José Eduardo Agualusa
Os jornalistas menos experientes costumam perguntar isto a
quem escreve, para ganhar tempo, enquanto pensam no que vão perguntar em
seguida. Há quem assuma, com ar trágico, que a literatura é um destino:
"escrevo para não morrer". Outros fingem desvalorizar o próprio
ofício: "escrevo porque não sei dançar". Finalmente existem aqueles,
raros, que preferem dizer a verdade: "escrevo para que gostem de mim"
(o português José Riço Direitinho), ou, "escrevo porque não tenho olhos
verdes" (o brasileiro Lúcio Cardoso). Podia ter respondido alguma coisa
deste gênero mas decidi pensar um pouco, como se a pergunta fosse séria, e para
minha própria surpresa encontrei um bom motivo: "Escrevo porque quero
saber o fim". Começo uma história e depois continuo a escrever porque
tenho de saber como termina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário