avança facilmente, como ninguém. Mas a multidão é enorme; suas moradas não têm fim. Fosse livre o terreno, como voaria, breve ouvirias na porta o golpe magnífico de seu punho.
     Mas, ao contrário, esforça-se inutilmente; comprime-se nos aposentos do palácio central; jamais conseguirá atravessá-los; e se conseguisse, de nada valeria; precisaria empenhar-se em descer as escadas; e se as vencesse, de nada valeria; teria que percorrer os pátios; e depois dos pátios, o segundo palácio circundante; e novamente escadas e pátios; e mais outro palácio; e assim por milênios; e quando finalmente escapasse pelo último portão – mas isto nunca, nunca poderia acontecer – chegaria apenas à capital, o centro do mundo, onde se acumula a prodigiosa escória. Ninguém consegue passar por aí, muito menos com a mensagem de um morto. Mas, sentado à janela, tu a imaginas, enquanto a noite cai.
-=-
(De "Um Médico Rural")

Um estranho em Goa


 José Eduardo Agualusa

Os jornalistas menos experientes costumam perguntar isto a quem escreve, para ganhar tempo, enquanto pensam no que vão perguntar em seguida. Há quem assuma, com ar trágico, que a literatura é um destino: "escrevo para não morrer". Outros fingem desvalorizar o próprio ofício: "escrevo porque não sei dançar". Finalmente existem aqueles, raros, que preferem dizer a verdade: "escrevo para que gostem de mim" (o português José Riço Direitinho), ou, "escrevo porque não tenho olhos verdes" (o brasileiro Lúcio Cardoso). Podia ter respondido alguma coisa deste gênero mas decidi pensar um pouco, como se a pergunta fosse séria, e para minha própria surpresa encontrei um bom motivo: "Escrevo porque quero saber o fim". Começo uma história e depois continuo a escrever porque tenho de saber como termina.



Vista cansada


Otto Lara Resende

Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa idéia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou.

Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.

Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.

Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.

Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.

(Texto publicado no jornal “Folha de S. Paulo”, edição de 23 de fevereiro de 1992)


Viejo oficio



Cesare Pavese

En aquellos tiempos estaba ocupadísimo y vivía con los carreteros. La cabeza me resuena aún con las gruesas voces de mando y el chirrido de los frenos. Nuestro punto de reunión estaba en el patio, bajo el zaguán de cierta ventana que, las noches de partida, era un antro de faroles y de voces iracundas como latigazos. Criadas y mozos que nos daban la salida ansiaban vernos en camino, porque entonces podrían pararse en el umbral a respirar: el restallido de nuestras trallas era su liberación.

También para nosotros el latigazo largo, asestado fuera del zaguán al flanco de los caballos, era la señal de que comenzaban la conducción y la noche. Con las primeras sombras nos hacíamos compañía, si había estrellas, de dos en dos o de tres en tres por el arcén de la carretera, sin perder de vista al caballo de cabeza y las bifurcaciones, porque la caravana marcha como un tren y todo estriba en que esté bien encaminada. Después empezaban a rezagarse los más viejos y a montar en los distintos carros; nosotros, los jóvenes, siempre teníamos alguna conversación que terminar y un último pitillo que pedir.

Pero también al final saltábamos sobre los sacos y comenzaba el duermevela.

Cuántas noches pasé así acurrucado sobre los sacos, bamboleándose ante mis ojos el farol que en el sopor no distinguía ya si iba colgado del carro anterior o si acaso era el mío. Uno se sentía transportar, sentía todo el carro y el caballo moverse y estirarse debajo; ciertos tramos de la carretera los reconocía por los tumbos. Según que el carro pasase bajo una ladera, o entre un campo delante de un porche, de una tapia, o sobre un puente, el eco del estrépito de las ruedas variaba: era una voz que hacía más compañía que los cascabeles que los caballos agitaban meneando la cabeza. Era una voz que, apenas el frío del alba nos despertaba, volvía a dejarse oír incesante, mudada según el camino recorrido, y antes aún de que un vistazo al campo o a las casas nos dijese dónde estábamos nos sosegaba con su monotonía. Tumbado sobre los sacos, cada uno de nosotros escuchaba solo su carro pero adivinaba en los diversos chirridos que lo acompañaban la presencia de otros, y en ciertos momentos que en el campo todo callaba, uno alzaba la cabeza del saco y quedaba en suspenso hasta que veía un farol bambolearse a ras del suelo, o un tintineo y el estrépito de las otras ruedas sobre el polvo llegaba a tranquilizarlo.

Con tanto camino como hice en aquellos años, dormí casi siempre. Dormí de noche y dormí de día, bajo el sol, bajo la lluvia, aovillado o sentado. Los viejos conductores dicen que de joven se duerme muy a gusto en el carro porque uno es fuerte y sano y cede al sueño. A mí me gustaba viajar en caravana porque siempre había algún viejo que velaba y se ocupaba de la ruta. ¿Había algo más hermoso que despertar antes del día a la vista de un poblado sin tener tiempo ni para estirarse, y ya los carros se paraban y bajábamos a tomar un trago y comer un bocado? Mientras tanto estaba clareando, y en la posada parecían saberlo: abrían de par en par los postigos de madera y se asomaban las mujeres, desperezándose y llamando a los mozos. Según quienes fuéramos en la conducción, nos sentábamos todos a una gran mesa o se cargaba de ajo o de anchoas la hogaza y nos íbamos enseguida. Lo uno y lo otro tenían su gracia. Pero está claro que detenerse era mejor; tanto más cuanto que delante de la posada nos esperaban otros carros que ya habían mandado encender el fuego. Entonces se comía fuerte, sentados en torno a la mesa, echando cada cual su cuarto a espadas; se hacían paradas de media hora, íbamos y veníamos por el patio a dar el heno y a abrevar; las mozas de la posada venían al peldaño a contarnos cosas. Entonces sí que daba gusto haber dormido: entraban ganas de cantar (los otros cantan de noche, nosotros cantábamos por la mañana).

Los viejos dicen que todo gusta en aquellos años porque se es joven, pero yo, que he hecho bastantes oficios, estoy seguro de que nada es más hermoso que una conducción bien pagada. Las carreteras, las posadas, los caballos y el campo parecían colocados allí solo para nosotros. Aquel comer apenas rayaba el día, antes de que los demás estuvieran en pie, tras una noche de camino, era una gran cosa, y ahora que ya no llevo esa vida se necesita mucho más que el canto del gallo para que me levante con tanta ansia de comer, de andar y de charlar como tenía entonces. Es cierto que ahora peino canas, pero si el mundo fuera el de antaño y yo pudiera disponer de mí, sabría a qué carro montar y llegar despuntando el día a la posada, despertarlos a todos y hacer una parada. Si hay todavía posadas y paradas.

Pero ya deben de haber muerto incluso los caballos. Hace tiempo que no veo por los caminos los tiros reforzados de antaño. Ahora, por la noche, cuando tampoco yo cojo el sueño, puedo aguzar el oído cuanto quiera, y sin embargo nunca me ocurre oír rodar una conducción y aproximarse los caballos y gritar a un carretero. Ahora de noche se oyen pasar los automóviles, y las mercancías las expiden por tren: llegarán más pronto, pero ya no es un oficio. Acabará por crecer la hierba en los caminos, y las posadas cerrarán.

FIN

“Vecchio mestiere”, 1941

Biblioteca Digital Ciudad Seva

El velo negro



Charles Dickens

Una velada de invierno, quizá a fines de otoño de 1800, o tal vez uno o dos años después de aquella fecha, un joven cirujano se hallaba en su despacho, escuchando el murmullo del viento que agitaba la lluvia contra la ventana, silbando sordamente en la chimenea. La noche era húmeda y fría; y como él había caminado durante todo el día por el barro y el agua, ahora descansaba confortablemente, en bata, medio dormido, y pensando en mil cosas. Primero en cómo el viento soplaba y de qué manera la lluvia le azotaría el rostro si no estuviese instalado en su casa.

Sus pensamientos luego cayeron sobre la visita que hacía todos los años para Navidad a su tierra y a sus amistades e imaginaba que sería muy grato volver a verlas y en la alegría que sentiría Rosa si él pudiera decirle que, al fin, había encontrado un paciente y esperaba encontrar más, y regresar dentro de unos meses para casarse con ella. Empezó a hacer cálculos sobre cuándo aparecería este primer paciente o si, por especial designio de la Providencia, estaría destinado a no tener ninguno. Volvió a pensar en Rosa y le dio sueño y la soñó, hasta que el dulce sonido de su voz resonó en sus oídos y su mano, delicada y suave, se apoyó sobre su espalda.

En efecto, una mano se había apoyado sobre su espalda, pero no era suave ni delicada; su propietario era un muchacho corpulento, el cual por un chelín semanal y la comida había sido empleado en la parroquia para repartir medicinas. Como no había demanda de medicamentos ni necesidad de recados, acostumbraba ocupar sus horas ociosas -unas catorce por día- en substraer pastillas de menta, tomarlas y dormirse.

-¡Una señora, señor, una señora! -exclamó el muchacho, sacudiendo a su amo.

-¿Qué señora? -exclamó nuestro amigo, medio dormido-. ¿Qué señora? ¿Dónde?

-¡Aquí! -repitió el muchacho, señalando la puerta de cristales que conducía al gabinete del cirujano, con una expresión de alarma que podría atribuirse a la insólita aparición de un cliente.

El cirujano miró y se estremeció también a causa del aspecto de la inesperada visita. Se trataba de una mujer de singular estatura, vestida de riguroso luto y que estaba tan cerca de la puerta que su cara casi tocaba el cristal. La parte superior de su figura se hallaba cuidadosamente envuelta en un chal negro, y llevaba la cara cubierta con un velo negro y espeso. Estaba de pie, erguida; su figura se mostraba en toda su altura, y aunque el cirujano sintió que unos ojos bajo el velo se fijaban en él, ella no se movía para nada ni mostraba darse cuenta de que la estaban observando.

-¿Viene para una consulta? -preguntó el cirujano titubeando y entreabriendo la puerta. No por eso se alteró la posición de la figura, que seguía siempre inmóvil.

Ella inclinó la cabeza en señal de afirmación.

-Pase, por favor -dijo el cirujano.

La figura dio un paso; luego, volviéndose hacia donde estaba el muchacho, el cual sintió un profundo horror, pareció dudar.

-Márchate, Tom -dijo al muchacho, cuyos ojos grandes y redondos habían permanecido abiertos durante la breve entrevista-. Corre la cortina y cierra la puerta.

El muchacho corrió una cortina verde sobre el cristal de la puerta, se retiró al gabinete, cerró la puerta e inmediatamente miró por la cerradura. El cirujano acercó una silla al fuego e invitó a su visitante a que se sentase. La figura misteriosa se adelantó hacia la silla, y cuando el fuego iluminó su traje negro el cirujano observó que estaba manchado de barro y empapado de agua.

-¿Se ha mojado mucho? -le preguntó.

-Sí -respondió ella con una voz baja y profunda.

-¿Se siente mal? -inquirió el cirujano, compasivamente, ya que su acento era el de una persona que sufre.

-Sí, bastante. No del cuerpo, pero sí moralmente. Aunque no es por mí que he venido. Si yo estuviese enferma no andaría a estas horas y en una noche como esta, y, si dentro de veinticuatro horas me ocurriese lo que me ocurre, Dios sabe con qué alegría guardaría cama y desearía morirme. Es para otro que solicito su ayuda, señor. Puede que esté loca al rogarle por él. Pero una noche tras otra, durante horas terribles velando y llorando, este pensamiento se ha ido apoderando de mí; y aunque me doy cuenta de lo inútil que es para él toda asistencia humana, ¡el solo pensamiento de que puede morirse me hiela la sangre!

Había tal desesperación en la expresión de esta mujer que el joven cirujano, poco curtido en las miserias de la vida, en esas miserias que suelen ofrecerse a los médicos, se impresionó profundamente.

-Si la persona que usted dice -exclamó, levantándose- se halla en la situación desesperada que usted describe, no hay que perder un momento. ¿Por qué no consultó usted antes al médico?

-Porque hubiera sido inútil y todavía lo es -repuso la mujer, cruzando las manos.

El cirujano contempló por un momento su velo negro, como para cerciorarse de la expresión de sus facciones; pero era tan espeso que le fue imposible saberlo.

-Se encuentra usted enferma -dijo amablemente-. La fiebre, que le ha hecho soportar, sin darse cuenta, la fatiga que evidentemente sufre usted, arde ahora dentro. Llévese esa copa a los labios -prosiguió, ofreciéndole un vaso de agua- y luego explíqueme, con cuanta calma le sea posible, cuál es la dolencia que aqueja al paciente, y cuánto tiempo hace que está enfermo. Cuando conozca los detalles para que mi visita le sea útil, iré inmediatamente con usted.

La desconocida llevó el vaso a sus labios sin levantar el velo; sin embargo, lo dejó sin haberlo probado y rompió en llanto.

-Sé -dijo sollozando- que lo que digo parece un delirio febril. Ya me lo han dicho, aunque sin la amabilidad de usted. No soy una mujer joven; y, se dice, que cuando la vida se dirige hacia su final, la escasa vida que nos queda nos es más querida que todos los tiempos anteriores, ligados al recuerdo de viejos amigos, muertos hace años, de jóvenes, niños quizá, que han desaparecido y la han olvidado a una por completo, como si una estuviese muerta. No puedo vivir ya muchos años; así es que, bajo este aspecto, tiene que resultarme la vida más querida; aunque la abandonaría sin un suspiro y hasta con alegría si lo que ahora le cuento fuese falso. Mañana por la mañana, aquel de quien hablo se hallará fuera de todo socorro; y, a pesar de ello, esta noche, aunque se encuentre en un terrible peligro, usted no puede visitarle ni servirle de ninguna manera.

-No quisiera aumentar sus penas -dijo el cirujano tras una pausa-. No deseo comentar lo que me acaba de decir ni quiero dar la impresión de que deseo investigar lo que usted oculta con tanta ansiedad. Pero hay en su relato una inconsistencia que no puedo conciliar. La persona está muriéndose esta noche, pero usted dice que no puedo verla. En cambio, usted teme que mañana sea inútil, sin embargo ¡quiere que entonces lo vea! Si él le es tan querido como las palabras y la actitud de usted me indican, ¿por qué no intentar salvar su vida sin tardanza antes de que el avance de su enfermedad haga la intención impracticable?

-¡Dios me asista! -exclamó la mujer, llorando-. ¿Cómo puedo esperar que un extraño crea lo increíble? Entonces, ¿usted se niega a verlo mañana, señor? -añadió levantándose vivamente.

-Yo no digo que me niegue -replicó el cirujano-. Pero le advierto que, de persistir en tan extraordinaria demora, incurrirá en una terrible responsabilidad si el individuo se muere.

-La responsabilidad será siempre grave -replicó la desconocida en tono amargo-. Cualquier responsabilidad que sobre mí recaiga, la acepto y estoy pronta a responder de ella.

-Como yo no incurro en ninguna -agregó el cirujano-, accedo a la petición de usted. Veré al paciente mañana, si usted me deja sus señas. ¿A qué hora se le puede visitar?

-A las nueve -replicó la desconocida.

-Usted excusará mi insistencia en este asunto -dijo el cirujano-. Pero ¿está él a su cuidado?

-No, señor.

-Entonces, si le doy instrucciones para el tratamiento durante esta noche, ¿podría usted cumplirlas?

La mujer lloró amargamente y replicó:

-No; no podría.

Como no había esperanzas de obtener más informes con la entrevista y deseoso, por otra parte, de no herir los sentimientos de la mujer, que ya se habían convertido en irreprimibles y penosísimos de contemplar, el cirujano repitió su promesa de acudir a la mañana. Su visitante, después de darle la dirección, abandonó la casa de la misma forma misteriosa que había entrado.

Es de suponer que tan extraordinaria visita produjo una gran impresión en el cirujano, y que este meditó por largo tiempo, aunque con escaso provecho, sobre todas las circunstancias del caso. Como casi todo el mundo, había leído y oído hablar a menudo de casos raros, en los que el presentimiento de la muerte a una hora determinada había sido concebido. Por un momento se inclinó a pensar que el caso era uno de estos; pero entonces se le ocurrió que todas las anécdotas de esta clase que había oído se referían a personas que fueron asaltadas por un presentimiento de su propia muerte. Esta mujer, sin embargo, habló de un hombre; y no era posible suponer que un mero sueño le hubiese inducido a hablar de aquel próximo fallecimiento en una forma tan terrible y con la seguridad con que se había expresado.

¿Sería acaso que el hombre tenía que ser asesinado a la mañana siguiente, y que la mujer, cómplice de él y ligada a él por un secreto, se arrepentía y, aunque imposibilitada para impedir cualquier atentado contra la víctima, se había decidido a prevenir su muerte, si era posible, haciendo intervenir a tiempo al médico? La idea de que tales cosas ocurrieran a dos millas de la ciudad le parecía absurda. Ahora bien, su primera impresión, esto es, de que la mente de la mujer se hallaba desordenada, acudía otra vez; y como era el único modo de resolver el problema, se aferró a la idea de que aquella mujer estaba loca. Ciertas dudas acerca de este punto, no obstante, le asaltaron durante una pesada noche sin sueño, en el transcurso de la cual, y a despecho de todos sus esfuerzos, no pudo expulsar de su imaginación perturbada aquel velo negro.

La parte más lejana de Walworth, aun hoy, es un sitio aislado y miserable. Pero hace treinta y cinco años era casi en su totalidad un descampado habitado por gente diseminada y de carácter dudoso, cuya pobreza les prohibía aspirar a un mejor vecindario, o bien cuyas ocupaciones y maneras de vivir hacían esta soledad deseable. Muchas de las casas que allí se construyeron no lo fueron sino en años posteriores; y la mayoría de las que entonces existían, esparcidas aquí y allá, eran del más tosco y miserable aspecto.

La apariencia de los lugares por donde el joven cirujano pasó a la mañana siguiente, no levantaron su ánimo ni disiparon su ansiedad. Saliendo del camino, tenía que cruzar por el yermo fangoso, por irregulares callejuelas. Algún infortunado árbol y algún hoyo de agua estancada, sucio de lodo por la lluvia, orillaban el camino. Y a intervalos, un raquítico jardín, con algunos tableros viejos sacados de alguna casa de verano, y una vieja empalizada arreglada con estacas robadas de los setos vecinos, daban testimonio de la pobreza de sus habitantes y de los escasos escrúpulos que tenían para apropiarse de lo ajeno. En ocasiones, una mujer de aspecto enfermizo aparecía a la puerta de una sucia casa, para vaciar el contenido de algún utensilio de cocina en la alcantarilla de enfrente, o para gritarle a una muchacha en chancletas que había proyectado escaparse, con paso vacilante, con un niño pálido, casi tan grande como ella. Pero apenas si se movía nada por aquellos alrededores. Y todo el panorama ofrecía un aspecto solitario y tenebroso, de acuerdo con los objetos que hemos descrito.

Después de afanarse a través del barro; de realizar varias pesquisas acerca del lugar que se le había indicado, recibiendo otras tantas respuestas contradictorias, el joven llegó al fin a la casa. Era baja, de aspecto desolado. Una vieja cortina amarilla ocultaba una puerta de cristales al final de unos peldaños, y los postigos estaban entornados. La casa se hallaba separada de las demás y, como estaba en un rincón de una corta callejuela, no se veía otra por los alrededores.

Si decimos que el cirujano dudaba y que anduvo unos pasos más allá de la casa antes de dominarse y levantar el llamador de la puerta, no diremos nada que tenga que provocar la sonrisa en el rostro del lector más audaz. La policía de Londres, por aquel tiempo, era un cuerpo muy diferente del de hoy día; la situación aislada de los suburbios, cuando la fiebre de la construcción y las mejoras urbanas no habían empezado a unirlos a la ciudad y sus alrededores, convertían a varios de ellos, y a este en particular, en un sitio de refugio para los individuos más depravados.

Aun las calles de la parte más alegre de Londres se hallaban entonces mal iluminadas. Los lugares como el que describimos estaban abandonados a la luna y las estrellas. Las probabilidades de descubrir a los personajes desesperados, o de seguirles el rastro hasta sus madrigueras, eran así muy escasas y, por tanto, sus audacias crecían; y la conciencia de una impunidad cada vez se hacía mayor por la experiencia cotidiana. Añádanse a estas consideraciones que el joven cirujano había pasado algún tiempo en los hospitales de Londres; y, si bien ni un Burke ni un Bishop habían alcanzado todavía su gran notoriedad, sabía, por propia observación, cuán fácilmente las atrocidades pueden ser cometidas. Sea como fuere, cualquiera que fuese la reflexión que le hiciera dudar, lo cierto es que dudó; pero siendo un hombre joven, de espíritu fuerte y de gran valor personal, sólo titubeó un instante. Volvió atrás y llamó con suavidad a la puerta.

Enseguida se oyó un susurro, como si una persona, al final del pasillo, conversase con alguien del rellano de la escalera, más arriba. Después se oyó el ruido de dos pesadas botas y la cadena de la puerta fue levantada con suavidad. Allí vio a un hombre alto, de mala facha, con el pelo negro y una cara tan pálida y desencajada como la de un muerto; se presentó, diciendo en voz baja:

-Entre, señor.

El cirujano lo hizo así, y el hombre, después de haber colocado otra vez la cadena, le condujo hasta una pequeña sala interior, al final del pasillo.

-¿He llegado a tiempo?

-Demasiado temprano -replicó el hombre.

El cirujano miró a su alrededor, con un gesto de asombro.

-Si quiere usted entrar aquí -dijo el hombre que, evidentemente, se había dado cuenta de la situación-, no tardará ni siquiera cinco minutos, se lo aseguro.

El cirujano entró en la habitación; el hombre cerró la puerta y lo dejó solo. Era un cuarto pequeño, sin otros muebles que dos sillas de pino y una mesa del mismo material. Un débil fuego ardía en el brasero; fuego inútil para la humedad de las paredes. La ventana, rota y con parches en muchos sitios, daba a una pequeña habitación con suelo de tierra y casi toda cubierta de agua. No se oían ruidos, ni dentro ni fuera. El joven doctor tomó asiento cerca del fuego, en espera del resultado de su primera visita profesional.

No habían transcurrido muchos minutos cuando percibió el ruido de un coche que se aproximaba y poco después se detenía. Abrieron la puerta de la calle, oyó luego una conversación en voz baja, acompañada de un ruido confuso de pisadas por el corredor y las escaleras, como si dos o tres hombres llevasen algún cuerpo pesado al piso de arriba. El crujir de los escalones, momentos después, indicó que los recién llegados, habiendo acabado su tarea, cualquiera que fuese, abandonaban la casa. La puerta se cerró de nuevo y volvió a reinar el silencio.

Pasaron otros cinco minutos y ya el cirujano se disponía a explorar la casa en busca de alguien, cuando se abrió la puerta del cuarto y su visitante de la pasada noche, vestida exactamente como en aquella ocasión, con el velo bajado como entonces, le invitó por señas a que le siguiera. Su gran estatura, añadida a la circunstancia de no pronunciar una palabra, hizo que por un momento pasara por su imaginación la idea de que podría tratarse de un hombre disfrazado de mujer. Sin embargo, los histéricos sollozos que salían de debajo del velo y su actitud de pena, hacían desechar esta sospecha; y él la siguió sin vacilar.

La mujer subió la escalera y se detuvo en la puerta de la habitación para dejarle entrar primero. Apenas si estaba amueblada con una vieja arca de pino, unas pocas sillas y un armazón de cama con dosel, sin colgaduras, cubierta con una colcha remendada. La luz mortecina que dejaba pasar la cortina que él había visto desde fuera, hacía que los objetos de la habitación se distinguieran confusamente, hasta el punto de no poder percibir aquello sobre lo cual sus ojos reposaron al principio. En esto, la mujer se adelantó y se puso de rodillas al lado de la cama.

Tendida sobre esta, muy acurrucada en una sábana cubierta con unas mantas, una forma humana yacía sobre el lecho, rígida e inmóvil. La cabeza y la cara se hallaban descubiertas, excepto una venda que le pasaba por la cabeza y por debajo de la barbilla. Tenía los ojos cerrados. El brazo izquierdo estaba extendido pesadamente sobre la cama. La mujer le tomó una mano. El cirujano, rápido, apartó a la mujer y tomó esta mano.

-¡Dios mío! -exclamó, dejándola caer involuntariamente-. ¡Este hombre está muerto!

La mujer se puso en pie vivamente y estrechó sus manos.

-¡Oh, señor, no diga eso! -exclamó con un estallido de pasión cercano a la locura-. ¡Oh, señor, no diga eso; no podría soportarlo! Algunos han podido volver a la vida cuando los daban por muerto. ¡No le deje, señor, sin hacer un esfuerzo para salvarlo! En estos instantes la vida huye de él. ¡Inténtelo, señor, por todos los santos del cielo! -y hablando así frotaba la frente y el pecho de aquel cuerpo sin vida; y enseguida golpeaba con frenesí las frías manos que, al dejar de retenerlas, volvieron a caer, indiferentes y pesadas, sobre la colcha.

-Esto no servirá de nada, buena mujer -dijo el cirujano suavemente, mientras le apartaba la mano del pecho de aquel hombre-. ¡Descorra la cortina!

-¿Por qué? -preguntó la mujer, levantándose con sobresalto.

-¡Descorra la cortina! -repitió el cirujano con voz agitada.

-Oscurecí la habitación expresamente -dijo la mujer, poniéndose delante, mientras él se levantaba para hacerlo-. ¡Oh, señor, tenga compasión de mí! Si no tiene remedio; si está realmente muerto, ¡no exponga su cuerpo a otros ojos que los míos!

-Este hombre no ha muerto de muerte natural -observó el cirujano-. Es preciso ver su cuerpo.

Y con vivo ademán, tanto que la mujer apenas se dio cuenta de que se había alejado, abrió la cortina de par en par, y, a plena luz, regresó al lado de la cama.

-Ha habido violencia -dijo, señalando al cuerpo y examinando atentamente el rostro de la mujer, cuyo velo negro, por primera vez, se hallaba subido. En la excitación anterior se había quitado la cofia y el velo y ahora se encontraba delante de él, de pie, mirándole fijamente. Sus facciones eran las de una mujer de unos cincuenta años, y demostraban haber sido guapa. Penas y lágrimas habían dejado en ella un rastro que los años, por sí solos, no hubieran podido dejar. Tenía la cara muy pálida. Y el temblor nervioso de sus labios y el fuego de su mirada demostraban que todas sus fuerzas físicas y morales se hallaban anonadadas bajo un cúmulo de miserias.

-Aquí ha habido violencia -repitió el cirujano, evitando aquella mirada.

-¡Sí, violencia! -repitió la mujer.

-Ha sido asesinado.

-Pongo a Dios por testigo de que lo ha sido -exclamó la mujer con convicción-. ¡Cruel, inhumanamente asesinado!

-¿Por quién? -dijo el cirujano, aferrando por los brazos a la mujer.

-Mire las señales de sus carniceros y luego pregúnteme -replicó ella.

El cirujano volvió el rostro hacia la cama y se inclinó sobre el cuerpo que ahora yacía iluminado por la luz de la ventana. El cuello estaba hinchado, con una señal rojiza a su alrededor. Como un relámpago, se le presentó la verdad.

-¡Es uno de los hombres que han sido ahorcados esta mañana! -exclamó volviéndose con un estremecimiento.

-¡Es él! -replicó la mujer con una mirada extraviada e inexpresiva.

-¿Quién era?

-Mi hijo -añadió la mujer, cayendo a sus pies sin sentido.

Era verdad. Un cómplice, tan culpable como él mismo, había sido absuelto, mientras a él lo condenaron y ejecutaron. Referir las circunstancias del caso, ya lejano, es innecesario y podría lastimar a personas que aún viven. Era una historia como las que ocurren a diario. La mujer era una viuda sin relaciones ni dinero, que se había privado de todo para dárselo a su hijo. Este, despreciando los ruegos de su madre, y sin acordarse de los sacrificios que ella había hecho por él, se había hundido en la disipación y el crimen. El resultado era este; la muerte, por la mano del verdugo, y para su madre la vergüenza y una locura incurable.

Durante varios años, el joven cirujano visitó diariamente a la pobre loca. Y no sólo para calmarla con su presencia, sino para velar, con mano generosa, por su comodidad y sustento. En el destello fugaz de su memoria que precedió a la muerte de la desdichada, un ruego por el bienestar y dicha de su protector salió de los labios de la pobre criatura desamparada. La oración voló al cielo, donde fue oída y la limosna que él dio le ha sido mil veces devuelta; pero entre los honores y las satisfacciones que merecidamente ha tenido no conserva recuerdo más grato a su corazón que el de la historia de la mujer del velo negro.

FIN